Segundo reportagem de Mauro Zanatta, publicada hoje no Valor Online, o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, fixou em US$ 2,3 bilhões a meta de exportação do complexo carnes para este ano. Em 2000, os embarques renderam US$ 1,95 bilhão entre carnes de frango, bovina e suína. Auxiliadas pela recuperação econômica da Ásia e pela doença da “vaca louca”, que prejudicou as vendas do produto europeu, as exportações podem ter impulso com a declaração de cinco Estados do Circuito Pecuário Leste como áreas livres de febre aftosa com vacinação, anunciada ontem. “O ano 2000 foi muito difícil com as retrações econômicas. Mas há uma expectativa de retomada”, afirmou Pratini.
Juntos, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e parte de Minas Gerais credenciam um rebanho bovino de 21 milhões de cabeças para a exportação. Mato Grosso do Sul, Tocantins, além de partes de Goiás, Mato Grosso e São Paulo, também foram declarados livres. Pratini informou, ainda, que até 2005 todo o rebanho comercial brasileiro, estimado em 159,3 milhões de cabeças, estará livre da doença. Em dois anos, as áreas com vacinação serão declaradas livres sem vacinação. A zona livre passou a ter 130 milhões de cabeças – o equivalente a 80% do rebanho nacional.
Com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, do vice Marco Maciel e de vários governadores, o ministro anunciou, também, um plano de combate à brucelose e tuberculose, além da declaração de 22,6 milhões de cabeças de suínos das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e dos Estados da Bahia e Sergipe como livres da peste suína clássica. “Não podemos pensar que nosso crescimento econômico depende apenas da indústria. A agricultura é “agrobusiness” e agrega valor com sofisticação”, disse o presidente Fernando Henrique. A área livre de peste suína clássica abrange 13 Estados brasileiros e 87% do rebanho suíno nacional. As exportações de suínos significam, porém, só 7% da produção nacional, de 1,89 milhão de toneladas.
O presidente afirmou ainda que o país deu um “salto de qualidade” na produção de carnes. “Não se trata de uma atividade primária, como ainda qualificada nos textos. É altamente agregadora de valor com chances extraordinárias para competir”.
fonte: Valor Online
Na semana passada, o Ministério da Agricultura enviou à Organização Internacional de Epizootias (OIE) o relatório técnico informando a situação sanitária dos rebanhos bovinos do Circuito Leste, onde não houve indícios de aftosa nos últimos dois anos. No dia 22 de maio, uma comissão técnica da OIE deve se reunir para chancelar a certificação do Circuito Leste como livre de aftosa. Só a partir de então poderão ser alteradas as regras para o trânsito de animais do circuito, dos Estados de Mato Grosso do Sul e Tocantins e das zonas-tampão de São Paulo, Goiás e Mato Grosso.
O ministro Pratini de Moraes informou também que foram gastos US$ 943 milhões no programa de controle de aftosa entre 1995 e 2000. Desse total, US$ 655 milhões foram desembolsados pelo setor privado.
Governo esquece iniciativa privada
O anúncio da ampliação nas áreas livres de febre aftosa no país causou um constrangimento pessoal ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Excluídos da mesa na solenidade ocorrida ontem na sede da Embrapa, os pecuaristas ligados à Confederação Nacional da Agricultura (CNA) ameaçaram não participar do almoço oferecido ao presidente e cobraram publicamente explicações pelo “esquecimento”. “Disse pessoalmente ao presidente que faltou um reconhecimento simbólico da nossa luta. Não podemos ser relegados a coadjuvantes sem face num processo com o qual tanto contribuímos”, reclamou o presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo. “Quase tomei o microfone das mãos do ministro para reparar essa injustiça.”
O setor privado desembolsou 70% dos US$ 943 milhões aplicados no combate à febre aftosa no país nos últimos cinco anos, segundo o ministro Pratini de Moraes. “Há uma idéia na burocracia desse setor do governo de que o setor privado não tem importância”, disse De Salvo.
No discurso do anúncio Pratini de Moraes referiu-se ao setor privado e agradeceu a “colaboração fundamental” dos pecuaristas. “Mas não houve menção nominal e tampouco um representante na mesa para marcar a importância do setor”, reclamou Antenor Nogueira, presidente da comissão nacional de pecuária de corte.
No anúncio, houve ainda um bate-boca entre Pratini e o secretário de Agricultura gaúcho, José Hermeto Hoffmann, por conta do fechamento da fronteira à carne da Argentina. O ministro considerou a atitude um “abuso de poder”. “Estão querendo fazer política. É caso para internação”, disse. “Eles não podem fechar a fronteira sem argumentos técnicos convincentes”, completou. Hoffmann bateu o pé e disse que só reabrirá a fronteira estadual se houver uma auditoria independente na Argentina. “Em 1998, fizeram essa mesma festa e hoje estamos envolvidos com os focos de Jóia”, disse.
Por Mauro Zanatta, para Valor Online, 11/01/01