Balizador de preços do boi gordo GPB/DATAGRO – Boletim de 10-janeiro-2023
11 de janeiro de 2023
Confinamento de gado nos EUA
Viagem técnica ao Texas, nos EUA: 6 motivos para participar
11 de janeiro de 2023

Planta da Masterboi reforça a expansão da pecuária em PE

A Masterboi é uma empresa de carnes pernambucana que, até poucos meses atrás, não abatia um só animal em Pernambuco. O quadro mudou em agosto, quando a companhia inaugurou em Canhotinho, a cerca de 200 quilômetros do Recife, sua primeira unidade em seu Estado de origem. Mais do que apenas refletir uma estratégia de expansão, a planta é também a materialização do crescente avanço da pecuária em regiões do interior do Nordeste do país que, durante séculos, foram sinônimo de produção de cana-de-açúcar.

Em 2006, quando a distribuidora de carnes Masterboi passou a atuar também como frigorífico, Pernambuco tinha menos de 1 milhão de cabeças de gado. O rebanho ganhou corpo desde então: no ano passado, já havia mais de 2 milhões de animais no Estado.

“Em muitos casos, a pecuária avançou em áreas onde antes se produzia cana. São usineiros que deixaram o açúcar de lado”, conta Miguel Zaidan, diretor administrativo da Masterboi. Boa parte do rebanho pernambucano era de gado leiteiro, lembra o executivo. “Sem abatedouro, muito gado de corte tinha que ir para a Paraíba”.

A planta de Canhotinho, no Agreste de Pernambuco, é a terceira da empresa, que tem operações industriais também em São Geraldo do Araguaia (PA) e Nova Olinda (TO). A unidade pernambucana tem capacidade de abater até 700 bovinos por dia e é a única do Estado que opera sob o Serviço de Inspeção Federal (SIF), sistema de controle do Ministério da Agricultura que avalia a qualidade da produção de alimentos de origem animal. Apenas estabelecimentos com o selo do SIF podem vender seus produtos em qualquer lugar do país e também exportá-los.

A Masterboi compra animais de criadores independentes. Isso significa que ela não participa da eventual transformação de antigos canaviais em área de pastagem, mas dá apoio técnico a interessados em migrar para a nova atividade e também para quem já atua em outros segmentos da pecuária e decide criar gado de corte.

Nesse trabalho, um dos elementos centrais são as orientações sobre a fertirrigação, uma técnica de adubação que usa a água de irrigação para levar nutrientes ao solo. Como parte de seus esforços de adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), a empresa decidiu utilizar um sistema que permite reaproveitar na fertirrigação a água da operação industrial.

“Aproveitamos 100% da água que entra no ciclo hídrico do frigorífico”, diz Sandra Catchpole, responsável pelo ESG da companhia. Também como parte de seus esforços ambientais, a Masterboi foi uma das nove empresas que cumpriram 100% das exigências previstas no Termo de Ajustamento de Conduta da Pecuária – o “TAC da Carne” – na última auditoria que o Ministério Público Federal (MPF) realizou no Pará, entre os meses de julho de 2019 e junho de 2020.

A inauguração da planta em Canhotinho e o cumprimento integral do TAC da Carne no Pará foram dois dos pontos altos da Masterboi em 2022, mas também houve percalços. O maior deles foi possivelmente a decisão da China de suspender as importações de carnes da unidade paraense da companhia. Assim como fez com outras exportadoras brasileiras, a China alegou descumprimento de exigências sanitárias para suspender a licença que a planta recebeu para vender ao mercado chinês.

Com a medida, as exportações, que representavam 27% da receita da empresa, passaram a responder por menos de 10% (a Masterboi não diz quanto fatura, mas, no mercado, estima-se receita anual de R$ 3 bilhões). A companhia tem mantido contato com o Ministério da Agricultura e espera retomar as vendas aos chineses em breve.

Ainda que não tenha sido um susto qualquer, a Masterboi o enfrenta hoje muito mais bem-estruturada do que quando era, literalmente, um açougue. Os irmãos Nelson e Guilhermina Bezerra criaram a companhia a partir do pequeno box que o pai deles administrava no Mercado Público de Afogados, no Recife.

Retomar os embarques à China é uma das prioridades, mas, em paralelo, a empresa dedica-se a outras frentes. Em Canhotinho, por exemplo, a companhia também vai abater suínos e caprinos e quer criar uma marca para essas linhas, a exemplo da Master Black, de cortes nobres de carne bovina. “Eu e Nelson estamos loucos para comer um cabrito nosso em São Paulo”, diz, bem-humorado, o diretor Miguel Zaidan. “Vai ser muito bom”.

Fonte: Valor Econômico.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress