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Plantas tóxicas que causam lesões hepatotóxicas crônicas em bovinos

A intoxicação por plantas em bovinos provoca perdas econômicas importantes pela queda na produtividade dos animais ou mesmo por sua morte, como ocorre no caso das plantas que tem como princípio ativo os alcalóides pirrolizidínicos. Os alcalóides pirrolizidínicos são princípios tóxicos da planta que determinam uma lesão irreversível e progressiva no fígado com relevante impacto na produção pecuária.

A intoxicação por plantas em bovinos provoca perdas econômicas importantes pela queda na produtividade dos animais ou mesmo por sua morte, como ocorre no caso das plantas que tem como princípio ativo os alcalóides pirrolizidínicos. Os alcalóides pirrolizidínicos são princípios tóxicos da planta que determinam uma lesão irreversível e progressiva no fígado com relevante impacto na produção pecuária.

Em estudo recente no Rio Grande do Sul, Estado que conta com uma população bovina de 13 milhões de cabeças, estima-se que 5% dessa população morre anualmente, equivalendo a 650.000 animais por ano. Desses, 10% a 14% morrem devido a intoxicações por plantas, o que corresponde de 64 mil a 90 mil cabeças/ano. Estimando um preço médio de US$ 200 por animal, apenas as perdas diretas por mortes atribuídas a plantas tóxicas, no Rio Grande do Sul, ficam entre US$ 12 a 18 milhões anualmente.

Analisando esses percentuais em uma esfera nacional fica clara a importância econômica das plantas tóxicas na pecuária de corte nacional. Dentre as plantas hepatotóxicas que causam maior toxicidade destacam-se o Senecio spp. e a Crotalaria spp., ambas, com o mesmo princípio ativo, os alcalóides pirrolizidínicos, que apesar de apresentarem distribuição diferenciada, determinam um problema comum e portanto, devem ser conhecidas para que medidas de controle adequadas sejam estabelecidas.

Senecio spp.

Existem aproximadamente 128 espécies de Senecio spp. no Brasil, embora algumas delas sejam pouco comuns. Essas espécies são conhecidas popularmente como “maria-mole” e “flor das almas”. Apesar de serem conhecidas muitas espécies de Senecio, a mais comumente encontrada no Brasil é o Senecio brasiliensis. Sua distribuição se dá principalmente no sul do pais, em campo nativo, cultivado e áreas alagadiças.

Segundo observações, a ingestão de Senecio spp. ocorre principalmente entre maio e agosto (inverno) período em que o Senecio spp. está em brotação e quando diminui muito a disponibilidade de pastagem.

Ocasionalmente, têm ocorrido surtos de intoxicação em bovinos pelo uso de feno ou silagem contaminada por Senecio spp. Com relação à possível variação da toxidez da planta, em relação a sua fase de desenvolvimento, todas as partes da planta são tóxicas, tanto verdes quanto dessecadas. Foram detectados teores de alcalóides mais altos antes da floração da planta. Doses diárias de 0,6 a 5g/kg, por um período de 1 a 8 meses são necessárias para provocar o quadro de intoxicação.

É difícil estabelecer o início do desenvolvimento dos sinais clínicos, contudo, considerando o período de ingestão entre maio e agosto, os animais adoecem entre julho e janeiro. Cabe ressaltar a importância do efeito cumulativo que as plantas do gênero Senecio tem quando ingeridas em pequenas quantidades diárias por períodos prolongados. Comumente, os bovinos intoxicados apresentam anorexia progressiva, perda de peso, fezes ressequidas, fortes contrações abdominais e às vezes icterícia e ascite. Normalmente, em criações extensivas o único sinal clinico observado é a perda de peso progressiva do rebanho. Na fase final da doença alguns animais apresentam sinais neurológicos caracterizados por agressividade, incoordenação e andar em círculos.

Uma análise criteriosa deve ser feita para diferenciar essa sintomatologia de doenças que cursam com perda de peso, como gastroenterites verminóticas, e sinais neurológicos como, a raiva, herpesvírus bovino do tipo 5 e a febre catarral maligna.

Os achados de necropsia caracterizam-se por ascite e edemas observados no mesentério, dobras do abomaso e na parede da vesícula biliar. O fígado mostra-se de consistência aumentada (fibroso) e com coloração esbranquiçada ou amarelada.

Para o controle das intoxicações por plantas é importante conhecer os fatores que determinam à ocorrência e freqüência das mesmas no meio ambiente. Alguns fatores que influenciam sobre a população das diversas espécies de Senecio spp. são parcialmente conhecidos. Sabe-se que os ovinos podem ser utilizados para o controle de espécies de Senecio porque, na maioria das vezes, consomem a planta sem serem afetados.

Por outro lado, alguns fatores como a aração do solo e/ou outras práticas que deixam o mesmo descoberto favorecem a germinação de sementes de plantas indesejáveis como Senecio spp.. Não se pode pensar em controlar espécies de Senecio ou outras plantas por controle biológico ou medidas agronômicas (roçadas, aração, utilização de herbicidas, adubação) sem se conhecer alguns aspectos importantes do seu ciclo biológico (emergência, brotação e dispersão de sementes, permanência da planta no ambiente e estabelecimento em diferentes ambientes).

Crotalaria spp.

As plantas do gênero Crotalaria são conhecidas por “xique-xique”, “guizo-de-cascavel” ou “chocalho-de-cascavel”, pois os frutos, quando secos, produzem som semelhante ao de chocalho ao serem tocados. No Brasil, já foi registrada a ocorrência de, pelo menos, 40 espécies de Crotalaria, principalmente nas regiões sudeste e nordeste do país, habitando beiras de estradas, terrenos baldios, lavouras abandonadas e pastagens.

Essa planta vem sendo estudada assiduamente nos últimos anos, devido a sua intensa disseminação na região nordeste. Algumas espécies já foram associadas a quadros de insuficiência respiratória, insuficiência hepática crônica e outras permanecem com sua ação indeterminada. Quantidades tóxicas da planta variam de 20 a 80g/Kg ingeridas por tempo indeterminado, assim como ocorre na intoxicação pelo Senecio spp.

Clinicamente a sintomatologia e os achados de necropsia se assemelham muito aos da intoxicação pelo Senecio spp. Nas espécies que afetam os pulmões os achados de necropsia são de hemorragias, congestão pulmonar, hepática e renal, podendo ocorrer flacidez cardíaca, hidroperitônio e hidrotórax.

Ainda são necessários estudos que determinem melhor os diferentes aspectos de manifestação da doença, no sentido de auxiliar na determinação de estratégias de controle dessa planta.

Figura 1. Arbustos de Senecio spp. antes da floração.


Figura 2. Rebanho com sinais de emagrecimento progressivo, provocados pela intoxicação crônica de Senecio spp. (Foto cedida pelo laboratório de patologia veterinária da UFSM)


Figura 3. Bovino com ascite severa, provocada pela intoxicação por Senecio spp. Notar o acentuado aumento de volume abdominal. (Foto cedida pelo laboratório de patologia veterinária da UFSM)


Figura 4. Planta do gênero Crotalaria spp.


Referências Bibliográficas:

Karam, F.S.C. et al. Aspectos epidemiológicos da Seneciose na Região sul do Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. V. 24, n. 4, p. 191-198, 2004.

Boghossian, M.R. et al. Aspectos clínico-patológicos da intoxicação experimental pelas sementes de Crotalaria mucronata (Fabaceae) em bovines. Pesquisa Veterinária Brasileira. V. 27, n. 4, p. 149-156, 2007.

Tokarnia, C.H.; Dobereiner, J.; Peixoto, P.V. Plantas tóxicas do Brasil. Ed. Helianthus, Rio de Janeiro, 320p. 2000.

1 Comment

  1. wesley bartolo de souza marin disse:

    quais são os tipos de diarreias mais acimetidos na região sudeste de são paulo.

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