A queda 16,57% nas exportações brasileiras de carne bovina na comparação entre junho e julho foi expressiva, mas não anula a perspectiva de demanda firme pelo produto. Os preços recebidos pelos exportadores, no entanto, acende um sinal de alerta, já que o desempenho das vendas externas é que vinha compensando o desempenho mais fraco no mercado interno.
“Meu medo é esse preço não melhorar e aí não tem como o boi subir porque o spread de exportação está muito apertado e não tem muito espaço para o boi reagir sem a exportação dar uma ajudinha”, observa o consultor de agronegócios do Itaú BBA, César de Castro Alves.
Em julho, o Brasil embarcou 160,8 mil toneladas de carne bovina, o menor volume desde 2019 e 3,8% inferior ao registrado no mesmo período em 2022. No mês passado, o preço médio da carne exportada chegou a US$ 4.740,31 por tonelada, o menor desde março de 2021 e 27,62% inferior ao de julho do ano passado.
Além da taxa de câmbio, que, por si só, pressiona o valor pago pelo importador, a queda também tem sido observada no mercado interno chinês, principal destino da carne bovina brasileira. Lá, o valor pago passou de 75 yuans para no início do ano para 71 yuans na última semana, segundo acompanhamento feito pelo Itaú BBA. A desvalorização, destaca Alves, levou a diferença entre o valor pala carne no mercado interno e no mercado externo cair de 15% no início do ano para apenas 5% no último mês.
“Você tem essa perna mais fraca da exportação no curto prazo e tem o consumo aqui interno muto ruim. O mês de julho foi muito ruim pra carne bovina em geral. Mas isso não é tão novidade. O mercado interno está fraco há bastante tempo, mas a exportação é o que me preocupa um pouco mais”, observa o consultor.
O diretor de pecuária da Agrifatto Consultoria, Yago Travagini, avalia que as quedas no volume exportado e nos preços sucedem um período de altas expressivas vistas nos últimos dois anos. “Há um contexto que está levando os preços globais da carne bovina a recuarem e, obviamente, há um ponto fora da curva. A guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe muito medo para o mercado, a ponto de a gente ver os chineses querendo pagar jamais vistos no dianteiro, o que levou a uma ‘descompensação’ da balança em 2022”, lembra Yago.
Do ponto de vista do volume exportado, ele ressalta que os embarques em maio e junho vieram particularmente mais fortes após os meses de suspensão relacionados a um caso atípico de mal da vaca louca no primeiro trimestre. “Essa queda, então, é a volta à normalidade das exportações brasileiras. Ela não interrompe a tendência de continuar exportando grandes volumes”, completa Yago.
A previsão da Agrifatto é de um volume semelhante ao registrado em 2022, quando foram embarcadas 2,26 milhões de toneladas de carne bovina.
O coordenador da equipe de inteligência de mercado da Scot Consultoria, Felipe Fabbri, também vê uma demanda firme pela carne brasileira. Os volumes embarcados devem crescer no segundo semestre, quando a procura é, sazonalmente, maior. Mas uma pressão maior sobre os preços quando comparado aos últimos anos.
“O preço acabou sendo o grande vilão e a gente deve seguir com esse quadro de preço mais fraco para a carne bovina no aspecto exportação até porque a gente está em um ano de maior disponibilidade de carne no país também e os chineses têm certo conhecimento disso”, completa Fabbri.
Fonte: Globo Rural.