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Priceless – credibilidade não tem preço

Consequências da febre aftosa:

Perda em animais sacrificados: 19.269 bovinos,
Perda em exportações: US$ 260 milhões
Perda em credibilidade: Priceless

Observem o seguinte gráfico:

EU-15 Beef Production & Consumption, 1998 – 2006(f)

Fonte: EU Commission

A linha cheia representa a produção de carne na União Européia, em baixa desde 1999. A produção estimada em 2005 é de 7,29 milhões de toneladas, 2% a menos do que a produção de 2004 e segundo a UECBV (Union Europeenne du Commerce du Bétail et de la Viande), a produção de 2006 deverá ser ainda menor, à exceção do Reino Unido onde cerca de 40.000 toneladas de carne de vacas com mais de 30 meses antes proibida por causa da vaca louca voltará a entrar no mercado.

A linha pontilhada representa o consumo de carne dentro da União Européia. Como se vê o consumou recuperou-se desde a crise da vaca louca em 2000/2001. O “gap” previsto para 2006 entre produção e consumo é de inéditas 350.00 toneladas, que deveriam ser preenchidas com carne importada principalmente do Brasil.

Nosso principal concorrente, a Argentina encontra-se em dificuldades principalmente pela baixa oferta animais devido à nova regra que estabelece um peso mínimo para abate e pelo aumento da taxa cobrada sobre a exportação de carnes de 5 para 15%, e duas semanas depois de 15 para 25%. A medida foi tomada pelo Ministério da Fazenda Argentino visando aumentar a oferta interna de carne e segurar a inflação. Alguns frigoríficos argentinos em protesto estão já há duas semanas paralisados.

Acontece que o Brasil está no atoleiro da aftosa e sob risco de ver a União Européia fechar completamente suas portas a nossa carne simplesmente por falta de transparência nas informações enviadas pelas autoridades brasileiras.

Ora, ponham-se no lugar de um importador europeu e acompanhe este resumos das notícias dos últimos meses:
– Caminhão apreendido com SIF adulterado
– Cocaína exportada dentro de buchos de bovinos congelados
– Aftosa no Mato Grosso do Sul, a doença provavelmente veio do Paraguai em animais contrabandeados
– Há dificuldade em inspecionar animais de assentamentos e aldeias indígenas e em controlar a fronteira
– Há suspeita de aftosa no Paraná
– Ministro da Agricultura diz que provavelmente há aftosa no Paraná
– Não há aftosa no Paraná
– Mapa confirma aftosa no Paraná
– Paraná contesta foco de aftosa
– Frigoríficos são acusados de formação de Cartel
– Greve de fiscais agropecuários, perdas de US$ 10 milhões

Agora respondam sinceramente, parecemos mesmo um país sério? Queremos mesmo que acreditem que nossa rastreabilidade e nosso sistema de defesa sanitária funcionam às mil maravilhas?

Falcatruas não são exclusividade brasileiras. Falcatruas acontecem em todo lugar, inclusive aqui na Europa. Desde o final de novembro que estão descobrindo e investigando uma série de escândalos relacionados à re-etiquetagem e venda de carne avariada, sendo que os principais casos aconteceram na Alemanha e Irlanda do Norte.

A diferença é na rapidez e eficácia da resposta das autoridades. Somente na Alemanha, mais de 2.800 toneladas de carne já foram confiscadas e serão destruídas. Mais de 300 entrepostos frigoríficos estão sob inspeção e mais de 50 empresas estão respondendo judicialmente pelos seus atos.

Por falta de informação, o Brasil está a um passo de ter suas exportações totalmente bloqueadas e começar 2006 deixando de bandeja um mercado de 350.000 toneladas para os argentinos, que mesmo em dificuldades ainda são a melhor alternativa para os importadores europeus.

A decisão sobre o embargo ao Brasil que deveria ter sido tomada dia 08/12 ficou adiada pelo menos até o dia 20/12 ainda por falta de informações e problemas de tradução dos documentos solicitados aos brasileiros. Enquanto isso a Rússia fecha suas portas a 8 estados brasileiros por causa da confirmação do foco no Paraná.

Crises sanitárias podem ser superadas, mercados sob embargos eventualmente serão reabertos, mas se quisemos manter nosso nome e nossa posição no mercado temos que oferecer segurança a quem compra. Credibilidade não tem preço.

0 Comments

  1. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Fernando,

    Gostei muito do seu artigo e concordo plenamente que a falta de credibilidade tem um custo tão alto que se torna priceless.

    Você tem uma experiência grande em negócios internacionais de carne e seus derivados e a minha pergunta é: porque os frigoríficos não conseguem colocar os seus produtos com seus nomes no mercado lá fora?

    Porque estamos todos sendo medidos como um peso só, sem qualquer distinção ou premiação pelos trabalhos individuais dos frigoríficos e seus fornecedores.

    Por isso às vezes a disposição dos frigoríficos em realmente tomar a dianteira no assunto da rastreabilidade, a implantação do SISBOV e de melhorar os produtos para o mercado externo é ainda tão pequena.

    Obviamente a fiscalização sanitária cabe aos governos porque atingem a saúde publica aqui no Brasil e lá fora também, mas o compromisso dos frigoríficos e seus fornecedores e a cadeia de carne em geral com a segurança alimentar do seu consumidor final é ainda bastante frágil e a razão principal pela novela que estamos assistindo.

    Como podemos mudar isto rapidamente?

    Um abraço,

    Louis Pascal de Geer

  2. Alexandre Sampaio da Matta disse:

    Prezado Fernando,

    Parabéns pelas ponderações!

    O pior de tudo isso, é o produtor que vacina, que rastreia, que investe em genética esperando a tal virada de ciclo, ou seja, aumento real do preço do boi o que por certo refletiria na cria… Caso específico meu, vendo bezerros .

    A falta de responsabilidade do governo federal é bizonha, pois não liberar recursos para o MAPA, no que se refere a defesa sanitária, de uma maneira ou de outra refletiu na balança comercial, e em números bastante significativos,

    E aí, será que a suposta falta de recursos para o MAPA valeu a pena? O prejuízo da balança comercial na queda de exportação da carne responde. Para variar o produtor paga a conta, e essa foi muito alta!

    Mas também, esperar o que de um Presidente da República que está mais para um sem-terra do que para um Produtor Rural!

    Temos ainda luz no fim desse túnel?

    Um abraço.

  3. paulo antonio de souza disse:

    Quando uma casa não tem comando, quer seja do homem ou da mulher, existe um ditado popular que a descreve como sendo “a casa da mãe Joana”.

    Infelizmente o Brasil tornou-se a própria, a começar da casa daquele que teria o dever de comandá-lo, que é o poder executivo (Lula lá), daí passamos ao legislativo afundado no mais profundo lamaçal, por fim o judiciário que travestiu-se de “o todo poderoso” e só consegue enxergar o próprio umbigo.

    Bem, restou o povo, e dentro dessa massa os pecuaristas pobres coitados que estão endividados até o pescoço e já estão com suas casas (fazendas) tomadas pelo banco oficial.

    Mas, essa brava gente brasileira consegue ser otimista, teimosamente produz, pode-se dizer que aqueles que produzem no deserto não têm nem a metade dos problemas dos nossos produtores.

    De qualquer forma “Deus é brasileiro”.

  4. fábio andreazza disse:

    Prezado Sr. Fernando Sampaio,

    Concordo que credibilidade não tem preço, nossa produção pecuária é um exemplo de eficácia.

    Devemos reconhecer que somos incrivelmente incompetentes na comercialização de nossa produção, nós não vendemos carne, somos comprados, e continuaremos sendo pelos próximos anos, simplesmente, por um motivo, temos muito produto com qualidade e capacidade de diversificar as regiões de fornecimento de carne.

    Produzimos carne em tão diversos locais do país e em tal quantidade que se uma região for afetada outra logo pode assumir o fornecimento, com a mesma qualidade.

    Casos pontuais de aftosa são o preço a se pagar por um rebanho tão grande e produzido exclusivamente a pasto, o que proporciona naturalmente uma segurança alimentar superior ao de nossos concorrentes.

    O recente caso de aftosa do MS provou que: o mundo quer e precisa de nossa carne. Provou também, que nossas autoridades estão bem abaixo do mínimo necessário em competência ou honestidade para tratar dos casos pontuais de aftosa.

    No mais, vamos continuar tirando pedido, pois o mundo tem fome.