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Problemas advindos do uso incorreto de tecnologias de produção

A importância da carne bovina como alimento saudável e nutritivo é inquestionável. Devido ao processo educacional dos consumidores, que a cada dia se tornam mais esclarecidos e exigentes, a demanda por produtos de qualidade tem aumentado sensivelmente. Essa demanda acontece tanto pelos atributos intrínsecos de qualidade, como maciez, sabor e quantidade de gordura como também pelas formas de produção e processamento.

É amplamente sabido que todo estresse imposto ao animal na fase ante morte irá desencadear reações que irão interferir diretamente com a qualidade da carne. O melhor animal, produzido da melhor forma possível, sem os cuidados devidos por ocasião do abate, poderá apresentar uma carne da pior qualidade. Esses cuidados devem ser tomados desde o preparo dos animais na fazenda para envio ao frigorífico até o momento do atordoamento já dentro da sala de matança.

Na busca desse produto que atenda as exigências do consumidor, principalmente no quesito qualidade, o manejo dispensado aos animais e a utilização de tecnologias destinadas a melhoria do produto podem, se utilizadas de forma incorreta, ocasionar grandes danos à qualidade da carne. Algumas dessas práticas incorretas são a utilização de medicamentos ou vacinas impróprias, aplicação dos mesmos em local impróprio, quebra da agulha dentro do músculo, marcas a fogo em local indevido, contusões durante o manejo dos animais, dentre outras.

Um problema que tem aumentado muito e ocasionado grandes prejuízos econômicos (e à imagem do produto) é a presença de reações a vacinas e medicamentos. Desenvolvidas para garantir a saúde dos animais, e indiretamente do ser humano, as vacinas e medicamentos, se utilizadas de forma adequada, são uma garantia para o pecuarista de que está enviando para consumo um produto dentro dos padrões. Quando utilizadas de forma imprópria, podem representar um problema a mais.

As lesões causadas pela aplicação indevida de vacinas e medicamentos, além de acarretar um sério problema de qualidade na carne bovina, também apresentam os custos da mão-de-obra, necessária para realizar as aparas da região afetada, e o custo da perda de tecidos (carne). Segundo Smith et al apud George et al (1995), numa pesquisa conduzida nos Estados Unidos, denominada de National Beef Quality Audit, estima-se que a perda em virtude de aparas na região da aplicação do medicamento seja da ordem de 55 milhões de dólares/ano. Essa estimativa de perda é só das aplicações realizadas na região da alcatra, localização estudada no trabalho. No Brasil, também essa região que coincide com a picanha foi por muito tempo a preferida para a aplicação de vacinas e medicamentos. Embora tenha diminuído sensivelmente a aplicação da vacina nessa região, alguns animais ainda apresentam sinais de terem sido vacinados nesse local por ocasião do abate ou da desossa. Uma vacina mal aplicada ou absorvida pode, além das perdas econômicas, trazer uma imagem negativa ao produto.

George e colaboradores (1995) observaram que a administração via intramuscular, de alguns tipos de antibióticos, também causaram grandes danos aos tecidos, evidentes por períodos variáveis, de 7,5 a 12 meses após a aplicação.

Num estudo conduzido por Moro e Junqueira (1999), num total de 4 mil carcaças, os autores observaram que 68,6% das carcaças apresentavam uma ou mais lesões. Essas lesões representam uma média de 406 gramas de tecido removido por animal lesionado. No mesmo estudo, observaram que quanto à localização das lesões, 48% aconteceram na região do pescoço, 19% no entrecote (L. thoracis), 18% no acém ou paleta e 11% no cupim.

Algumas recomendações, segundo George et al apud Moro e Junqueira 1999, a fim de minimizar as lesões ocasionadas por aplicação de vacinas ou medicamentos:

1) usar sempre que possível produtos de baixa reatogenicidade;
2) evitas as injeções intramusculares quando outras vias de administração forem recomendadas;
3) dar preferência às drogas administradas por vias subcutânea, oral ou intravenosa;
4) não aplicar mais que 10 ml em cada local;
5) aplicar toda vacina subcutânea no pescoço;
6) trocar a agulha no máximo a cada 15 aplicações; e
7) não havendo outras alternativas às injeções intramusculares, escolher um músculo de menor valor econômico.

A fim de aprimorar o trabalho, evitando o manuseio e a administração incorreta das vacinas e medicamentos, é extremamente importante o contínuo treinamento e a capacitação do pessoal envolvido nessas tarefas. Pelo lado da indústria farmacêutica animal, é imperativo o progresso continuo da área, através das pesquisas e do desenvolvimento de vacinas e medicamentos eficazes, de fácil aplicação e baixa reatogenicidade.

Literatura consultada

George, M.H.; Heinrich, P.E.; Dexter, D.R.; Morgan, J.B.; Odde, K.G.; Glock, R.D.; Tatum, J.D.; Cowman, G.L. and Smith, G.C. 1995. Injection-site lesions in carcasses of cattle receiving injections at branding and at weaning. J. Ani. Sci. 73:3235 – 3240.

George, M.H.; Morgan, J.B.; Glock, R.D.; Tatum, J.D.; Sofos, J.N.; Schmidt, G.R.; Cowman, G.L. and Smith, G.C. 1995. Injection-site lesions: incidence, tissue histology, collagen concentration, and muscle tenderness in beef rounds. J. Ani. Sci. 73:3510 – 3518.

Moro, E. e Junqueira, J.O.B. 1999. Levantamento da incidência de reações vacinais e/ou medicamentosas em carcaças de bovinos ao abate em frigoríficos no Brasil. A Hora Veterinária. 19:112.

Junqueira, J.O.B.; Moro, E.; Barbarini, O.; Matsumoto, T.; Fadil, P. e Umehara, O. 1999. Reações vacinais em bovinos: reações nos locais de aplicação de vacinas contra clostridioses. A Hora Veterinária. 19:113.

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