A próxima safra de trigo no Brasil, 2021/2022, pode ser a maior da história do país, apontou o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com 8,4 milhões de toneladas. No ano passado, foram 6,2 milhões de toneladas.
Mas ainda assim, não será suficiente para abastecer o mercado interno, levando à importação de 6,4 milhões de toneladas de trigo para atender a demanda, estimada em 12,7 milhões de toneladas. Nos três principais estados produtores do cereal – Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina – a produção vai aumentar e essa alta pode reduzir, nos próximos anos, o preço da carne, já que o cereal pode substituir o milho como ingrediente de rações. Isso deixaria as rações até 12% mais baratas.
De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento do Paraná, o Estado deve registrar a produção de 3,9 milhões de toneladas de trigo, 22% acima do colhido na safra passada, que chegou a 3,19 milhões de toneladas.
A área cultivada, segundo o órgão, neste ano é estimada em 1,193 milhão de hectares, 5% a mais que no ano passado. A estimativa não leva em conta, porém, os estragos que as geadas ocorridas nesta semana podem causar às lavouras, que devem ser contabilizados nas próximas semanas.
No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) as lavouras de trigo estão menos suscetíveis aos danos provocados pelo frio intenso devido ao estágio de desenvolvimento.
No estado gaúcho, de acordo com a Emater/RS, deve ser colhida a segunda maior safra de trigo dos últimos 15 anos, com 2,89 milhões de toneladas, uma alta de 37,81% em relação ao ano passado. A projeção acompanha o crescimento da área plantada com o cereal, que chegou a 1,08 milhão de hectares, 13,29% a mais que na safra 2020.
Já em Santa Catarina, as estimativas do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) apontam para uma produção recorde de 290 mil toneladas, 70% acima do resultado do ano passado – 118 mil toneladas a mais.
Essa alta é resultado de uma iniciativa do governo estadual, que neste ano estimulou os produtores a investirem em culturas de inverno. O Estado, que tem alta concentração de granjas de suínos e aves, aposta em culturas de inverno como o trigo e o triticale, um grão oriundo do cruzamento do trigo e da cevada, para substituir o milho como componente principal de rações.
Trigo substitui o milho em rações
Segundo Altair Silva, Secretário da Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina, as culturas de inverno podem beneficiar as cadeias de carnes e leites, amenizando o custo de produção das proteínas animais. “É possível produzir cereais de inverno em Santa Catarina, e essa é uma alternativa viável para o produtor e para a cadeia produtiva de carnes e leite”, afirmou.
“Já no primeiro ano, conseguimos superar nossas expectativas e isso significa que teremos mais pastagens, silagem e opções para fabricação de ração, reduzindo nossa dependência de milho e os custos de produção.”
Para incentivar os produtores locais a apostarem nas culturas de inverno, Silva disse que foram investidos R$ 5 milhões neste ano, e a meta, inicialmente, era aumentar em 20 mil hectares a área plantada com trigo, triticale, aveia e cevada. “O crescimento da área foi de quase 30 mil hectares na área plantada com trigo”, afirmou. “Estamos abrindo uma nova fronteira agrícola em Santa Catarina, que é a safra de inverno.”
Segundo Silva, incentivo ofereceu uma subvenção de R$ 250 por hectare plantado com culturas de inverno com limite de até 10 hectares por produtor. As cooperativas forneceram as sementes e insumos e os agricultores realizarão o pagamento só no final da safra, em sistema de troca, ou seja, pagam com grãos e recebem o subsídio por hectare cultivado. As cooperativas vão vender a produção a agroindústrias e fábricas de ração da região.
Trigo pode baratear o custo da ração e da carne
Para Francisco Turra, membro do Conselho da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os cereais de inverno surgem como a melhor alternativa para o Brasil continuar produzindo proteínas animais (frango, ovos e suínos) e manter a competitividade internacional no segmento. Segundo ele, o Brasil foi o único país a crescer na produção e exportação de proteína animal durante a pandemia e, para manter o ritmo, será preciso reduzir o custo de produção.
De acordo com ele, em 2020, apenas o Rio Grande do Sul reduziu a produção de proteínas animais e isso teve relação direta com o encarecimento do custo.
“O crescimento da produção na região Centro-Oeste mostrou que o custo de produção na região Sul encareceu mais. Estamos perdendo espaço e competitividade. Os cereais de inverno surgem como alternativa,” destacou Turra. Segundo ele, em tratativas com o governo do Estado, a meta é dobrar a produção de culturas de inverno nos próximos 10 anos, chegando a 5 milhões de hectares plantados. “Isso vai aumentar em 6% o PIB do Rio Grande do Sul”, afirmou.
Na Reunião Anual da Cadeia do Trigo, que aconteceu nesta semana, ele afirmou que a agroindústria já se comprometeu com a compra futura dos grãos. “Queremos excedentes de qualidade para alimentação animal. Produza o melhor trigo, que ele será utilizado para alimentação humana. Se não for na panificação, será nas carnes de aves e suínos.”
Estudos realizados pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), em Passo Fundo (RS), em parceria com a Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia (SC), mostraram equivalência nutricional, em alguns casos de até 100%, para trigo, cevada e triticale na substituição do milho na ração de aves e suínos — que representa 65% da composição.
Substituir o milho por trigo pode baratear certa de 6% a 12% o custo da ração.
Fonte: UOL.