Em vários comentários anteriores temos falado sobre a importância para a cadeia da carne bovina, e em especial para os produtores, em se identificar nichos de mercado para agregar valor ao produto. Para agregar valor, os produtos destinados a cada nicho de mercado têm que ter especificações bem definidas, manter padrão de qualidade o mais uniforme possível e estar disponível regularmente durante o ano.
Embora tenha melhorado, o produto carne bovina, quando chega ao consumidor via supermercados, apresenta variação de qualidade muito grande, mesmo no caso de carne de novilho precoce. Anteriormente, já comentamos também, que o sistema de tipificação de carcaça oficial do Brasil é muito tolerante em termos de idade e acabamento. No tipo de carcaça considerado de melhor qualidade (B, de Brasil), tanto a grande variação de idade, como o limite muito baixo de acabamento permitido, em conjunto com um resfriamento inadequado, são fatores responsáveis pela grande variação de qualidade do produto colocado à disposição do consumidor.
A carne disponível hoje para os consumidores pertence a dois grandes grupos, a de novilho precoce e o restante (que não é classificada como tipo B). Considerando que a variação de qualidade dentro do tipo B (precoce) é grande, imaginem o que acontece com a variação de qualidade do restante da carne.
Somos da opinião de que está na hora de mudar, isto é, de colocar à disposição dos consumidores produtos de carne bovina de melhor padronização quanto às especificações de qualidade. Somos também de opinião que essa situação apresenta uma enorme vantagem para o estabelecimento de cadeias mercadológicas sérias que usem de criatividade para identificar e atender diferentes nichos de mercado, tanto internos como externos.
O produto carne bovina apresenta características muito variáveis em termos de preferência de consumidores, o que é uma grande vantagem que não tem sido utilizada. Desde que de boa qualidade em termos de maciez, as preferências variam em termos de acabamento e marmoreio (carnes mais ou menos light), em termos de sabor (mais ou menos acentuado) e em termos de preparo de pratos (grelhados, com molho etc.). Existe ainda uma grande diferença entre raças quanto aos aspectos citados, o que permite a criação de um maior número de nichos de mercado.
Os maiores interessados e, portanto, os que devem forçar a criação de alianças mercadológicas sérias e criativas para atendimento de diferentes nichos de mercado, são os produtores. Os frigoríficos e os supermercados estão mais interessados em comercializar o que existe disponível, embora deva se reconhecer que existe um movimento inicial dos supermercados em trabalhar com carne bovina de melhor padronização.