O potencial do sorgo como cultura para produção de silagens. Parte 2/6
21 de julho de 2000
Agricultura é atividade econômica e não modo de vida ou solução social
4 de agosto de 2000

Programas de Formulação de Rações para Confinamento

Dante Pazzaneze Lanna1

Em um artigo anterior discutimos a importância do processo de decisão na compra de ingredientes. Na coluna desta semana gostaríamos de fazer algumas considerações sobre como fazer a formulação de rações e sobre os programas de formulação disponíveis.

Inicialmente é importante fazer uma colocação importante. Boa parte dos confinamentos visitados por nossa equipe utiliza rações que apresentam problemas. Estas formulações inadequadas são mais comuns nos pequenos confinamentos feitos por produtores com pouco auxílio de técnicos na área de nutrição. Os problemas típicamente encontrados são:

1. Rações mal balanceadas, sem quantidades mínimas de alguns nutrientes ou com o balanço incorreto entre alguns nutrientes.

2. Rações com quantidades excessivas de certos ingredientes que não podem perfazer mais do que determinada proporção da dieta.

3. Rações que não são corrigidas para as varições no teor de umidade dos ingredientes, principalmente variações do volumoso ao longo do período de confinamento.

4. Rações que não são a de menor custo para o produtor.

Com base na constatação dos problemas acima mencionados, nossa opinião é de que o confinador deva procurar suporte de técnicos competentes, seja do setor privado seja do sistema de assistência técnica dos estados. Este investimento em tecnologia é altamente rentável em confinamentos de grande porte, mas infelizmente mais difícil de dar retorno em confinamentos de pequeno porte com 200-500 cabeças, por exemplo.

Para formular uma dieta a maioria dos nutricionistas utiliza, no micro-computador, algum software de ´programação linear´ também chamados de ´programas de ração de custo mínimo´. Estes programas produzem a consagrada “ração de custo mínimo”. Trata-se de metodologia muito eficiente e simples, capaz de formular a dieta para um determinado teor de energia, de proteína e de alguns outros nutrientes como cálcio e fósforo. Diversos programas de boa (ou má) qualidade estão disponíveis no mercado. Quem quiser pode até mesmo fazer um programa simples em pouco tempo usando as planilhas eletrônicas tão comuns hoje em dia.

Entretanto, para a obtenção de uma boa dieta, o processo de formulação não pode parar por aí. Os programs de ração de custo mínimo podem fazer inúmeras bobagens! Há necessidade de se fazer uma série de restrições e modificações na dieta à medida em que os resultados aparecem.

Seriam várias as recomendações de cuidado no emprego dos programas lineares. Entre elas estaria prever os problemas de disponibilidade de nutrientes de algumas fontes. Por exemplo: o fósforo de alguns ingredientes tem baixa disponibilidade biológica. Também é preciso prever os efeitos associativos, que são as situações onde a utilização de um alimento pode prejudicar assimilação do outro. Um exemplo de efeito associativo seria a capacidade de fontes de amido, como o milho, de reduzir a digestibilidade da fibra.
Um último grande problema das rações de custo mínimo é que elas são feitas para um valor de exigências nutricionais definido de forma arbitrária. Este valor é geralmente proveniente de manuais de recomendação das exigências como o NRC, AFRC, CSIRO e INRA, ou da experiência do nutricionista.

Adaptações feitas à dieta são muito importantes e só devem ser feitas por um técnico com experiência. Como exemplo, os manuais podem citar um teor mínimo de proteína de 11,5% para um ganho de peso de 1 kg/dia. Entretanto, o nutricionista não usa este valor dos manuais cegamente, pois várias correções devem ser feitas. Por exemplo ao valor básico de 11,5% pode ser recomendado adicionar mais 10% de proteína no início do confinamento e mais 6% se os animais são inteiros. Como resultado final o teor de proteína recomendado é de 13,2% de proteína.

Mais adaptações às vezes devem ser feitas para a proteína degradável, aquela que é disponível para as bactérias do rúmen. Por exemplo, em dietas alta proporção de bagaço de cana hidrolisado é necessário aumentar o fornecimento de proteína degradável no rúmen em função dos compostos fenólicos presentes e de outras características destas dietas.
Outras alterações importantes são geralmente necessárias e tem de ser feitas. Um exemplo são as modificações causadas pelas variações na ingestão de alimentos. Usando mais uma vez o exemplo das dietas com alto teor de bagaço hidrolisado: animais nestas dietas apresentam ingestão diária de alimentos de 10 a 15% maiores do que estimam o NRC e AFRC.
Portanto o uso de forma cega das recomendações e de programas lineares pode levar a formulações de dietas inadequadas.

Com objetivo de minimizar estes problemas o nosso grupo no Laboratório de Nutrição e Crescimento Animal (LNCA) da ESALQ/USP tem procurado desenvolver porgramas de computador que automaticamente façam parte destas correções e auxiliem a estabelecer as limitações no uso de determinados ingredientes em função das suas qualidades nutricionais. Este programa chamado de Ração de Lucro Máximo 2.0 permite ao produtor/nutricionista/consultor identificar quais os alimentos que devem compor a sua dieta de confinamento.

Outro ponto a ser explorado é o de que existem inúmeras rações de custo mínimo, cada uma definida para uma taxa de ganho de peso. O programa Ração de Lucro Máximo 2.0 é capaz de identificar qual delas é a mais interessante para o produtor. O mecanismo desta escolha é muito interessante e foi inovado pelo LNCA. Em um próximo radar vamos apresentar como o produtor pode visualizar qual a dieta de custo mínimo mais interessante em diferentes situações de preço dos ingredientes.

__________________________________________________________
1. Prof. Dr. Dep. Produção Animal, ESALQ/USP

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress