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Radar Agro | Impactos das enchentes no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul foi atingido por chuvas persistentes e em volumes extraordinários entre a última semana de abril e os primeiros dias de maio, que chegaram a ser o equivalente a 3 meses de chuvas no estado. O excesso de chuva pode ser atribuído a combinação de um El Niño, que apesar de estar enfraquecendo, ainda exerce seus efeitos sobre o sul do continente e um Oceano Atlântico mais aquecido na porção sul, o que gerou o excesso de umidade sobre o estado. 

As enchentes ocorreram de forma mais intensa sobre a porção central e sul do Rio Grande do Sul, com os rios da região atingindo níveis históricos e provocando o rompimento de barragens. Além da tragédia humana, a catástrofe climática também deve trazer sérias consequências para o agronegócio do estado, uma vez que 332 dos 497 municípios foram afetados. 

Para a próxima quinzena, a previsão indica um leve alívio para a parte sul do RS nesta semana, mas voltando a chover bastante a partir da próxima. Esta condição deve seguir impactando no reestabelecimento da infraestrutura logística, bem como os levantamentos das perdas. Além disso, as temperaturas declinaram de maneira relevante nesta semana. 

Logística 

Com diversos pontos de bloqueio, totais ou parciais, ainda ativos, além da queda de pontes e desbarrancamentos, a logística no estado foi extremamente comprometida. Ainda existe a impossibilidade do tráfego de veículos em diversas áreas, inclusive de resgate e saúde. As BR´s 116, 386 e 290 sofreram os impactos das enchentes, além de diversas outras estradas estaduais e municipais. O aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, está fechado por tempo indeterminado. Segundo a Portos RS, as operações no Porto de Porto Alegre e no Porto de Pelotas estão paralisadas, enquanto o Porto de Rio Grande segue operando normalmente. Os alagamentos e os danos à infraestrutura do estado podem afetar a logística de transporte dos principais produtos regionais, por exemplo o arroz e frutas,tais como uva, pêssego e maçã. 

Balança comercial 

Os efeitos na balança comercial devem ser vistos a partir de maio. Os impactos, não somente sobre a produção, mas também na estrutura de escoamento do estado, ainda precisam ser avaliados. Segundo dados da Secex, o Rio Grande do Sul é o sexto maior estado exportador do país, representando 6,6% de todo o valor vendido pelo Brasil ao exterior no ano passado. O produto mais exportado pelo Rio Grande do Sul é a soja, que concentrou 18% do total vendido ao exterior em 2023.

Soja 

Para a soja, a expectativa era de que o estado gaúcho assumisse a segunda posição no ranking de produtores nacionais, com cerca de 22 milhões de toneladas, ultrapassando o estado do Paraná, que apresentou queda nos números diante da falta de chuva e temperaturas elevadas durante a safra. 

Até o momento, segundo a Conab, 79% da safra de soja do estado foi colhida, com os trabalhos mais avançados na porção norte. Por outro lado, na parte sul, exatamente onde o impacto das enchentes é maior, o ritmo era mais atrasado. Levando-se em conta o avanço da colheita, estima-se que 5 milhões de toneladas de soja ainda estejam no campo para serem colhidas. Porém, desse montante, ainda é difícil estimar o que será colhido e quanto será perdido. Acreditamos que a redução deva ficar abaixo da perda total potencial. Nos parece razoável que essa redução fique entre 1 milhão e 2,5 milhões de toneladas. 

Além das lavouras ainda no campo, é possível que os silos localizados em regiões mais baixas tenham sido afetados. Porém, assim como a situação nos campos, somente nas próximas semanas será possível aferir os danos e as perdas nas estruturas de armazenamento. 

Milho

Para o milho, a colheita da primeira safra se encontrava finalizada em 86% das áreas até o final da semana passada. Considerando a produção estimada para o Rio Grande do Sul em 5,1 milhões de toneladas, cerca de 870 mil toneladas estariam no campo e sob algum risco diante das enchentes. O estado, que não faz segunda safra, é o maior produtor do cereal no verão do Brasil. 

Cabe dizer que, apesar de relatos de um desenvolvimento irregular da safrinha em partes do PR e no sul do MS, em função da falta de chuvas, no MT – principal estado produtor – o cenário é oposto, com a produtividade devendo vir muito bem, favorecida pelas boas chuvas de março e início de abril. Com isso, consideramos baixo o impacto em nível nacional das perdas do milho 1ª safra que faltava para ser colhido no Rio Grande do Sul.

Bovinocultura de corte 

No caso da pecuária de corte, o RS respondeu por 5% da produção brasileira de carne bovina em 2023. Dado o momento atual do ciclo pecuário brasileiro, em modo de descarte de fêmeas, com grande disponibilidade de gado e pico de safra nos próximos meses, não esperamos alta dos preços em outras regiões. 

Fonte: Consultoria Agro do Itaú BBA.

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