Geraldo Bueno Martha Júnior
As decisões quanto à quantidade de nitrogênio (N) a ser aplicada no sistema geralmente baseiam-se na curva de resposta da planta ao fertilizante, isto é, no estabelecimento de limites econômicos de adubação e, consequentemente, no provável retorno econômico associado à aplicação do fertilizante.
A preocupação quanto a eficiência de fertilizantes não reside apenas no aspecto econômico; questões ambientais vêm crescendo em importância e num futuro não muito distante, estratégias envolvendo a nutrição adequada da planta forrageira (e do ruminante), enquanto protegendo a qualidade do solo, água e atmosfera, deverão ser delineados. Assim, restrições sobre as perdas de nutrientes devido a intensificação do uso de áreas agrícolas serão praticadas nas propriedades rurais, a exemplo do que já acontece em outros países. Para isso, o balanço de nutrientes (recuperação) nessas áreas deverá ser monitorado para não exceder determinados níveis que poderiam ser prejudiciais ao meio. Em outras palavras, o uso eficiente de fertilizantes, pouco explorado até o momento, será motivo de pesquisas intensivas no futuro, não só pela busca de melhores retornos econômicos do uso desses insumos, mas também, para atender as pressões governamentais e da sociedade para proteger o ambiente.
A recuperação de fertilizantes nitrogenados é tradicionalmente feita de modo aparente, isto é, com base nas quantidades de N presentes em parcelas adubadas com diferentes níveis de N em relação às quantidades na parcela testemunha, que não recebeu adubação. Por esse método, as pastagens tropicais recuperam 20 a 80% do fertilizante nitrogenado aplicado. Essa forma de avaliar a eficiência de uso do fertilizante nitrogenado é obviamente válida, mas não permite acessar a real eficiência (recuperação) do fertilizante nitrogenado, uma vez que não separa os acréscimos de N provenientes de outras vias (solo e atmosfera) daquela originária do fertilizante. A eficiência real do fertilizante nitrogenado só pode ser determinada pelo uso do isótopo estável do N, o 15N.
Em estudo recente realizado em Piracicaba – SP, a recuperação real do fertilizante nitrogenado (uréia ou sulfato de amônio) em pastagem de capim-elefante foi avaliada em duas épocas, no verão e no outono (Figura 1). A recuperação real do fertilizante aplicado na parte aérea (< 25%) foi bastante inferior às recuperações aparentes normalmente encontradas na literatura, de até 80%. Esse fato mostra que uma pequena quantidade do fertilizante nitrogenado foi recuperada pela planta no curto prazo e sinaliza que a matéria orgânica do solo contribuiu significativamente para a nutrição da planta forrageira. A redução na concentração de N no solo (Tabela 1) dá suporte a essa idéia e ainda sugere que no curto prazo o sistema (lembre-se que o solo desse estudo é bastante fértil) foi capaz de tamponar as elevadas perdas de uréia por volatilização, no sentido de sustentar produtividades semelhantes de matéria seca para as adubações com uréia e sulfato de amônio (para informações sobre perdas por volatilização e produtividade da forragem, veja o último artigo). Obviamente “esse tamponamento” teve um custo, que foi a drástica redução nos teores de N do solo, principalmente naquele que recebeu a adubação com uréia (Tabela 1).
A maior recuperação de 15N no componente “litter” no período de outono foi consequência da maior quantidade desse material no sistema. No verão detectou-se 2,3 t/ha de “litter” no tratamento adubado com uréia e 2,2 t/ha no tratamento adubado com sulfato de amônio. No outono, os respectivos valores foram de 8,0 e 6,7 t/ha. O maior acúmulo de “litter” no final da estação pode trazer algumas desvantagens ao sistema no início do próximo período de crescimento, como prejuízos na rebrota futura da pastagem em decorrência do sombreamento da base da touceira e/ou redução no perfilhamento e na eficiência das adubações nitrogenadas, devido à deficiência de N no sistema (elevada imobilização de N nos resíduos vegetais sobre a superfície do solo). É interessante notar que a quantidade de N recuperada na camada de 10 – 25 cm de solo foi inferior a 5% do N aplicado (Figura 1). Esse fato é consequência da elevada capacidade das gramíneas tropicais em extraírem o N do solo, o que consequentemente minimiza as chances de perdas de N por lixiviação.
Figura 1. Balanço de 15N em pastagem de capim-elefante adubada (100 kg N/ha) com uréia ou sulfato de amônio no verão ou outono
Tabela 1. Variação na concentração de nitrogênio em solos vegetados por capim-elefante e adubados (100 kg N/ha/época) com uréia ou sulfato de amônio no verão e no outono.
Artigo escrito por Geraldo Bueno Martha Júnior