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Silagem: Uso de Modelos Matemáticos

Um modelo matemático descreve um sistema produtivo e inter-relaciona seus vários componentes. Esses modelos desenvolvidos para auxiliar o planejamento são ferramentas de apoio na tomada de decisão e não geradores de soluções que devam ser seguidas à risca. Seu objetivo é fornecer informações relevantes ao processo de tomada de decisão para o produtor. É importante ter consciência de que todo modelo é, na realidade, uma simplificação do mundo real e seu resultado deve ser analisado sempre com muito cuidado antes de se tomar qualquer decisão.

Um modelo de previsão de valor nutritivo tenta simular as condições do campo até o animal, envolvendo determinados e inúmeros parâmetros (todo elemento cuja variação de valor modifica a solução de um problema sem modificar-lhe a natureza). Mas, para sua eficácia, é preciso levar em consideração a complexidade do sistema produtivo, ou seja, conhecer e quantificar as variáveis agronômicas envolvidas no cultivo da cultura a ser ensilada, o processo de ensilagem propriamente dito (identificação do momento correto da colheita, corte e transporte ao silo e seu enchimento e vedação, inclusive), a fermentação e a desensilagem (inclusive o balanceamento das rações e fornecimento para os animais, bem como a ingestão de nutrientes e a produção de carne e leite).

A credibilidade de um modelo (e de seus submodelos) é comprometida se não houver grande disponibilidade de dados sobre a realidade de campo da propriedade agrícola. Em raríssimas exceções tem-se controle completo do sistema. Muito poucas fazendas têm todas as informações e difícilmente são conduzidas como empresas agrícolas. Muitas vezes, o produtor só lembra da fase de ensilagem, por exemplo, e se esquece da parte agronômica e de sua respectiva produtividade. Outros se esquecem dos cuidados com o silo após seu fechamento, o que pode causar grandes perdas na hora de desensilar, jogando fora seu trabalho anterior. É bom lembrar que um submodelo afeta outro. A seguir serão apresentados os componentes (parâmetros) de quatro submodelos do modelo de produção de silagem.

Submodelo 1

Dentro de um modelo matemático para o sistema de produção de silagem, o primeiro submodelo considerado é o que engloba desde a colocação da semente no solo até a obtenção da forragem a ser ensilada. Quando lançada a semente no campo, a planta estará sujeita às condições climáticas do período (luz, temperatura, água) e ao manejo (irrigação, características fisícas e químicas do solo, pragas e doenças, plantas daninhas, entre outros aspectos). É necessário também prever e identificar o estádio de maturação que apresenta as melhores características para ensilagem. A qualidade da forragem (carboidratos, tanto estruturais quanto solúveis e proteínas, principalmente) está relacionada ao valor nutricional final da silagem. A produtividade da cultura é o maior fator determinante dos custos finais da silagem, ou seja, não é possível obter silagens de baixo custo com produções agrícolas reduzidas.

Submodelo 2

No processo de ensilagem estão envolvidos os seguintes parâmetros: velocidade e eficiência de enchimento dos silos, o número e tamanho destes, número e capacidade de colheita das colhedoras de forragem, número e volume de carretas e tratores e suas respectivas velocidades de trabalho, distância da área até os silos, altura do corte das plantas, tamanho das partículas, produtividade da cultura, uso de pré-secagem e/ou aditivos, forma de enchimento, compactação, dias úteis trabalhados (em função principalmente do clima), número de horas trabalhadas por dia, além da disponibilidade e qualificação da mão de obra para o trabalho a ser executado.

Submodelo 3

No submodelo de fermentação, a qualidade da mesma depende do estádio de maturação (acúmulo de matéria seca em função de quantidade e maturação dos grãos), dos açúcares fermentáveis, do poder tampão, da presença de microrganismos lácticos, do tamanho das partículas, da vedação final (com uso de táboas, pneus, plástico, terra, esterco etc.) para manutenção da anaerobiose, da vedação concomitante com o enchimento, da velocidade de enchimento (redução de perdas aeróbias), da compactação contínua (expulsão de ar), do uso de aditivos e de artifícios (microbiológicos, químicos, físicos e nutricionais), do tipo de silo e da drenagem de efluentes.

Submodelo 4

O submodelo seguinte é o da desensilagem, que é influenciado pela estabilidade aeróbia ou resistência à deterioração quando o silo é aberto (açúcar residual, microrganismo aeróbios, ácidos orgânicos, etc.), pela forma de desensilagem (fatia ou degrau), pela limpeza de resíduos de silagem que ficam no silo, pelo tamanho da fatia diária e pelo tempo de exposição ao ar (que para ser mínimo deve exigir um dimensionamento correto entre tamanho do silo e do rebanho), pelas condições climáticas e pela proteção da camada exposta.

A partir do momento em que o produtor tem controle sobre todas essas informações, pode tomar decisões sobre a silagem que está produzindo ou vai produzir. Bem informado pode questionar-se sobre a viabilidade de fazer silagem – apenas de milho, de sorgo, de milho e sorgo, de outras gramíneas – ou alimentar seu gado com feno ou cana-de-açúcar. Pode, ainda, pensar em sistemas como sucessão ou associação de culturas. O cooperativismo também é um fator que deve ser analisado, pois a ensilagem requer concentração de esforços para ser eficiente, ou seja, o número de máquinas, carretas, mão-de-obra e equipamentos é grande para um período relativamente pequeno de tempo, principalmente se o plantio não foi dimensionado ou escalonado de uma forma adequada.

A decisão sobre ensilar ou não tem base em diversos fatores, como conscientização do produtor de que está diante de uma empresa agrícola, complexidade do processo para produção de silagens, controle de dados (escrituração, detalhes, eficiência), concentração de atividades (cooperação, organização, tercerização), características produtivas do rebanho e da propriedade, clima (acúmulo termal/unidade fototérmica, temperatura, luminosidade e água), definição de valor nutritivo e custos.

COMENTÁRIO: O conceito teórico para produção de silagem é simples, mas a execução correta é complexa. Com controle de dados, análise crítica, uso de modelos e simulações, o produtor pode tomar melhor suas decisões considerando a estrutura e o rebanho da propriedade, e se adequar para enfrentar a estacionalidade de produção das plantas forrageiras através da produção de silagens de alta qualidade e baixo custo. Softwares que utilizem modelos matemáticos confiáveis para auxilar os produtores só surgirão no mercado quando houver dados locais suficientes para seu desenvolvimento e validação. Esses modelos já existem em alguns países e poderão ser adaptados às nossas condições. Entretanto, mesmo sem a existência de softwares no momento, pensar e executar a atividade de produção considerando todos os componentes de cada submodelo descrito acima sem dúvida aumentará a chance de sucesso do produtor.

Referência:

DEMARCHI, J.J.A.A. In: Agropecuária Hoje, Piracicaba, Ano V, n. 25, p.2, maio-junho-1999. (Anais do I WORKSHOP sobre milho para silagem).

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