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Simulação bioeconômica da intensificação da produção de carne

Marcelo Manella1 e Celso Boin2

A produção de carne de qualidade e de maneira eficiente só é possível em sistemas racionais de produção, considerando sempre os aspectos tecnológicos, econômicos e de sustentabilidade do meio ambiente. A produção de carne de forma intensiva exige invariavelmente maior disponibilização de capital, que conseqüentemente torna necessário, ou melhor, obrigatório a maior rentabilidade do sistema a ser implementado. Desta forma torna-se importante a avaliação cuidadosa do impacto bieconômico da estratégia a ser implementada no sistema de produção.

Neste contexto Cezar e Euclídes Filho (2000) apresentaram no V Encontro Nacional de Novilho Precoce em Campo Grande-MS alguns efeitos da interação entre a intensificação dos sistemas com o impacto bioeconômico. A análise foi feita comparando diferentes combinações de genótipo animal com alternativas de produção, envolvendo as atividades de cria, recria, e engorda. Para tal análise utilizou-se modelo de simulação, onde são incorporados os principais componentes da propriedade de corte, agregando custos e receitas, cálculo do fluxo de caixa e indicadores biológicos e econômicos.

Segundo os autores a simulação foi baseada em uma fazenda de 1381 ha de pastagens cultivadas, e com rebanho estabilizado, sendo que os índices zootécnicos, acima da média nacional, indicavam que os problemas básicos da atividade de pecuária de corte já estivessem resolvidos (manejo nutricional, reprodutivo e sanitário). O indicador econômico utilizado foi a margem bruta (receita – custos variáveis). Sendo os seguintes itens considerados com custos: vacinas, vermífugos, suplementos (mineral, enérgico e protéico), ração para confinamento (quando for o caso), mão-de-obra, encargos sociais, despesas com veículo, contribuição social (calculado sobre receitas), e touros de reposição. Atribuiu-se ainda aos custos a adubação de suporte das pastagens. A receita foi composta, por sua vez, pela venda de vacas descarte para abate, bois gordos (16 @), bezerras desmamadas excedentes, e tourinhos gordos para abate.

As simulações utilizaram informações referentes ao peso à desmama de animais com 150 ou 200kg de peso vivo, com modificações na oferta e qualidade de alimentos disponíveis aos animais, que refletiu em ganhos de 500 e 700g/dia para os animais machos no período das águas. As características básicas dos sistemas de produção são apresentadas abaixo:

Sistema 1: Suporte na seca 1 UA/ha; Peso de macho à desmama 150 kg; GPD dos machos nas águas 500 g
Sistema 2:Suporte na seca 1 UA/ha; Peso de macho à desmama 200 kg; GPD dos machos nas águas 500 g
Sistema 3: Suporte na seca 1 UA/ha; Peso de macho à desmama 200 kg; GPD dos machos nas águas 700 g
Alternativa 1: Sem suplementação
Alternativa 2: Suplementação dos machos na 2a seca (R$ 0,78/cabeça/dia)
Alternativa 3: Suplementação dos machos na 1a seca e confinamento na 2a seca (R$ 0,45 e R$ 1,17/cabeça/dia respectivamente)

Os resultados obtidos referentes à simulação são apresentados na tabela 1. Os melhores resultados dos indicadores biológicos foram obtidos com os animais suplementados na 1a seca e confinados na 2a. O peso à desmama foi fundamental para a idade ao abate dos animais, especialmente ao comparar as alternativas sem suplementação. Benefícios maiores podem ser verificados quando o peso na desmama, associado ou não ao melhor ganho de peso durante as águas, é combinado com suplementação alimentar durante o segundo período seco (alternativa 2), ou mesmo quando essa suplementação ocorre no primeiro período seco e os animais são confinados na seca seguinte, alternativa 3.

Tabela 1: Indicadores bioeconômicos de diferentes alternativas para intensificar sistemas de produção

Tabela 1

Fonte: Cezar e Euclídes Filho (2000)

Os autores ainda fazem referência da diminuição do período de confinamento para os animais com maior peso à desmama e maior ganho nas águas. Com a diminuição da idade de abate, abaixo dos 30 meses, a simulação demonstrou aumento no número de cabeças no rebanho, fêmeas em reprodução e machos para o abate em 10%, 40% e 42%, respectivamente. Cezar e Euclídes Filho (2000) afirmam que isto ocorre pois há liberação de pastagens, devido à diminuição de duas categorias de machos em recria, viabilizando o aumento do número de fêmeas em reprodução. A melhora na eficiência produtiva do rebanho também pode ser observada pela maior produção de kg de equivalente carcaça e taxa de desfrute, principalmente nos sistemas onde os animais apresentaram melhor nível nutricional e melhor genótipo (peso à desmama).

Apesar das alternativas de intensificação promoverem resultados positivos do ponto de vista biológico, o mesmo não ocorreu com respeito aos aspectos econômicos. Com a melhora do status nutricional dos animais do sistema 1 houve drástica redução na margem bruta, sendo também observada, porém em menor intensidade, no sistema 3. Entretanto, no sistema 2, quando o peso na desmama foi elevado de 150 kg para 200 kg, houve incremento na margem bruta de 20% e 35%, respectivamente, para as alternativas 2 e 3 quando comparadas com a alternativa 1. Segundo os autores o peso na desmama tem efeito positivo mais acentuado no desempenho econômico dos sistemas mais intensivos. Isso ocorre pela redução de custos resultante do menor período de permanência no confinamento.

O retorno econômico, decorrente da intensificação do sistema, é sensível ao peso do animal na desmama, além de alta sensibilidade com relação ao GPD nas águas, onde observou-se incremento de 84% na margem bruta da alternativa 1 do sistema 3 em relação à mesma alternativa do sistema 2. A utilização de suplementação alimentar na segunda seca no sistema 3 e alternativa 2, reduziu drasticamente a margem bruta, em função dos preços mais elevados de milho e soja que compunham as dietas, na época da simulação. Porém, a redução também observada na alternativa 3 em relação a 1 foi de apenas 5%, que com apenas pequenas reduções nos custos das rações tornam aquela alternativa mais atrativa economicamente. Também devemos considerar que a utilização de subprodutos da agroindústria podem contribuir positivamente para o aumento da margem bruta de ganho.

Outro fator a se considerar seria a maior remuneração por carne de qualidade a ser repassada aos produtores, onde verificou-se que para incrementos de 5% e 10% no preço da arroba de machos com 24 meses, haveria aumentos de 7% e 19% na margem bruta da alternativa 3 do sistema 3 em relação à alternativa 1 (33 meses) (Tabela 2). Já no caso do sistema 2, tais incrementos no preço promoveriam aumentos na margem bruta de 57% e 78%, respectivamente, em relação à alternativa 1 (40 meses). A intensificação dos sistemas de produção, além de ser mais eficiente do ponto de vista biológico, é significativamente sensível a incrementos do preço da @.

Tabela 2: Sensibilidade em relação ao preço de arroba de novilho precoce

Tabela 2

Fonte: Cezar e Euclídes Filho (2000)

Comentário BeefPoint: Os dados deste trabalho, apesar de terem sido avaliados de forma empírica, representam, de alguma forma, a influência das diferentes estratégias de produção na bioeconomicidade da cadeia da carne bovina. Porém, considerações devem ser feitas quanto a aplicação e analise destes dados, pois cada propriedade tem sua particularidade quer física ou regional, portando com custos variáveis. O melhoramento genético do rebanho, entretanto, é fundamental para a melhor eficiência de qualquer que seja o sistema. A aplicação de novas técnicas deve ser assistida por consultoria técnica especializada, com bom conhecimento não só biológico, mas principalmente de mercado e suas tendências.

Referências Consultadas

Ivo Martins Cezar e Kleper Euclídes Filho (2000). Sistemas de produção de novilho precoce: Avaliação econômica. V Encontro Nacional do Novilho Precoce. Campo Grande-MS.

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1. Doutorando em Ciência Animal e Pastagem, Departamento de Produção Animal, ESALQ-USP
2Eng. Agr., PhD, Prof. Convidado,ESALQ/USP, Consultor

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