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Suplementação a pasto

Renta Boranga

1) Introdução

A baixa rentabilidade da atividade pecuária tradicional tem pressionado a substituição por outras atividades mais rentáveis ou pela intensificação da produção.

A intensificação dos sistemas de produção implica em manejo racional das pastagens nas águas e suplementação ou confinamento durante a seca, impedindo que os animais fiquem ganhando e perdendo peso alternadamente. O resultado é redução da idade de abate, aumento do desfrute, maior eficiência e maior giro do capital empregado.

Na seca, além da menor oferta de alimento a pasto, a qualidade da forragem também é pior, ocasionando perda de peso dos animais.

Sistemas de produção apenas à base de pastagem e suplementação mineral convencional, com excelente manejo de produção, podem atingir idade mínima de abate de 30 meses, sendo desmama aos 7 meses (peso: 150 a 180 Kg) e abate aos 28/32 meses (peso: 450 a 480 Kg). Para abater com idades inferiores, os ganhos de peso durante o período seco devem ser maiores do que 200 g/dia.

Suplementação com grandes ganhos de peso na seca, maiores do que os obtidos nas águas, pode ocasionar o efeito de “perda” compensatória, minimizando o resultado.

Uma estratégia de suplementação adequada seria aquela destinada a melhorar o uso da forragem, maximizando seu consumo e digestibilidade.

2) Misturas múltiplas

Misturas múltiplas são produzidas a partir da adição de fontes protéicas (uréia e proteína verdadeira) e/ou energéticas à mistura mineral.

a) Suplementos protéicos

Um tipo de mistura múltipla é o suplemento protéico, uma evolução da mistura mineral-uréia (objetiva manutenção de peso na seca), acrescido de uma fonte protéica. O consumo é maior, assim como o desempenho animal, em relação ao sal com uréia.

Na época seca, a forragem caracteriza-se por elevado teor de fibra e deficiência protéica (geralmente, não atinge 7%). Consequentemente, a digestibilidade da fração fibrosa do alimento, a taxa de passagem e o consumo são prejudicados. Os animais consomem em menor quantidade, pastagem de pior qualidade. Além da carência protéica, os animais também sofrem de carência energética.

O simples fornecimento de alimentos energéticos não resolveria a deficiência de proteína, podendo agravá-la. Por outro lado, ambas as deficiências podem ser resolvidas com o fornecimento de suplementos protéicos.

A proteína verdadeira (farelo protéico) supre a deficiência de nitrogênio das bactérias ruminais, permitindo aumento de consumo da forragem de baixa qualidade e, consequentemente, maior ingestão de proteína e energia. A situação de perda de peso reverte-se para ganho moderado, aproximadamente de 150 a 300 g/dia, dependendo da disponibilidade de forragem. É fundamental se fazer o diferimento (veda) da pastagem no final da estação chuvosa.

Os resultados da suplementação protéica são maiores, em estímulo de consumo, com forragem de baixa qualidade. Estes suplementos devem ser constituídos de fontes de proteína de alta degradabilidade, objetivando atender os microorganismos ruminais. A condição fundamental para sua eficiência é a disponibilidade de forragem.

Os microorganismos do rúmen requerem um suprimento balanceado entre energia e proteína. O nível de proteína degradável no rúmen deve ser aproximadamente 13% do NDT. Excesso de proteína consumida sem quantidade adequada de energia resulta em perda de nitrogênio na excreta, com gasto de energia.

Os proteinados comerciais para seca normalmente contém em torno de 40 a 50% de proteína bruta, sendo metade proveniente de nitrogênio não protéico (uréia) e o restante proveniente de fontes de proteína verdadeira (farelos protéicos). O sal comum entra em torno de 20 a 30%, controlando consumo entre 0,5 e 1 g/kg de peso vivo. Apresentam ainda 30 a 40% de NDT, além dos minerais essenciais que também são fornecidos no suplemento. Podem eventualmente conter vitaminas e ionóforos.

O potencial de aumento no ganho de peso com o uso de ionóforos é grande, com respostas na ordem de 50 a 100 g/cab.dia de incremento no ganho de peso, consumindo em torno de 200 mg diárias de monensina sódica. Este incremento varia com a freqüência de fornecimento aos animais. O ionóforo limita o consumo diminuindo a inclusão de sal comum para 10 a 15% e o consumo do suplemento normalmente é 15 a 20% menor.

Existem evidentes vantagens em se usar uréia como fonte de nitrogênio para ruminantes, tais como sua alta disponibilidade, alta concentração de nitrogênio e principalmente o baixo custo unitário de nitrogênio. Utiliza-se uréia nos suplementos múltiplos de seca com dois objetivos principais: fornecer nitrogênio para os microorganismos ruminais e como limitante de consumo.

Considerando que fontes de proteína verdadeira são caras, a uréia pode substituir pelo menos 30% da proteína degradável o rúmen (PDR), sem afetar substancialmente o consumo e a digestibilidade da forragem, ou a performance do rebanho.

Nas águas, quando a forragem é de melhor qualidade, utiliza-se suplementos protéicos com teor médio de proteína (20 a 25% proteína verdadeira), objetivando aumento até 20% no ganho de peso, em relação a suplementação convencional. Nesta época, suplementação adicional de proteína protegida (não degradável no rúmen) pode ser interessante, já que suplementar com proteína de boa qualidade e de baixa degradabilidade atende diretamente o animal.

Como a proteína bruta das pastagens é praticamente toda degradável no rúmen, e não chega ao intestino delgado, suplementação de proteína pós rúmen pode maximizar a performance de animais em crescimento, principalmente animais de grande potencial de produção, permitindo alto desempenho.

Baixa degradabilidade no rúmen permite uma maior quantidade de matéria seca total no trato digestivo, sem afetar a digestão no rúmen, aumentando o consumo de pastagem de boa qualidade, que fornece mais proteína degradável no rúmen.

Um exemplo de fonte de proteína protegida é farinha de peixe. Problemas de consumo ocasionais podem ser notados por causa da sua baixa palatabilidade.

b) Suplementos energéticos

Ao contrário da suplementação protéica, a suplementação energética pode não afetar positivamente ou até reduzir o consumo da forragem, dependendo da quantidade de suplemento consumido, podendo ainda piorar a deficiência protéica, resultando em redução da digestibilidade da forragem e desempenho animal.

Geralmente, quanto maior o consumo do suplemento, menor o consumo de forragem evidenciando o efeito substitutivo. A substituição aumenta com a melhoria da qualidade da forragem e decresce com o incremento do nível de proteína do suplemento. Quando a disponibilidade de forragem é limitada, suplementação energética obviamente resultará em resposta animal, tendendo a ser benéfica. Porém, muitas vezes pode ser antieconômica. Assim, as exigências energéticas poderiam ser atingidas primeiro indiretamente através do fornecimento de proteína.

Se a oferta for alta, ocorrerá resposta somente se a forragem for de baixo valor nutritivo, pois há alto nível de substituição. O efeito aditivo que pode ocorrer simultaneamente é evidenciado pelo aumento na capacidade suporte e no ganho de peso por animal que ocorre em função da suplementação energética.

A inclusão de uma fonte energética pode aumentar o desempenho animal para até 600 g/cab.dia, mas o consumo diário do suplemento será de 0,6 a 1.2% do peso vivo, se caracterizando como semi-confinamento.

Atualmente há também uma busca por suplementos múltiplos com consumo intermediário, tanto para seca como para as águas.

Na seca, após atender os requerimentos de proteína, suplementação energética adicional pode ser mais eficiente que protéica. O ganho de peso esperado varia entre 300 e 500 g/cab.dia, sendo o consumo em torno de 0,3 a 0,4 g/kg de peso vivo por dia. Normalmente são utilizados durante a primeira estação seca pós desmama, quando o objetivo é cobrir fêmeas com 15 meses de idade ou para abate de machos com idade inferior a 20 meses.

Nas águas, um suplemento múltiplo de consumo entre 0,2 e 0,3 g/kg de peso vivo por dia forneceria, além de proteína e minerais, energia adicional. Resulta em incremento no ganho de peso até 40% em relação à suplementação convencional. Para adequar à variação de produção das pastagens e ao mesmo tempo reduzir custo, esta suplementação energética obtém melhor resultado se realizada apenas a partir do mês de fevereiro, quando a qualidade e disponibilidade das pastagens começam a cair, reduzindo o desempenho animal.

Uma alternativa para o programa de produção de novilho precoce, com máximo aproveitamento da pastagem, deve-se fazer suplementação nas águas e na seca, com mínimo de uso de concentrado de 1 kg/cab.dia.

3) Conclusão

Para viabilizar a produção de gado de corte, é preciso manejar racionalmente as pastagens durante a estação de crescimento (águas) e suplementar a alimentação dos animais durante o período seco, associado ao diferimento da pastagem.

O objetivo da suplementação varia com o sistema de produção, normalmente definido em função das idades ao abate e à primeira cria esperados.

O desempenho animal também depende da raça, seleção genética além do manejo nutricional.

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Fonte: Renata Boranga, Supervisora de Mercado da Bellman Nutrição Animal

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