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Suplementação de animais a pasto – 2

Não apenas fontes de carboidratos de fermentação ruminal são importantes para a produção microbiana. Há necessidade de fontes protéicas, pois a amônia (NH3) é requerida principalmente por bactérias que degradam carboidratos estruturais (CE – celulose, hemicelulose), enquanto que bactérias que fermentam carboidratos não estruturais (CNE – amido, açúcares), necessitam também de aminoácidos e peptídeos.

A uréia como fonte de nitrogênio não protéico (NNP) fornecerá apenas NH3 para o crescimento bacteriano. Cochran et al. (1998), baseado em trabalhos com forragens de baixa qualidade conduzidos na Universidade do Kansas (EUA), recomendam que o uso de uréia não deve ultrapassar o equivalente a 25% da proteína degradável no rúmen. Valores maiores que esse parecem reduzir o consumo de MS e sua digestibilidade. Köster et al. (1997), trabalhando com animais suplementados a pasto com diferentes níveis de uréia no suplemento em substituição à caseína (fonte de proteína verdadeira), onde o suplemento apresentava concentração de 40% de proteína, mostram que, apesar das diferenças não serem significativas, houve tendência para redução na ingestão de forragem e também na degradação da MS e da FDN (Tabela 1).

Tabela 1- Efeito do nível de uréia no suplemento, no consumo de MS, MOD e digestibilidade da MO e da FDN.

Tabela 1

Da mesma forma que deficiência de proteína degradável no rúmen é prejudicial ao animal, pois reduz consumo e digestibilidade, altos níveis de proteína na forragem também podem reduzir desempenhos. O valor de 210 g de proteína bruta por kg de matéria orgânica digestível (MOD), foi colocado por Poppi e McLennan (1995) como sendo o nível máximo para que não se tenha perdas de amônia no rúmen.

Para forragens temperadas que apresentam 80% de MOD o nível máximo de PB seria de 15,1%. Dificilmente excesso de PB ocorre em forragens tropicais, pois essas apresentam, nos períodos de maior qualidade, entre 60 e 70% de MOD. Desse modo, valores até 13,20% de PB na MS não apresentariam problemas de perdas de amônia no rúmen.

O excesso de proteína é transformado em amônia no rúmen, absorvido pela parede ruminal e transformado em uréia para ser excretado via urina. Nesse processo ocorre gasto de energia; esse gasto energético é chamado de custo uréia. O NRC (1996), calcula o custo uréia através da seguinte fórmula: custo uréia (Mcal/d) = [0,012*N(g/d)/0,45], desse modo pode se prever que para cada 100 g em excesso de N o custo é de 2,66 Mcal/dia. Essa perda energética pode, portanto, reduzir o desempenho animal, ao contrário de gerar efeito benéfico por se ter uma forragem de alto nível de proteína.

Programas de suplementação protéica em sistemas que utilizam forragens de baixos níveis de proteína, devem levar em consideração a reciclagem de nitrogênio para o rúmen. Quanto menor o teor de PB na dieta, maior a reciclagem de N na forma de uréia vinda do fígado para o rúmen. Em dietas contendo de 5 a 20% PB, a reciclagem foi respectivamente de 70 a 11% do nitrogênio consumido. De 23 a 92% da uréia podem ser reciclados para o rúmen. A via de entrada da uréia pode ser a saliva ou a parede ruminal, graças à enzima urease produzida por microorganismos, uma vez que o tecido animal não produz urease.

A reciclagem de N depende de alguns fatores:

– [amônio] no rúmen: quanto menor, maior a reciclagem
– pH ruminal: quanto maior o pH, maior a reciclagem
– MOD: quanto maior MOD, maior a reciclagem.

Portanto, a suplementação com carboidratos de alta digestão ruminal, pode ser vantajosa em dietas de baixo nível de proteína, em sistemas com suplementações protéicas, ou em forragens de alto nível protéico.

Referências bibliográficas

COCHRAN, R. C.; KÖSTER, H. H.; OLSON, K. C.; HELDT, J. S.; MATHIS, C. P.; WOODS, B. C.. Supplemental protein for grazing cattle examined. Feedstuffs, February 16, 1998.

POPPI, D. P.; McLENNAN, S. R. Protein and energy utilization by ruminants at pasture. Journal Animal Science. 73:278-290, 1995.

KÖSTER, H. H.; COCHRAN, R. C.; TITGEMEYER, E. C.; VAZANT, E. S.; NAGARAJA, T. G.; KREKEMEIER, K. K.; St-JEAN, G.. Effect of increasing proportion of supplemental nitrogen from urea on intake and utilization of low-quality, tallgrass-prairie forage by beef steers. Journal Animal Sci. 74:1393, 1997.

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1 Colaborou

Patricia Menezes Santos, Engenheira Agrônoma, doutoranda em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP

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