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Suplementação de Cromo (Cr) para Bovinos

Luís Orlindo Tedeschi 1

Todos os seres vivos necessitam de elementos inorgânicos (minerais) para seus processos vitais normais. As funções dos minerais na fisiologia animal estão inter-relacionadas e poucas vezes podem ser considerados como funções independentes.

Até o desenvolvimento de técnicas analíticas precisas, uma grande quantidade de elementos minerais presentes nos tecidos vivos eram denominados “elementos traço” e suas funções e seu metabolismo dificilmente eram estudados.

Descobertas sucessivas sobre a essencialidade de alguns minerais presentes em pequenas concentrações no organismo, levaram a diagnosticar deficiência destes minerais em várias regiões do mundo e revelaram que estes minerais tinham uma importância econômica considerável. Um dos últimos microminerais a ser investigado foi o cromo.
Existe um evidente aumento no interesse de suplementação de Cr para melhorar a saúde e o estado nutricional de ruminantes. Na maioria das vezes, as respostas positivas têm sido encontradas apenas para animais com estresse. Essa melhoria pode ser devido ao aumento da eficiência imunológica e conseqüente resistência ao estresse.

Uma das principais funções do Cr no organismo animal está relacionada ao papel da insulina na eliminação do excesso de glucose sangüínea, portanto o Cr é considerado essencial para o metabolismo normal do carboidrato nos animais. Diferente dos animais não-ruminantes, a maior parte da glucose sangüínea nos ruminantes é derivada do processo gluconeogênico (dois terços) ao invés da absorção via intestino (um terço), portanto os tecidos dos ruminantes parecem ser mais refratários à insulina do que os tecidos dos não ruminantes (Brockman, 1986).

Devido a essa pouca importância do Cr para os processos metabólicos da insulina nos ruminantes, a deficiência de Cr, em nível celular, é de difícil avaliação e portanto o estabelecimento de sua exigência é complicada.

A suplementação de Cr parece melhorar o perfil imunológico em ruminantes quando submetidos a condições de estresse, principalmente para bezerros (Chang e Mowat, 1992; Moonsie-Shagger e Mowat, 1993). Esse efeito no perfil imunológico Aapresenta resultado apenas durante poucas semanas a partir do início do estado de estresse dos animais (Chang e Mowat, 1992). Quando os bezerros apresentam-se “psicologicamente” adaptados, os efeitos da suplementação de Cr não são observados (Chang e Mowat, 1992; Chang et al., 1992). Bunting et al. (1994) mostraram que a suplementação de Cr para bezerros Holstein não afetou o ganho de peso, a ingestão, a conversão alimentar e a concentração de glucose sangüínea, embora tenha sido observada uma redução no colesterol plasmático.

Burton (1995) obteve os mesmos resultados com a suplementação de Cr orgânico. Os níveis de insulina, somatotropina e IGF não foram afetados com a suplementação, entretanto os níveis de corticóides apresentaram-se reduzidos para os animais suplementados. O autor sugeriu que a suplementação com Cr deve ser efetuada apenas para os bezerros durante a desmama, transporte e início de confinamento, ou seja, períodos de estresse.

Alguns trabalhos com animais sem problemas de estresse têm mostrado resultados variados tanto para os parâmetros de crescimento como nos processos metabólicos (Britton et al., 1968; Chang e Mowat, 1992; Chang et al., 1992). Para suínos, os resultados dependem da forma em que o Cr é suplementado. As formas orgânicas parecem ser mais eficientemente absorvidas (Page et al., 1993), embora em alguns trabalhos foi observado que a suplementação de Cr na forma de cloreto de cromo (CrCl3) também apresentou alta digestibilidade. Mowat et al. (1993) mostraram que o uso de Cr quelatado, junto ou separado de outros microminerais, também apresentou os mesmos efeitos de diminuição de morbidade, diminuindo também os níveis de corticóides e o de glucose do sangue.

Apesar das vantagens observadas em diversos estudos do uso de cromo para animais sujeitos ao estresse, Simonik et al. (1990) observaram que o efeito espermicida dos microminerais (tais como cromo, cobre e zinco) é aumentado à medida em que aumenta-se a dosagem. Portanto, o uso de Cr para touros em reprodução não é recomendado.

Preparado por Luís Orlindo Tedeschi

Referências:
BRITTON,R.A.; McLAREN,G.A.; JETT,D.A. Journal of Animal Science, v. 27, p. 1510, 1968.
BROCKMAN, R.P.; LAARVELD, B. Livestock Production Science, v.14, n.4, p.313-334, 1986.
BUNTING,L.D.; FERNANDEZ,J.M.; THOMPSON JR,D.L.; SOUTHEN,L.L.. Journal of Animal Science, v. 72, n. 6, p. 1591-9, 1994.
BURTON,J.L. Animal Feed Science and Technology, v. 53, n. 2 , p. 117-33, 1995.
CHANG,X.; MOWAT,D.N.; SPIERS,G.A. Canadian Journal of Animal Science, v. 72, n. 3, p. 663-69, 1992.
CHANG,X; MOWAT,D.N. Journal of Animal Science, v.70, n. 2, p. 559-65, 1992.
MOONSIE-SHAGEER,S.; MOWAT,D.N. Journal of Animal Science, v. 71, n. 1, p. 232-38, 1993.
MOWAT,D.N.; CHANG,X.; YANG,W.Z. Canadian Journal of Animal Science, v. 73, n. 1, p. 49-55, 1993.
PAGE,T.G.; SOUTHERN,L.L.; WARD,T.L.; THOMPSON Jr,D.L. Journal of Animal Science, v. 71, n. 6, p. 656-62, 1993.
SIMONIK,I.; PAVELKA,J.; KUDLAC,E. Reproduction in Domestic Animals, v. 25, n. 5, p. 242-46, 1990.

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1. Doutorando, Ciência Animal, Universidade de Cornell

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