O temperamento de vacas durante o parto é um tema de crescente importância na pecuária, especialmente quando se considera o impacto que esse fator pode ter na produtividade e no manejo seguro do rebanho. Recentemente, um estudo realizado pela Angus Australia em colaboração com a Meat & Livestock Australia Donor Company trouxe novos insights sobre como a genética e o ambiente influenciam o temperamento das vacas no momento do parto. Este artigo analisa os resultados dessa pesquisa e suas implicações para a seleção e manejo de gado.
Os produtores enfrentam decisões de seleção que incluem uma variedade de características e traços. No contexto da seleção de reprodutores ou na retenção de fêmeas para reprodução, o temperamento foi identificado como o critério mais importante, superando até mesmo o melhoramento genético. A preocupação com o temperamento das vacas é motivada por sua influência direta em vários aspectos, como:
O estudo conduzido pela equipe da Texas A&M University analisou uma população de gado cruzado Nellore x Angus ao longo de 17 anos, com um total de 4.337 registros de temperamento coletados de 946 vacas. As vacas foram avaliadas durante o parto, sendo classificadas em uma escala de 1 (muito calmas) a 5 (muito agressivas). O objetivo foi entender a relação entre o temperamento, as características reprodutivas e a produtividade.
Uma das principais descobertas do estudo foi a hereditariedade do temperamento. Os resultados indicaram uma hereditariedade de 0,23 para o temperamento das vacas no momento do parto, o que sugere que tanto fatores genéticos quanto ambientais desempenham papéis significativos na formação do temperamento. Além disso, uma forte influência ambiental permanente foi identificada, indicando que experiências precoces, especialmente as interações maternas, podem impactar o temperamento a longo prazo.
Contrariando a crença comum de que vacas mais calmas apresentam melhores taxas reprodutivas, o estudo revelou que vacas com temperamentos mais agressivos tiveram melhores taxas de parto e desmame. Vacas com pontuação de temperamento 1 apresentaram uma taxa de parto média de 78%, enquanto aquelas com pontuação 5 alcançaram 88%. Essa descoberta levanta questões sobre a relação entre temperamento e instinto materno, sugerindo que vacas com temperamentos mais elevados podem ter instintos maternos mais fortes.
O ambiente também desempenha um papel crucial na formação do temperamento. O estudo sugere que vacas podem adquirir traços comportamentais do ambiente materno, com vacas de ambientes similares apresentando temperamentos semelhantes. No entanto, a pesquisa não encontrou correlações significativas entre fatores ambientais, como temperatura e estação do parto, e o temperamento, embora a influência de condições climáticas nos comportamentos das vacas tenha sido notada.
Os resultados deste estudo têm importantes implicações para as práticas de criação e manejo de gado. A crença de que a seleção por vacas mais dóceis leva a uma melhor produtividade é desafiada, sugerindo que o temperamento é um traço complexo. Portanto, a seleção deve buscar um equilíbrio entre temperamento e outras características, como instinto materno e capacidade reprodutiva.
O estudo sobre o temperamento de vacas e parto revela a complexidade desse traço, destacando que vacas com temperamentos mais agressivos podem, surpreendentemente, ter vantagens reprodutivas. Compreender as influências genéticas e ambientais sobre o temperamento é crucial para aprimorar as práticas de seleção e manejo, permitindo que os produtores maximizem a eficiência e a segurança em suas operações. A integração dessas descobertas nas estratégias de criação pode levar a rebanhos mais saudáveis e produtivos.
Ao considerar a evolução das práticas de manejo e seleção, é essencial que os produtores adotem uma abordagem holística, que leve em conta tanto o comportamento quanto a genética, para alcançar os melhores resultados em suas operações.
Fonte: Beef Central.