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3 de novembro de 2000
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17 de novembro de 2000

Teor de proteína em dietas para confinamento – exigências do animal

Dante Pazzaneze Lanna1 e Sérgio Raposo de Medeiros2

No último radar, apresentamos algumas sugestões básicas para a adequação protéica da dietas de ruminantes em confinamento. O objetivo desta segunda parte será, mais uma vez, procurar colocar essa questão da forma tão clara e simples quanto possível. Consequentemente, algumas generalizações são necessárias. Na prática, entretanto, muitas vêzes elas acabam sendo benvindas, principalmente porque o uso de dietas muito particulares é de operacionalização difícil e percebemos que não existe possibilidade de se ter muitas dietas em uma operação, sob risco de se criar mais problemas do que soluções.

Mais uma vez, é preciso recomendar àquele produtor que não tem grandes conhecimentos de nutrição que não tente fazer o programa nutricional “na raça”. Há até possibilidade dele acertar em algumas áreas, mas fatalmente algum erro será cometido. Este erro pode ser aquele que irá comprometer todo o resultado do projeto. Se o produtor não tem conhecimento de nutrição de ruminantes, é recomendável que procure o auxílio de técnicos bem treinados.

O objetivo específico deste radar é apresentar conceitos relativos às exigências de proteína do animal. Estamos assumindo que os microorganismos do rúmen estão sendo atendidos nas suas exigências de proteína verdadeira degradável e de nitrogênio não protéico. Para estas exigências vide sugestões do radar anterior.

Atendendo as exigências do animal

Atender as exigências do animal é um processo simples, desde que o responsável pelo confinamento saiba corretamente descrever os animais utilizados, bem como o tipo de nutrição a que estavam submetidos.

Em primeiro lugar, é preciso conhecer o peso dos animais a serem trabalhados. O peso tem um efeito importante. Quanto mais pesado o animal maior são as exigências de energia e menores são as exigências de proteína e da maioria dos minerais como o cálcio e fósforo. Existem equações específicas para calcular este efeito e estas podem ser encontradas no NRC, AFRC e outros manuais de normas e padrões de alimentação.

Em segundo lugar, temos o sexo. Animais inteiros tem exigências de proteína mais elevadas que animais castrados e estes do que fêmeas. Temos também o caso dos animais anabolizados exógenamente (atualmente não permitidos no Brasil, e sim em outros países exportadores de carne como Argentina, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos entre outros). Os anabolizantes esteróides não requerem alterações no fornecimento de proteína, embora alguns resultados sugiram para a necessidade de um pequeno incremento no teor de proteína metabolizável das dietas. Anabolizantes como o hormônio do crescimento e beta-adrenérgicos requerem aumentos no teor de proteína, cálcio e fósforo das dietas.

A genética dos animais também é muito importante para definição das exigências de proteína do animal. Algumas raças se caracterizam por depositar gordura a pesos muito elevados. Podemos citar entre outros exemplos o Marchigiana, o Chianina e o Charolês e como animais um pouco menos tardios na deposição de gordura o Simental e o Limousin. Animais como o Gelbvieh, Canchim, South Devon e Caracu seriam um pouco menos tardios, ficando intermediários e animais como o Nelore, Angus, Hereford representam animais que tem como característica a deposição de gordura a pesos mais leves. Todas estas raças podem ser exploradas com sucesso a pasto ou em confinamento, entretanto cada uma delas tem exigências de proteína diferentes. Os animais que depositam gordura mais cedo, para um mesmo ganho de peso, requerem dietas com mais energia e menos proteína. Alternativamente, animais que depositam gordura mais tarde precisam de menos energia e mais proteína.

Como se vê, a razão pela qual a conversão alimentar dos animais de peso adulto elevado é melhor do que a de animais de deposição de gordura mais precoce é exatamente porque a deposição de energia é menor por quilo de ganho. Isto é válido sempre que as comparações sejam feitas ao mesmo peso. As raças que depositam gordura mais tardiamente sempre serão mais exigentes em proteína no confinamento.

O teor de volumosos nas dietas é outro aspecto importante. Geralmente os sistemas de alimentação criados para clima temperado (e.g. NRC, AFRC) parecem ter recomendação muito baixas para animais recebendo dietas com maior proporção de volumosos. Como estas dietas são muito comuns no nosso meio, trata-se de um problema bastante comum. Algumas tabelas que sugerem valores de 11,5% PB para dietas de animais em terminação com teores mais baixos de energia acabam por gerar desempenhos muito ruins. Sugerimos que os teores de proteína sejam elevados em relação às recomendações para dietas com alta proporção de volumosos.

Também lembramos a necessidade de se descontar da proteína disponível a proteína ligada à fibra em detergente ácido (N-FDA), principalmente em dietas com alta proporção de volumosos bem como dietas com uso de sub-produtos e resíduos. Alimentos aquecidos e silagens são alguns dos ingredientes que deveriam ser analisados para teor de N-FDA em laboratórios de confiança.

Com as informações acima bem estabelecidas, podemos definir o teor de proteína adequado. Uma das possibilidades é a consulta de tabelas de recomendações nutricionais. A limitação das tabelas é que elas são feitas para determinado tipo de animal, sendo seu uso recomendável apenas no caso dos animais aos quais se está formulando a dieta serem semelhantes àqueles para os quais a tabela foi gerada. Atualmente, há opções de programas de computador (CNCPS 4.0; NRC; RLM 2.0) para os quais fornecemos os dados dos animais e ele nos retorna, através do uso de equações, o valor mais indicado. Sem dúvida, essa é uma solução muito mais interessante.

É importante reconhecer que o valor determinado corresponde, na verdade, ao valor mínimo requerido pelo animal para o desempenho almejado. Dependendo da maior ou menor capacidade do programa usar as informações acima, ajustes podem ser recomendáveis. Situações locais, a combinação particular de alimentos, as condições particulares de cada alimento e dos animais, junto com o histórico da atividade em anos anteriores, podem fazer com que o uso de um fator de aumento seja recomendável. Entretanto, deve-se ter bastante critério para realizar esses aumentos, pois níveis exagerados de proteína, além de encarecerem a alimentação, podem reduzir ganhos de peso. Este descompasso, sozinho, pode tornar um confinamento anti-econômico.
__________________________________________________________
1. Prof. Dr. Dep. Produção Animal, ESALQ/USP
2. Doutorando, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

0 Comments

  1. roberto amancio oliveira disse:

    SENHORES DR

    BOA NOITE

    COMO DEVO PROCEDER PARA SABER O VALOR PROTEICO DE MINHA RAÇAO QUE FAÇO NA PROPRIEDADE POIS PENHO MISTURADO NA PROPRIEDADE
    CRIO OVINOS REGISTRADOS POREM SOU BASTANTE PEQUENO

    MINHA RAÇAO TEM OS SEGUINTES COMPONENTES

    MILHO MOIDO…………………………………….67,000%
    FARELO DE SOJA………………………………….26,000%
    NUCLEO NUTRON…………………………………..2,000%
    SAL COMUM…………………………………………0,700%
    OVINOFOS…………………………………………..0,250%
    CALCARIO CALCITRICO…………………………..1,500%
    MELAÇO EM PO……………………………………..2,000%
    PROBIOTICO………………………………………..0,025%
    BICARBONATO DE CALCIO………………………..0,025%
    TOTAL……………………………………………..100,000%

    TEM ALGUMA COISA QUE ESTEJA USANDO QUE ESTEJA COMANDO NOS INGREDIENTES

    AGUARDO UMA RESPOSTA

    GRATO AMANCIO