A indústria da carne, que sempre foi orientada por aspectos da produção, começa a se transformar de forma a se orientar para o consumidor. Essa é uma mudança inevitável, e o entendimento das forças que orientam essa mudança, pode ajudar a indústria da carne não só a reagir como também a administrar as mudanças.
Nós lecionamos um curso na Colorado State University intitulado: “Issues in the Meat Industry“. Durante o curso do outono passado, depois de decorridos 3/4 do curso, 56 alunos da graduação matriculados no mesmo, identificaram os principais pontos atuais relacionados à indústria da carne. Esses pontos em ordem de prioridade são:
Segurança do alimento:
* Patógenos tais como a E. coli O157:H7 e a Listeria monocytogenes,
* Contaminação por patógenos, múltiplos obstáculos na descontaminação e irradiação,
* Microrganismos resistentes a antibióticos,
* Novos processos, regulamentos e padrões de desempenho na indústria pós abate,
* Programas de garantia da qualidade em nível de fazenda,
* Encefalopatia espongiforme bovina (BSE),
* Contaminação por antibióticos, hormônios, pesticidas e alergênicos.
O pecuarista do século XXI será o responsável pela segurança no aspecto bacteriológico e químico da carne produzida e pelas conseqüências causadas à saúde pública, decorrentes das práticas e medidas de segurança biológica adotadas. Programas de garantia da qualidade da carne (Beef quality assurance – BQA), em nível de fazenda, serão um elemento chave no arsenal de medidas do pecuarista visando minimizar a contaminação microbiológica do gado, resíduos químicos na carne, a disseminação de doenças e desenvolvimento de linhagens de microrganismos resistentes a antibióticos.
Produtos amigáveis ao consumidor:
Aumentando a predominância de produtos prontos para o consumo (ready-to-eat), com marca e do tipo só tirar da embalagem (case ready), fará aumentar a necessidade do fornecimento de matérias prima de qualidade, seguras e saudáveis.
Qualidade da carne:
Abrange vários aspectos tais como: consistência, palatabilidade, melhoria da classificação (homogeneidade) e da rotulagem baseada na melhoria da previsão das características degustativas. Está chegando rapidamente a época em que, se você não sabe e não pode garantir que a carne que os seus animais estão gerando será consistentemente de qualidade desejável, você pode ter o mercado de carne moída ou mesmo não ter definitivamente mercado algum.
Organismos geneticamente modificados:
Certamente, a engenharia genética e as modificações tecnológicas do genoma serão finalmente aceitas e os produtos resultantes dessas tecnologias serão os preferidos. Até lá, a indústria da carne deve manter um enfoque de fácil controle, enquanto apoia pesquisas mais aprofundadas em organismos geneticamente modificados.
Direitos e bem estar animal:
Os consumidores estão cada vez mais preocupados como o pecuarista produz e administra seus rebanhos, enquanto as pesquisas indicam que as práticas de manejo interferem com a qualidade.
Educação do consumidor:
Vários subtópicos incluindo manejo seguro da carne, dieta, saúde e aspectos nutricionais e promocionais do produto e uma melhoria no entendimento da indústria da carne.
Carne orgânica, uso de antibióticos e hormônios: Numa produção orientada para a produção, o uso de hormônios e antibióticos, melhora a eficiência de produção. Numa indústria orientada para o consumidor, preocupações reais ou imaginárias dos efeitos desses produtos na qualidade ou segurança da carne, podem levar os pecuaristas a repensar a forma de utiliza-los.
Rastreabilidade e identificação individual do animal: Os pecuaristas devem aceitar que a rastreabilidade é inevitável e começarem imediatamente a identificar individualmente os animais, e ainda, manter relatórios e informações sobre as práticas e os medicamentos utilizados em cada indivíduo.
Meio ambiente: A fim de coexistir pacificamente com a crescente sociedade urbana, aqueles do setor agrícola devem primeiro e acima de tudo ser “bons vizinhos”. Os pecuaristas devem aprender a trabalhar em equipe e encontrar soluções comuns àqueles historicamente tidos como protagonistas a fim de melhorar a utilização de recursos hídricos, conservação do solo, e utilização racional das terras publicas e privadas.
Consolidação da integração vertical: Se não forem grandes e fortes, os produtores terão pouco ou nenhum poder de barganha na comercialização de seus produtos. A integração vertical ou coordenação entre os setores produtores da carne, na forma de alianças, associações ou cooperativas, irá ajudar os produtores na competição, e na capitalização dos seus esforços no sentido de adicionar valor aos seus produtos.
Perda de áreas agricultáveis: Os produtores devem ter o direito de dispor de suas propriedades pela melhor oferta. Embora inversamente, como nação, devemos lidar racionalmente com a proteção de nossa terra agricultável, a fim de assegurar que as futuras gerações terão acesso adequado aos alimentos.
Comércio internacional: Phil Seng, CEO (Chief Executive Officer), da U.S. Meat Export Federation, relembra, constantemente, os produtores, de que 96% de todos os consumidores potenciais de carne vivem fora dos Estados Unidos.
Desafios do setor produtivo: Os produtores encontrarão uma enorme gama de desafios à medida que adotam novas tecnologias a fim de melhorar a eficiência da produção, na busca e desenvolvimento de novos mercados e no ajuste do preço justo de mercado.
Artigo do Professor de Zootecnia da Universidade do Estado do Colorado, Dr. Gary Smith, publicado na Revista Drovers de Fevereiro de 2001.
Traduzido por Albino Luchiari Filho.