A significativa queda do consumo de carne bovina na Europa, 27% desde o início da crise da vaca louca (40% em alguns países), levou a Comissão Européia a aprovar ontem uma série de medidas cujo objetivo principal é desestimular a produção de carne bovina, diante da nova realidade do mercado, segundo reportagem de Reali Júnior, publicada hoje no O Estado de São Paulo.
Essas propostas deverão constituir o plano que será aprovado pelo Conselho de Ministros de Agricultura no dia 26. Entre as medidas técnicas, cita-se a sensível limitação do número de animais que se beneficiam de ajuda comunitária, uma forma de forçar uma gradativa redução dos rebanhos. A queda do consumo não foi motivada apenas pela retração do consumidor, mas também pelo aumento do número de embargos decididos por diversos países importadores junto aos principais exportadores europeus, como a Grã-Bretanha e a França.
A tendência de redução do consumo não pôde ainda ser invertida, porque têm surgido novos casos de contaminação do rebanho em países como Alemanha, Espanha e Portugal, mesmo após a obrigatoriedade dos testes em animais de menos de 30 meses.
Abate – Outra medida decidida envolve o plano de abate e destruição aplicado aos animais de mais de 30 meses não sujeitos aos testes obrigatórios.
Só na França, 40 mil testes são feitos semanalmente. O plano, que inicialmente previa o abate de 500 mil cabeças, dois terços desse total financiados pelo orçamento europeu, foi elevado para 800 mil cabeças.
Ao mesmo tempo, atendendo a um pedido da França, a Comissão Européia decidiu autorizar os agricultores a usar agrícolas que até agora não podiam ser cultivadas para a produção de alimento para o gado.
Todas essas medidas têm como objetivo não apenas manter a oferta e a procura equilibradas, mas também os preços no mercado. Os maiores sacrificados com essas medidas serão os agricultores que terão sua renda amputada pela limitação de seus rebanhos e, conseqüentemente, da ajuda comunitária. As regiões mais atingidas serão as de produção mais intensiva, a Bretanha na França, assim como Holanda, Bélgica e Espanha.
Deseconomia – O custo dessa operação será mais elevado que as economias geradas por ela. Isso porque as despesas para reequilibrar o mercado estão orçadas em 1,2 bilhão de euros em 2002 , enquanto as economias não deverão passar de 272 milhões de euros por ano, mas elas só terão incidência a partir de 2003.
Esse constitui mais um argumento para os que defendem uma aceleração da Política Agrícola Comum (PAC), buscando ir muito além da simples redução da produção de carne bovina na União Européia.
Por Reali Júnior, para O Estado de São Paulo, 14/02/01