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‘Vaca louca’ pode reduzir preço da carne, mas efeito seria de curto prazo, dizem economistas

Economistas monitoram os desdobramentos do caso de “vaca louca” no Pará para avaliar os impactos sobre a inflação e o preço da carne.

Desde que o caso foi confirmado, na quinta-feira (23), as exportações de carne bovina para a China foram suspensas voluntariamente pelo Brasil, seguindo protocolo sanitário.

A China é o maior comprador de carne bovina do país. Em 2022, absorveu 53,3% do volume de embarques e 60,9% da receita consolidada, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

Sem ter como escoar a produção para seu maior comprador externo, o mercado doméstico brasileiro pode vivenciar um excesso de oferta de carne bovina, o que levaria a uma queda nos preços do produto, que já não andam pressionados.

Na prévia da inflação de fevereiro, divulgada ontem, as carnes em geral (não apenas bovinas) acumulam queda de 0,70% em 12 meses, enquanto o índice cheio (IPCA-15) sobe 5,63%, e a alimentação no domicílio, 11,82%. Entre as carnes bovinas com maior peso no índice, o contrafilé acumula deflação de 0,46%, a alcatra recua 0,50% e o acém cede 3,71%.

“Temos sinais de que o lado da oferta está ajudando a inflação [o índice cheio], na função custo – a energia não está tão cara, por exemplo -, as commodities em reais estão nos níveis mais baixos dos últimos 14 meses. E temos questões pontuais também, como a ‘vaca louca’, que acaba gerando excesso de oferta de boi no país e traz um risco baixista também pela ótica da oferta”, diz Vitor Martello, economista da Parcitas Investimentos.

Com o autoembargo brasileiro, agora cabe a Pequim dar o sinal verde para a retomada dos negócios, mas não há prazo para isso. Em 2019, foram 13 dias de espera. Em 2021, mais de 100 dias.

Citando consultores, o Monitor Agro do Bradesco diz que o prazo para o fim do embargo tende a ser menor do que no último episódio.

“Vale lembrar que quanto maior o tempo de embargo, mais intensa a queda das exportações e dos preços internos do boi gordo, ainda que efeito seja temporário”, afirma a equipe do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos.

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento e da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), que tem importante interlocução com o agronegócio, disse ontem que “tudo indica” que o caso de “vaca louca” atual é “atípico”. Segundo ele, um exame para confirmar esse resultado deve ficar pronto até a próxima quarta-feira (1º).

Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Exportadores Brasileiros (AEB), um prazo para a retomada das exportações à China até abril é realista, mas ela pode ocorrer antes. Ele lembra que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem viagem marcada para a China no fim de março. “Lula não vai querer levar um caso de ‘vaca louca’ para a viagem presidencial. Estou colocando abril, mas pode ser até antes”, afirma

Segundo Castro, nesse período, o setor pode perder US$ 500 milhões em exportações. “Mas não vamos deixar de exportar, vamos apenas adiar os embarques ou redirecionar para outros países”, pondera.

O valor estimado é bem menor do que as perdas com a paralisação de 100 dias em 2021, de cerca de US$ 1,5 bilhão, segundo Castro. Ele lembra, no entanto, que, naquela época, “o Brasil tinha acabado de falar algumas coisas não muito agradáveis sobre a China”, o que pode ter atrapalhado as negociações para liberação dos embarques.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que ocupava o Planalto naquele momento, não poupava ataques à China, por exemplo, ao chamar a covid de “vírus chinês” e insinuar que o gigante asiático teria criado o coronavírus de propósito. “Agora, a diplomacia comercial está em paz, tem uma tendência de melhorar esse prazo [de liberação]”, diz Castro.

O relatório do Bradesco menciona que o governo brasileiro tenta negociar com a China embargo apenas ao Pará, liberando exportações de outros Estados. “O Pará não é um grande produtor de carne”, observa o presidente da AEB.

Economistas ponderam que, dependendo do tempo de duração do embargo, se for curto, o preço da carne bovina pode voltar e anular qualquer ganho de curto prazo.

Se for um caso atípico, “não indica que haverá grande disseminação”, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores. “Foi cancelada a exportação, frigoríficos pararam o abate. Isso, em um primeiro momento, pode aumentar a oferta doméstica. Mas me parece algo de curta duração e não algo que vem para mudar de maneira drástica os preços internos pensando no ano de 2023”, afirma.

Frigoríficos brasileiros estão recorrendo a vizinhos para não ficarem parados, mostrou reportagem do Valor. A Minerva, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, disse que atenderá à demanda da China a partir de suas três plantas no Uruguai e de sua unidade na Argentina. A Marfrig também disse que vai exportar para a China de suas seis unidades nos dois países vizinhos.

O caso de “vaca louca” foi confirmado em um animal de 9 anos – idade considerada avançada para um boi – em uma propriedade rural de Marabá (PA), que está isolada desde então.

Se for confirmado, será o sexto caso atípico no Brasil em mais de 25 anos de vigilância. Um caso atípico ocorre de forma espontânea em animais mais velhos, não é transmissível nem gera riscos para a saúde humana. Nesses anos de vigilância, o Brasil nunca registrou um episódio clássico de “mal da vaca louca”, que ocorre quando bovinos ingerem produtos que contêm material de origem animal (farinhas de carne e ossos, por exemplo) contaminados pela doença.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin: “tudo indica” que o caso de “vaca louca” atual é “atípico” — Foto: Foto: Gustavo Magalhães/MRE.

Fonte: Valor Econômico.

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