As autoridades britânicas, que até agora tentaram conter a febre aftosa com o abate em massa, começam a estudar a possibilidade da vacinação de seus rebanhos. o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, disse ontem que o governo pode mudar sua política e adotar a vacinação de animais. Em depoimento ao Parlamento, o ministro da Agricultura, Nick Brown, declarou que o governo está “avaliando” a opção de usar vacina. Até então, os britânicos optaram pelo sacrifício e queima de animais, em vez da vacinação, pelo receio de perder mercado de exportação.
Para o ministro da Agricultura, a vacinação traz uma expectativa de atraso do pleno retorno ao comércio internacional, pelo menos para a região afetada, que provavelmente sofrerá exigências de controles mais rígidos. Em seu depoimento, o ministro também propôs o banimento de lavagem usada para alimentar suínos, que pode ter sido a forma de propagação do vírus na Inglaterra.
Até ontem já tinham sido abatidos 419,3 mil animais – entre gado, ovinos, porcos e caprinos – e outros 243,7 mil terão o mesmo destino. Já foram registrados 673 casos da doença no Reino Unido, e as mortes já estão provocando protestos. Um fazendeiro que trabalha com carne orgânica entrou ontem na Justiça para impedir a morte de seu rebanho, segundo ele, saudável.
Os argumentos contrários à vacinação apontam para o fato de que existem oito tipos diferentes de vírus e uma vacina não imuniza o animal contra todos eles. Outro problema é o fato de que mesmo os animais vacinados, sem a doença, podem ser portadores do vírus. Animais nessas condições não podem ser exportados.
Há também a questão dos prazos para a exportação. Com a morte dos animais infectados e dos que podem ter tido contato com o vírus, a permissão para que o país volte a exportar demora três meses a partir do surgimento do último caso. Para países que usam a vacinação, o prazo de carência é de seis meses, mas há estudos prevendo que a proibição seja estendida por dois anos.
Os especialistas que se colocam a favor da vacinação argumentam que a ação terminaria com os espetáculos trágicos de incêndios de enormes pilhas de carcaças de animais. Eles também defendem que, se for feito um “anel protetor” de animais vacinados, a doença poderia ser efetivamente erradicada. Lembram ainda que os países que se tornaram livres de aftosa conseguiram esse status por meio da vacinação.
A aftosa já se espalhou pela França, Holanda e Irlanda e arrasou a pecuária britânica justamente quando estava se recuperando de uma epidemia da ‘vaca louca’. Ontem, três casos suspeitos foram detectados na Dinamarca, o maior exportador de suínos da Europa. Na Holanda, continua a vacinação de emergência nos animais, autorizada pela União Européia (UE).
(Por Maria Luiza Abbott, para Valor Online, 28/03/01)