O governo federal tem até a próxima quinta-feira para responder ao pedido de garantia, feito pelos produtores gaúchos, de que não haverá o uso de rifle sanitário no caso de ocorrer um foco de febre aftosa no Estado. Se a resposta for contrária, o setor defenderá a retomada da vacinação contra a enfermidade. A decisão foi tomada ontem, durante audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura e Pecuária da Assembléia Legislativa, em Uruguaiana.
A maioria dos produtores presentes no evento defendeu a volta da imunização do rebanho. Porém, o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do ministério, Rui Vargas, alertou para a dificuldade de justificar a retomada da vacinação perante a Organização Internacional de Epizootias (OIE), sem a ocorrência de focos no Estado. Ele argumentou ainda que a medida comprometeria o programa nacional do governo federal para erradicação da aftosa.
A polêmica da vacinação no Rio Grande do Sul começou há mais de um ano, antes mesmo da imunização ter sido suspensa, no final de abril de 2000. O governo do Estado defende a volta da vacinação como medida de prevenção, desde que isso não impeça o Rio Grande do Sul de vender carne e animais para o resto do país. A preocupação reside no alastramento dos focos na Argentina, em propriedades na fronteira com municípios gaúchos, o que aumentaria os riscos da entrada do vírus em território local.
Para o governo federal, a retomada da vacinação é uma ação precipitada e negativa para a imagem da carne gaúcha. A posição sanitária do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (que formam o Circuito Pecuário Sul) é mais avançada que nos demais Estados. Os dois estados já conseguiram erradicar a doença, retiraram a vacinação do gado e têm o reconhecimento do Ministério da Agricultura como zona livre de febre aftosa sem vacinação.
Até a semana passada, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) – envolvendo basicamente pequenos criadores de gado leiteiro, suínos e aves – queria a vacinação, enquanto a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), em apoio à pecuária responsável pela exportação de carne, rejeitava a possibilidade. Porém, nesta semana, as associações de criadores de aberdeen angus e de limousin, duas das mais importantes do Estado, saíram em defesa da vacinação. O medo é de que a reincidência dos focos coloque em riscos investimentos de décadas em genética.
Adeptos da vacina
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já admitiu que, se a febre aftosa chegar às fazendas norte-americanas, o rebanho será vacinado imediatamente, em vez de ser exterminado, como ocorreu em propriedades gaúchas, do Uruguai, da Argentina e, mais recentemente, da Europa. O USDA defende que a vacinação seria mais eficaz do que o rifle sanitário. A notícia é uma surpresa porque, para defender o mercado externo, os norte-americanos, não admitiam a volta da vacinação contra a febre aftosa depois de mais de sete décadas sem imunizar seus animais.
Na última quarta, a União Européia autorizou o pedido da Grã-Bretanha para vacinar 180 mil cabeças do rebanho britânico. Há duas semanas, a aplicação da vacina sequer aparecia como uma possibilidade para o governo britânico. O Reino Unido já conta 697 mil cabeças condenadas. Destas, 423 mil já foram sacrificadas nas próprias fazendas.
(Por Jorge Correa e Mauro Maciel, para Zero Hora/RS, 30/03/01)