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Vantagens econômicas da utilização em larga escala de touros geneticamente avaliados. Parte 1/3

José Bento S. Ferraz

1. Introdução

O uso de touros geneticamente avaliados e considerados superiores à média dos rebanhos teria impacto na produção da pecuária de corte do Brasil, caso seu uso fosse disseminado através da inseminação artificial? Esta pergunta com certeza ocorre a todos aqueles envolvidos no agribusiness da pecuária de corte. Para que se possa avaliar esses impactos, uma série de considerações e suposições devem ser estabelecidas, simulando-se os efeitos de diferentes agentes na produtividade, direta ou indiretamente ligados ao uso da inseminação artificial e de touros geneticamente superiores, escolhidos dentre aqueles que se destacam nos diversos programas de avaliação genética.

Para se demonstrar o impacto econômico do uso maciço de material genético superior, através do aumento dos níveis de inseminação artificial atualmente praticados, e utilizando-se apenas touros que possam ser considerados melhoradores sob o ponto de vista genético, no presente trabalho realizou-se uma série de simulações, cujo resultado é surpreendente.

Neste artigo, divido em três partes, exploraremos assuntos importantes relacionados ao impacto econômico da utilização de touros geneticamente avaliados e comprovadamente melhoradores, quando utilizados em larga escala.

2. Causas da baixa produtividade de nosso rebanho bovino

Por que nosso rebanho bovino não é tão produtivo quanto os rebanhos dos países de primeiro mundo, como os da Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e países da Europa? As causas logicamente são várias e citaremos apenas algumas.

Em primeiro lugar a grande diferença está na alimentação dos rebanhos. Naqueles países os rebanhos não passam fome na seca, não perdem peso ou diminuem sua produção devido à escassez de alimentos, ao contrário do que ocorre no Brasil. É certo que a conservação do excedente de forragens que se verifica na estação chuvosa é cara e complicada, mas não faz sentido desperdiçar-se alimento numa estação e deixar o gado sub-alimentado na estação seca. Qual seria o custo desta perda de produtividade verificada na seca? Quantas centenas de milhões de dólares são perdidos anualmente com este problema? Os pesquisadores da agropecuária brasileira precisam, urgentemente, encontrar soluções economicamente viáveis para este problema, com a utilização de pastagens de melhor qualidade e técnicas de conservação dessas forragens. Problemas sérios de nutrição mineral existem em nosso meio, onde apenas cerca de 30% do rebanho é adequadamente suplementado com misturas minerais balanceadas.

A segunda grande causa da diferença de produtividade é o status sanitário dos rebanhos. A saúde do rebanho brasileiro, embora venha melhorando ano a ano, tem muito a melhorar. Vale a pena lembrar que apenas animais saudáveis conseguem expressar todo o seu potencial genético e atingir a produção esperada. Em nossos rebanhos temos importantes doenças que poderiam já ter sido erradicadas, tais como a brucelose, a febre aftosa, inúmeras verminoses, etc. É importante ressaltar que temos rebanhos excelentes, sob o ponto de vista sanitários, mas o rebanho médio nacional deixa muito a desejar.

Uma terceira causa de extrema importância é a “”difusão dos conhecimentos e tecnologia e o nível cultural dos fazendeiros. Uma diferença essencial da pecuária dos países mais evoluídos é que os fazendeiros têm um melhor nível de conhecimentos, em geral vivem na propriedade e têm acesso fácil à informação, assimilando de maneira rápida e eficiente as novas tecnologias e soluções encontradas pelos pesquisadores. Isto pressupõe a existência e uma eficiente e extensa malha de extensão e assistência técnica aos produtores rurais. O investimento maciço na educação do homem do campo e a existência de incentivos reais para a permanência dos jovens, que normalmente têm melhor escolaridade, na atividade agropecuária, não só diminuiria este problema de desnível do acesso à informação, mas também evitaria o acúmulo de trabalhadores nos centros urbanos.

Uma quarta e importante causa do descompasso da produtividade de nosso setor da pecuária é a nossa dependência histórica das definições e das atividades do governo. Nossa pecuária precisa realizar sua própria gestão, gerar seus próprios recursos para pesquisa e solução de problemas, promoção de seus produtos, difusão de tecnologia. Todo o agribusiness tem que participar, tendo como meta uma indústria mais eficiente e competitiva a nível internacional. Mercados fantásticos, como o da China, por exemplo, estão se abrindo com possibilidades de consumir milhões de toneladas anuais de derivados de carne e leite e nossa pecuária, se tiver competência, poderá participar do abastecimento desses mercados.

Deixamos como última grande causa da diferença da produtividade o patrimônio genético dos animais. Com certeza os bovinos criados naqueles países têm genótipos mais adequados à produção de carne em maior quantidade e de maneira mais precoce, tendo ainda, na maioria das situações, uma melhor qualidade.
Deixamos a genética como última causa porque ela responde apenas por cerca de 20 a 30% da produção dos animais. O resto deve ser creditado, ou debitado, ao meio ambiente e está englobado nos três grupos de causas anteriormente citados. De nada adianta realizarmos um trabalho de utilização maciça de touros melhoradores em rebanhos mantidos em propriedades que não conseguirão proporcionar aos animais o ambiente necessário para que eles expressem seu real potencial.

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