Em um café da manhã da indústria durante a exibição Beef 2012 no ano passado, em Rockhampton, Zanda McDonald fez uma avaliação esclarecedora, imparcial e caracteristicamente honesta sobre as razões pelas quais acreditava que a McDonald Holdings era o sucesso que tinha se tornado.
Foi um discurso que forneceu não somente uma visão sobre as filosofias do negócio e uma visão de um jovem líder da indústria no topo de sua carreira, mas um panorama indelével dos valores e princípios que definiram Zanda McDonald como um indivíduo.
À medida que a indústria de carne bovina lida com a perda de um dos melhores e mais brilhantes, Zanda tem sido amplamente descrito como um visionário e inovador, um homem de família devotado, um verdadeiro cavalheiro, e, simplesmente, “um bom sujeito”.
Tendo conhecido Zanda como um aluno interno, colega no Downlands College, em Toowoomba, posso atestar facilmente o nível de respeito que ele conquistou, não porque era membro de uma das maiores famílias produtoras de gado da Austrália, mas simplesmente por causa da pessoa que era. Ele tinha um senso de decência.
Zanda era uma cabeça velha sobre ombros jovens, alguém que as pessoas pareciam automaticamente procurar, independente se eram mais jovens ou mais velhos. Uma memória duradoura é de um sorriso aparentemente constante, um sorriso fácil e descontraído que nunca parecia deixar seu rosto. Seu falecimento deixou a indústria de carne bovina e pecuária com um profundo senso de perda, uma descrença simples de que uma presença positiva, amigável e inspiradora não está mais conosco.
No Beef 2012, em Rockhampton, Zanda foi solicitado a falar sobre as razões pelas quais acreditava que a McDonald Holdings (MDH) tinha crescido para se tornar o negócio que era. Ele separou essas razões em cinco áreas chave: compra de terras na hora certa e pelo preço certo; reconhecimento da importância da integridade e reputação; valor do suporte geracional; uma genuína dedicação para construir relações fortes com os funcionários e clientes; e a manutenção de uma abordagem flexível para manejo de genética e marketing.
Uma regra de ouro para a família McDonald, explicou Zanda, foi sempre ter que calcular o valor da terra baseado na taxa de retorno que essa poderia gerar de uma estação pecuária em um determinado dia – e não baseado em adivinhar onde o mercado poderá estar em seis ou 12 meses, ou em dois anos.
Zanda disse que uma das grandes forças do MDH era o conhecimento geracional a que pode recorrer, de seu avô, Jim McDonald que morreu no final do ano passado com 105 anos, seu pai, Don, e seu tio Bob. “Eu acho que o valor em companhias familiares de várias gerações é que as histórias são passadas através das gerações, o que fizeram errado, e o que as pessoas fizeram certo”, disse Zanda. “Nossa família primeiro veio para a Tasmânia em 1827, de forma que existem muitas histórias que o meu avô continua passando para a família até agora. No meio dos anos 2000, acho, eu fui pego por um anúncio publicitário da venda de propriedades da Stanbroke Pastoral Company e estava muito disposto a expandir, e todo mundo estava entrando e eu achei que íamos perder a ação. Meu pai, meu tio Bob e meu avô disseram que não achavam que era a hora certa para nossa família estar comprando agora e, ter as pessoas mais velhas lá nos desacelerou e, vendo em retrospectiva, foi uma grande coisa provavelmente não termos comprado. Não era o momento certo para nós, de forma que eu acho que ter as histórias de membros mais velhos da família foram certamente muito úteis”.
Zanda disse que a família tinha muito da visão de seu avô, que cresceu quando Sir Sidney Kidman estava criando seu famoso reino pecuário. O plano de Jim McDonald em gradualmente adquirir uma série de propriedades para formar a MDH não foi somente motivado pelo desejo de uma operação familiar à prova de seca tendo propriedades em diferentes regiões geográficas, mas para garantir que à medida que os bezerros nasciam nas propriedades do norte, eram gradualmente movidos para propriedades de cria no sul e no leste e mais próximas a plantas de processamento na costa leste, economizando, dessa forma, em custos de frete.
Zanda disse que a família sempre tentou comprar propriedades vizinhas quando essas entravam no mercado, porque isso permitia que a operação expandisse sem requerer uma expansão a nível de sede também. Talvez mais importante, depois de cada compra, a família sempre consolidava antes de agir novamente. “Eu acho que por ser escoceses, sempre gostamos de ter controle de nosso destino, ao invés dos bancos, então sempre paramos e esperamos por alguns anos até ficarmos com isso sob controle antes de agirmos novamente”.
Atualmente, a MDH tem 175.000 bovinos em uma agregação de 11 estações pecuaristas em Queensland, cobrindo uma área de 3,36 milhões de hectares. O gado é criado na área da Península Cape York, na região dos distritos de Cloncurry, Winton, Central Highlands e, então, terminados com grãos no Wallumba Feedlot em Darling Downs.
A MDH hoje agrega valor a grande parte da carne bovina que produz em três produtos com marca, processados nos abatedouros JBS em Queensland e, em julho de 2012, tornou-se um importante acionista da rede varejista Superbutcher, que tem seis lojas no sudeste de Queensland.
A companhia tem sido líder em projetos de pesquisas e desenvolvimento, como o inovador “transplante de células-tronco de testículos” com o CSIRO e com a introdução de um alívio da dor para melhorar os padrões de bem-estar na castração, descorna e marcação.
O MDH de hoje é um negócio muito diferente do MDH de 10 anos atrás, e é uma prova de que houve grande influência da parte de Zanda na companhia.
Um compromisso de construir e manter fortes relações com os clientes, fornecedores e funcionários tem sido a pedra fundamental da abordagem da família, disse Zanda no café da manhã do Beef 2012. A família tem mantido uma contínua relação com os abatedouros estabelecida por Thomas Borthwicks há mais de um século com os atuais donos do JBS hoje.
A forte relação do MDH com a família Batista permitiu que a companhia entrasse em um acordo sem precedentes de abates personalizados com os abatedouros Rockhampton e Dinmore, do JBS. Pelo acordo, o MDH agora exporta um contêiner de carne bovina ao Brasil por semana.
A família também colocou um alto valor em sua relação com os funcionários, disse Zanda, refletindo no fato de que uma série de funcionários de segunda geração estavam agora entrando em altos cargos. “Nós ajudamos com tarifas escolares, deixamos que usassem nossas aeronaves para uso privado se tinham um casamento em Townsville, para ver alguns amigos ou algo assim”, explicou Zanda. “Eles dedicam longas e duras horas para a família, de forma que tentamos e dizemos coisas diferentes para recompensar sua lealdade”.
A importância da integridade e da reputação era um valor inculcado nos membros da família quando jovens, disse Zanda. “Quanto mais velho fico, acho que realmente aprendo a importância desse valor. Leva gerações e uma família para construir uma reputação e apenas uma má decisão para destruí-la, de forma que somos muito conscientes disso. Isso é algo que passamos para nossos gerentes de estações, para sempre retornarem um gado vizinho. Nós sabemos o que acontece em outros locais, e sacudimos a cabeça e dizemos por que um gerente de estação vai e abate o boi de outra pessoa arruína sua reputação. Uma das principais frases do meu vó era que ‘se você não pode comer sua própria carne bovina, não deve estar no jogo’”. Outra filosofia de Jim McDonald era: “um homem com um bom nome nunca quebra”.
O preparo das gerações mais velhas para sair e permitir que membros mais jovens da família assumam posições de responsabilidade também manteve a família em um bom lugar, disse Zanda. “Se fazemos uma grande decisão, é claro, eles se sentarão na mesa conosco, mas eu acho que juventude e vigor em qualquer companhia é fantástico, e para pegar novas ideias. Porém, é importante ter a idade da sabedoria dos membros mais velhos da família para colocar freios às vezes. Eu vejo grandes homens do mundo, desde Alexandre, o Grande, ou Napoleão ou Aristóteles, Hannibal, eles todos morreram quando tinham 40 anos, então eu acho que é importante se afastar antes de ficar muito velho e deixar a próxima geração ter sua vez. Eu não sei qual equilíbrio perfeito das famílias, mas acho que fizemos isso certo e isso funcionou para nossa família”.
Em 1996, Zanda visitou a Indonésia e as Filipinas buscando oportunidades no mercado de exportação de gado vivo. Ele adquiriu uma licença de exportação e começou a exportar gado vivo à Indonésia. A medida representou a primeira importante mudança para a companhia da família saindo da via tradicional de vender bois criados a pasto. Entretanto, em 2001, Zanda disse que estava evidente que o futuro da companhia no abastecimento do mercado de gado vivo da Indonésia era limitado, baseado no desejo do país de impor pesos limites de 370 quilos sobre as importações. “Não poderíamos obter ganhos de dinheiro com nada com menos de 400 quilos e isso ainda funciona hoje, não podemos vender animais com menos de 400 quilos e fazer dinheiro disso”, explicou ele no café da manhã.
Reconhecer os benefícios de ser capaz de abater gado em idade mas jovem e mais rapidamente e a falta do espaço requerido para trazer todos os novilhos da companhia do Golfo e criá-los até serem animais de quatro anos de idade, Zanda dirigiu o desenvolvimento do confinamento Wallumba em Darling Downs, através do qual 80% dos abates da companhia são feitos agora.
Ele disse que o confinamento efetivamente forneceu “outro curral para gado” que ajudou a reforçar a questão de ser mais resistente à seca da operação. Isso também preparou a base para a companhia lançar suas linhas de marcas próprias e carne bovina.
Zanda admitiu que aprendeu algumas lições iniciais com a entrada da família no processamento e venda de carne bovina. “Como a maioria dos produtores, eu achava que os frigoríficos estavam nos roubando. Eu achava que eles faziam todo esse dinheiro e que não repassavam para nós, de forma que pensei que teríamos um caminho a percorrer. E aprendi muito rapidamente que eles provavelmente não estavam nos roubando tanto quanto pensei que faziam. Mas persistimos. Os dois primeiros anos foram difíceis, fizemos apenas números pequenos, mas crescemos e agora abatemos 500 animais alimentados com grãos por semana e acho que estamos no top disso. Eu acho que há uma enorme oportunidade ainda hoje para produtos de marca, tudo o que vemos, de geleia de marmelada a vinho e queijos, tudo tem marca hoje”.
“Estamos muito felizes com os retornos financeiros que estamos obtendo de nossos produtos com marca e estou certo de que haverá muito mais marcas nos próximos anos, e muito mais dentre os maiores frigoríficos estarão oferecendo serviços de abates personalizados ao invés de simplesmente comprar gado”.
Vender um produto com marca é vender a história por trás dessa marca, disse Zanda. A história do MDH estava relacionada não somente com seus fortes valores familiares e história, mas também, às credenciais “verdes” de seus sistema de produção. Ser capaz de explicar que a companhia tem mais de 22 milhões de árvores em suas estações e usa energia eólica e solar extensivamente, era um poderoso ponto de venda nos mercados conscientes com a questão ambiental como o Japão.
Igualmente, o bem-estar animal também estava se tornando uma importante consideração a nível de clientes, disse ele. O MDH, sob o direcionamento de Zanda, assumiu posição de liderança nessa área ao introduzir o alívio da dor na marca e buscar promover essa mensagem através da incorporação de marcas de carne produzida de forma amigável com o bem-estar animal nas embalagens de seus produtos.
Zanda falou sobre o desejo de ver produtores e abatedouros construindo relações mais próximas, como ocorreu no Brasil, e acreditava que isso era possível se os processadores adotassem sistemas de classificação baseados em premiums. “Eu espero que um dia os frigoríficos paguem um prêmio quando vendermos um animal complexo”, disse ele. “Se eles obtêm um extra de 3-4% de rendimento de carcaça, precisam pagar um prêmio ao invés de ter um sistema de penalidades, que é o sistema atual. Eu acho que se tivesse um preço premium pago pela carcaça melhor, todos trabalharíamos para melhorá-las”.
Após entrar no setor de processamento, a família identificou uma necessidade de introduzir novas genéticas para aumentar o rendimento de carne vendável em seu próprio rebanho. Entretanto, com as propriedades de cria localizadas ao norte da linha de marcação do país adequados somente para gado Brahman de alta classificação, suas opções para melhoramento genético no senso tradicional era limitada. Isso ilustrou outro exemplo de como a família estava adotando novas tecnologias em uma tentativa de resolver problemas.
Zanda descreveu como a família trabalhou com o CSIRO em um projeto de células-tronco que, em sua forma mais simples, envolve a substituição do sêmen nos testes de um touro Brahman com o sêmen de outro touro que oferece melhorias desejadas nas características da carcaça, como Angus, para propostas ilustrativas. O touro Brahman tratado, então, cruza com uma fêmea Brahman para produzir um bezerro que é efetivamente metade Angus, metade Brahman.
“É uma tecnologia muito excitante, mas vejo que o maior beneficio para nós é provavelmente usar o touro cruzado Angus/Charolais em uma vaca Brahman, e, então, temos um animal composto em uma geração”. Testes iniciais se mostraram promissores inicialmente e outros 50 touros foram implantados com células-tronco de Angus em uma preparação para testes práticos mais rigorosos nesse ano.
Zanda falou sobre os desafios dos maiores custos e da necessidade de uma pesquisa orientada e efetiva para ajudar os produtores australianos a continuar viáveis em termos reais, mas também, expressou um forte nível de otimismo, baseado na proximidade da Austrália com as populações em crescimento da Ásia.
“O consumidor global está ansioso por carne de alta qualidade, segura e acessível e sabemos que quando eles deixam a pobreza e entram na classe média, a demanda por proteína animal de qualidade, incluindo carnes vermelhas, produtos lácteos, e ovos, aumentará. Nosso desafio é continuar crescendo, enquanto também aumenta nossa capacidade de produzir proteína suficiente para alimentar uma crescente população mundial”.
Como presidente do AgForce, Ian Burnett disse que Zanda era um líder jovem levado muito cedo, uma tragédia que representa uma perda insubstituível para sua família, seu negócio, e para a indústria de carne bovina e pecuária da Austrália como um todo.
O que alguém que conseguiu tanto em 20 anos na indústria de carne bovina teria a oferecer nos próximos 30 a 40 anos é uma pergunta que geram muitas possibilidades animadoras, mas que agora, tragicamente não será mais respondida.
O artigo é de James Nason, editor do Beefcentral.com, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
2 Comments
Miguel, sei que conheceu o Zanda e por isso tenho certeza que sentiu o mesmo que todos sentem quando o conheciam: um cara gente boa, do coracao bom, sem maldade e apaixonado pela pecuaria e pelo que fazia.
Comecamos o negocio de carne algum tempo atras e neste periodo vivi os melhores momentos da minha vida junto com o Zanda. Seguimos a trajetoria de comecar a vender carne desde quando usavamos a minha scooter para ir aos acougues, ate hoje onde exportamos para 18 paises, e ele estava sempre la, simples e apaixonado por cada nova conquista.
Hoje existe um burraco imenso em nossas vidas e negocios, mas em respeito e admiracao a ele faremos que o espirito dele permaneca vivo nas nossa marca de carne Alexander (Zanda).
Muito obrigado e as portas da MDH continuam abertas para voce!
Marcelo Ribeiro
Muito triste saber do falecimento do Zanda, tive a oportunidade de conhece-lo pessoalmente no Brasil, quando negociavamos os primeiros containeres de carne na marca MDH ao mercado Brasileiro, realmente ele foi uma pessoa incrivel e deixara saudades e ensinamentos, meus sinceros sentimentos aos familiares e amigo Marcelo Ribeiro que trabalhava diretamente ligado a ele na Australia! Daniel Andrade Tramonte