O perigo e as possíveis consequências da BSE sobre a economia de produção da pecuária de corte continuaram monopolizando o noticiário da imprensa. Para complicar ainda mais a credibilidade da cadeia, ocorreu o “ressurgimento” da febre aftosa no rebanho bovino da Argentina, mostrando que as ações tomadas pelas autoridades daquele não foram eficientes no controle da doença. Além disso, foi comunicado o aparecimento de febre aftosa em suínos na Inglaterra. Existem muitos outros problemas sanitários que não tem sido objeto dos comentários da imprensa por não apresentarem até o momento importância econômica, tanto do ponto de vista de produção como de barreiras não alfandegárias para exportação, tão evidentes como os casos da febre aftosa e da BSE.
Pelo menos dois aspectos graves ficaram evidentes durante as crises de expansão da BSE pelo continente Europeu e dos casos de ressurgimento de febre aftosa. O primeiro, se refere a especulações sobre possíveis vantagens que poderiam ser tiradas pelos países não afetados no momento pelas doenças, em termos de comércio internacional da carne bovina. O segundo, envolve o interesse econômico de grupos e possivelmente de países em esconder, pelo menos temporariamente, a gravidade e as consequências tanto econômicas como de saúde pública causados pelos problemas sanitários a que estão sujeitos o rebanho bovino. Esses dois aspectos somente contribuem para denegrir a cadeia produtiva da carne bovina. O aproveitamento de oportunidaddes tem que ser consequência de procedimentos e atitudes saudáveis tomadas e praticadas ao longo do tempo, e não de oportunismos casuais onde se procura tirar vantagens de curto prazo sem ter a necessária retaguarda para garantir com quase absoluta certeza aquilo que se tenta usar como propaganda.
O Brasil está numa situação de conflito muito séria em termos de globalização da economia. É atualmente uma economia relativamente grande em termos de produção e de consumo tanto atuais como potenciais, mas extremamente fraca em termos de comércio internacional. Isso é que tem sido dito ultimamente pelas personalidades mais brilhantes desse país em entrevistas e artigos. Além disso, nosso comportamento em termos de não seguir normas e tentar mudá-las antes da saudável prática de cumprí-las ou pelo menos discutí-las primeiro com quem de direito, para depois tentar mudar as que são passíveis de negociação para deixar a competição e o mercado mais justos, tem sido lastimável.
No caso da febre aftosa, graças à integração de esforços entre as autoridades governamentais e a iniciativa privada, estamos evoluindo positivamente na expansão do controle da mesma em nível nacional. Os exemplos de ressurgimento dessa doença na Argentina e na Inglaterra devem servir de alerta para que as regras estabelecidas para seu controle no Brasil devam ser seguidas à risca.
No caso da BSE, demos ao Canadá a cara para ser batida. Uma análise mais racional dos acontecimentos e dos comentários de diferentes autoridades mostra que fomos ao mesmo tempo inocentes e relapsos, o que mostra nossa falta de preparo para participar de um mercado globalizado altamente competitivo e na maioria dos casos regulamentado por normas injustas. Entretanto, como sempre se aprende e se produz mais na adversidade, temos certeza que os recentes acontecimentos servirão para dar a volta por cima em termos do Brasil ter participação no mercado e ter influência no estabelecimento de normas compatíveis com o tamanho da sua economia.