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A evolução tecnológica precisa ser acompanhada, e para isso é preciso espiar o que as instituições de pesquisa e o vizinho estão fazendo – Fabiano Nunes Vaz [Prêmio BeefPoint Sul]

Conheça Fabiano Nunes Vaz, finalista na categoria Professor/Pesquisador. Prêmio BeefPoint Sul.

No dia 4 de abril, será realizado o BeefSummit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento será organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O BeefSummit Sul vai reunir nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A expectativa é de um público de 400 pessoas, entre produtores e investidores, tornando o BeefSummit uma excelente oportunidade de gerar novos negócios.

No dia do evento, o BeefPoint irá homenagear as pessoas que fazem a diferença e têm paixão pela pecuária de corte no Sul do Brasil com o Prêmio BeefPoint Edição Sul. Há vários finalistas, em 13 categorias diferentes.

O público irá escolher através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor os indicados, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Conheça Fabiano Nunes Vaz,  finalista na categoria Professor/Pesquisador.

Fabiano-Nunes-Vaz

 

Fabiano Nunes Vaz é zootecnista (1997), mestre em Produção Animal (1999) e doutor em Agronegócios (2006). Atualmente é professor do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria, pesquisador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Cadeias Produtivas do Bioma Pampa – PECPAMPA.

BeefPoint: Com base em suas pesquisas, o que você implementou de diferente na pecuária do Sul do Brasil, que levou você a ser um dos finalistas do Prêmio BeefPoint Edição Sul 2014?

Fabiano Nunes Vaz: Não sei dizer um trabalho específico, estamos desenvolvendo pesquisas, em conjunto com os professores Leonir Pascoal, Paulo Pacheco, Renius Mello e Ricardo Vaz, que abordem as relações negociais nas cadeias produtivas relacionadas à pecuária de corte.

Essas pesquisas são relativamente inovadoras no Brasil, mas fundamentais por trazerem para debate a viabilidade dos sistemas de produção da carne. Tem abordagem multidisciplinar, envolvendo a Zootecnia, Agronomia, Tecnologia dos Alimentos, Economia e Administração Rural.

BeefPoint: A pesquisa está cada vez mais distante da prática vivenciada no campo, em sua opinião o que pode ser feito para diminuir esse problema em nosso país?

Fabiano Nunes Vaz: O que acontece atualmente é um problema que não é novo, relacionado à extensão. A extensão rural é responsável pelo trânsito das informações geradas nas pesquisas até os produtores do campo. No entanto, algumas vezes, a comunicação não ocorre, por problemas de ambos os lados: dos pesquisadores que são cobrados por produção científica e pouco por extensão e de outro lado, dos produtores, alguns deles pouco presentes nos eventos de divulgação científica promovidos pela Embrapa, Fepagro e universidades.

Outra dificuldade pode estar relacionada ao custo da tecnologia. Para adotar uma tecnologia produzida pela pesquisa, muitas vezes é necessário o produtor investir também na contratação, treinamento e capacitação dos seus técnicos de campo. Essas pessoas tem maior trânsito nas instituições de pesquisa e conseguem interpretar melhor, uma tecnologia e adequa-la às realidades de cada sistema de produção pecuário. E sem dúvidas, os recursos humanos continuam sendo o maior problema de pecuária.

BeefPoint: Qual a missão, visão e valores que você considera ético e promissor no desenvolvimento de novas pesquisas? São aplicáveis de forma prática à rotina de uma fazenda?

Fabiano Nunes Vaz: 

  • Missão:

Produção de conhecimento científico inovador, baseado em respostas a perguntas de pesquisas.

  • Visão:

As pesquisas devem considerar e aceitar a coexistência de todos os elos das cadeias produtivas, sem desprezar as relações comerciais e a busca pelo lucro, pertinente à viabilização de todos os agentes das cadeias de produção. Em outras palavras, a pesquisa direcionada ao meio rural deve trabalhar com produtos que possuam boa aceitação de mercado, e para isso precisa dialogar com a indústria. Também tem que trabalhar com insumos potenciais, para isso tem que dialogar com os agentes à montante da cadeia de produção: produtores de tecnologia, prestadores de serviços e fornecedores de insumos.

  • Valores:

1 – Acompanhamento da constante evolução tecnológica,

2 – Estudo de mercados consumidores potenciais,

3 – Valorização da pesquisa regionalizada,

4 – Fomento aos novos pesquisadores.

BeefPoint: O que você faz para difundir suas pesquisas frente aos pecuaristas? O que ainda pode ser feito?

Fabiano Nunes Vaz: Reconheço que os projetos do nosso grupo de pesquisa são pouco divulgados. Carecemos de incentivos financeiros para promoção de eventos de divulgação técnica e, quando esses ocorrem, o maior público é de estudantes e técnicos.

BeefPoint: O que vem te trazendo mais resultados?

Fabiano Nunes Vaz: Pesquisa com comercialização, processos de formação de preços e relações negociais nas cadeias produtivas das carnes ovina e bovina. Estamos gerando dados inéditos de comportamento sazonais de preços em perspectivas até então pouco analisadas. Correlações entre preços e características climáticas em séries temporais, análises de risco em confinamento e sintonia da percepção de qualidade na cadeia produtiva da carne bovina.

BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?

Fabiano Nunes Vaz: Acredito que não temos pesquisas que tenham dado errado. O trabalho de pesquisa é investigativo e busca testar hipóteses em resposta aos problemas de pesquisa. Nem sempre essas respostas são encontradas nas hipóteses testadas, o que estimulam novos trabalhos, que trazem um olhar acima do trabalho anterior.

BeefPoint: O que você considera mais importante na pecuária?

Fabiano Nunes Vaz: O planejamento. Grande parte das organizações são reativas frente aos problemas instalados. Organizações que trabalham com planejamento, reduzem os riscos, pois se preparam melhor para as adversidades.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária do Sul do Brasil hoje?

Fabiano Nunes Vaz: Recursos humanos. Está cada vez mais escasso o trabalhador rural. O modelo europeu criou condições das famílias trabalharem em suas próprias fazendas. Porém nossa realidade é diferente. Temos problema de estrada, comunicação, acesso ao ensino, à saúde, entre outros. Isso é motivo para os trabalhadores rurais migrarem para as cidades e, a sucessão dos fazendeiros no Sul do país, em sua grande maioria, também não quer se fixar no meio rural.

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que precisamos inovar?

Fabiano Nunes Vaz: A irrigação de pastagens trouxe competição entre pecuária e agricultura. A tradição de ser uma atividade de baixo investimento que a pecuária possuía, frente ao custeio alto da agricultura estava tornando a disputa injusta.

A irrigação tem mostrado que o investimento na pecuária pode trazer resultados satisfatórios. Quanto à inovação, acredito que a biotecnologia, tão pouco incentivada, possa trazer produtos inovadores em resposta aos problemas que afetam a produtividade. Seria importante focar em sanidade animal e cultivares das nossas culturas nativas, cujo material genético foi muito pouco estudados até o momento.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2014? E por quê?

Fabiano Nunes Vaz: Não existe nenhum plano novo em pesquisa e ensino, exceto dar continuidade às linhas de pesquisa que estamos estabelecendo.

BeefPoint: Qual o exemplo de professor/ pesquisador no Sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Fabiano Nunes Vaz: Acredito que o meu exemplo mais próximo de professor/pesquisador hoje não está mais no Sul, está em Tocantins, pois aprendi a pesquisar com o professor João Restle.

Na minha opinião é recente a valorização dos professores pesquisadores em pecuária de corte, e isto é um grande reconhecimento – talvez tardio para os trabalhos desenvolvidos pelos professores Lobato, Nabinger, Restle e Ismar Barreto. Os professores de agora, me incluo entre eles, terão que gerar muito conhecimento ainda para fazer um trabalho parecido a essas pessoas.

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Fabiano Nunes Vaz: Não acho que os jovens são pouco envolvidos. Acredito inclusive que falte mais espaço em grande parte dos casos. Assim, o que é complicado é fixar um jovem no meio rural, com toda a diferença de opções culturais, de lazer, de relações sociais, de saúde e de ensino.

Por mais afeito que um jovem seja à vida bucólica do campo, lamentavelmente ele precisa sair de lá para estudar, namorar e criar seus filhos. E não só os jovens, também os velhos, que precisam cuidar da saúde, buscam estarem perto dos grandes centros.

BeefPoint: Qual seu recado para os pecuaristas?

Fabiano Nunes Vaz: Parabéns a todos os pecuaristas, por acreditarem em sua atividade e mante-la organizada ao longo de muitos e longos períodos difíceis. Para completar, gostaria de dizer para aqueles que tem a pecuária como atividade apenas prazerosa, aproveite essa oportunidade, pois não existe lugar melhor que o campo para respirar ar puro, descansar, reduzir o nível de estresse e agitação das cidades. Entretanto, aqueles que tem a pecuária como uma atividade que busca o lucro é necessário encara-la como um negócio urbano.

Assim como nos empreendimentos urbanos existe um produto que precisa sempre estar sendo melhorado, existem concorrentes, parceiros e um regramento social e cultural. A evolução tecnológica precisa ser acompanhada, e para isso é preciso espiar o que as instituições de pesquisa e o vizinho estão fazendo. E por fim, não acredito em negócio rentável sem planejamento.

É preciso traçar metas do número de terneiros que precisarão ser desmamados e com que peso. Preciso saber qual a carga minha área suporta durante as sazonalidades anuais e quando vou vender meu produto. Depois disso, organizar as atividades para atingir as metas e reformular os planos sempre que necessário.

Confira outra entrevista de Fabiano Nunes Vaz no BeefPoint:

Fabiano Vaz: melhor sucedidos serão aqueles que a profissionalização da atividade pecuária é baseada em boas informações

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