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Agricultura é atividade econômica e não modo de vida ou solução social

Eduardo Diniz Junqueira1

A produção de alimentos e matérias-primas de origem agropecuária, como couro, celulose, algodão etc. e seus subprodutos, é uma atividade essencial para o processo humano e para a satisfação das necessidades básicas da sociedade.

A idéia poética de que a agricultura é um modo de vida representa uma visão elitista e antiquada, proveniente daqueles que dispõem de recursos para usufruir do campo em férias ou fins de semana e não dos que estão ligados à produção, para os quais ela é essencialmente atividade econômica.

Da mesma forma, é um equívoco o conceito da distribuição de lotes de terra ser uma solução socialmente justa e adequada apesar da baixa produtividade que estes vão ter.

A população mundial cresce sem parar e só nos anos 90 aumentou em 1 bilhão de pessoas. O desafio de alimentar essa pessoas, vesti-las, calçá-las e, mesmo movimentá-las, exige constantes aumentos da produção agropecuária. Há também a evidente necessidade de melhorar a dieta de parte da população mundial (incluindo a brasileira) estimada em 800 milhões de indivíduos.

O professor Norman Borlaug, considerado o mais importante agrônomo do século 20 por sua contribuição ao aumento da produção de trigo e à superação da fome em áreas trágicas, lembra que temos tecnologia para alimentar os previstos 8,3 bilhões de habitantes do globo no ano 2025. Mas ressalta que corremos o risco de não poder utilizá-la pela pressão dos “ecologistas extremistas das nações ricas, que querem impedir o uso de novas tecnologias”.

A produção de alimentos tem crescido mais rapidamente do que a área agricultada, tanto no Brasil quanto no mundo. Ela mais que dobrou nos últimos 30 anos, para uma expansão de apenas 10% na área plantada. Isso acontece graças à maior produtividade, resultante da aplicação de novas tecnologias e do maior cuidado com a terra.

Em São Paulo, os 82 municípios da região de Ribeirão Preto – líder estadual na produção de grãos, de frutas e de cana-de-açúcar – são exemplos dessa contínua expansão da produtividade que vem suprindo o Brasil de alimentos, álcool, papel, celulose, couro e calçados, respondendo hoje por mais de 200 mil empregos diretamente ligados ao agronegócio, bem como pela maior parte das atividades comerciais, sociais e culturais da região, derivadas da riqueza criada pela agricultura.

Como a agricultura e a pecuária são atividades econômicas continuadas, os empresários do setor têm percepção crescente da necessidade de manter a terra em condições de produzir, não apenas para os nossos dias, mas para sempre.

A rotação e a renovação das culturas, os cuidados com o solo, a preservação de áreas especiais – como as margens dos rios e as reservas florestais – estão cada vez mais sendo feitas com esse objetivo de garantir, no futuro, a capacidade da terra de fornecer os alimentos necessários à sociedade. É por isso que a região mencionada apresenta um dos menores níveis de erosão do País e, nela, as voçorocas são rara exceção.

A agricultura afeta o meio ambiente desde o início dos tempos, tal como as demais atividades que surgiram com o progresso da humanidade: a formação das cidades, o abastecimento de água e os esgotos, a mineração, os transportes, etc. No entanto, com as novas tecnologias, a agricultura vem produzindo mais e aproveitando a área cultivada de forma muito mais radical e eficaz do que em décadas anteriores.

Esse processo precisa continuar porque se nos anos 60 o mundo dispunha de meio hectare de solo cultivável por pessoa, hoje dispõe de apenas metade dessa área.

Produzir mais em menor área e a longo prazo pressupõe tecnologias melhores e mais limpas, ou seja: inovação contínua. E, não, a volta ao passado. Não se pode mais pensar na agricultura como um setor de larga absorção de mão-de-obra com baixa qualificação. Embora o crescimento da produção, a abertura de novas frentes e o desenvolvimento tecnológico criem empregos, estes são e serão, pelo menos, basicamente qualificados.

O País precisa resolver o problema dos desempregados, na cidade ou no campo, de forma racional e, não, com incentivos pseudo-sociais. O que precisamos para o futuro é de educação. E, para já, de um plano de subsídios às famílias de baixa renda, para que possam viver com dignidade e educar seus filhos para a nova realidade econômica.

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1Historiador, Diretor Presidente da Usina Vale do Rosário

Extraído na íntegra do jornal ” O Estado de São Paulo ” de 25 de julho de 2000, pela equipe da Scot Consultoria, com a autorização do autor.

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