A suplementação protéica através de nitrogênio não protéico (NNP) é uma prática comum na alimentação de bovinos. A uréia aparece como a principal fonte de NNP por ser de baixo custo e pela praticidade na sua utilização. No rúmen, através da ação da enzima urease, produzida pelos microorganismos, a uréia vai ser transformada em amônia que será utilizada pelos microorganismos ruminais para síntese da proteína microbiana.
Um problema nesse tipo de suplementação é o aumento excessivo da concentração de amônia logo após a alimentação devido à alta taxa de hidrólise da uréia no rúmen. Esse aumento, dependendo de suas proporções, pode ser prejudicial ao animal causando intoxicação, ou de uma forma mais branda, causando uma perda de energia durante o metabolismo e excreção do excesso de amônia na forma de uréia através da urina. Essa perda de energia, devido ao excesso de uréia na alimentação, é denominada pelos nutricionistas “custo uréia”.
Várias técnicas de manipulação e tratamento da uréia têm sido testadas com os objetivos de reduzir a taxa de hidrólise de uréia no ambiente ruminal e em conseqüência evitar os picos excessivos de amônia. Até o momento parece não existir nenhuma patente em uso comercial.
A atividade da enzima urease é alterada devido a diversos fatores como a concentração de uréia, amônia e certos minerais no rúmen, estes últimos podendo retardar a liberação da amônia no rúmem através da inibição da urease.
Segundo Arelovich et al. (2000), a suplementação com zinco causa uma diminuição na liberação de amônia no rúmen, sem afetar os níveis de ingestão de matéria seca e a digestibilidade da dieta. Para chegar a essa conclusão Arelovich et al. (2000) utilizaram seis novilhas com dietas a base de feno de baixa qualidade, com composição semelhante a das pastagens brasileiras que não utilizam adubação, e doses de 30, 250 e 470 ppm diariamente.
TABELA 1. Concentração da amônia ruminal (mg/dl) em diferentes períodos após a alimentação
Com a utilização da dose de 470 ppm, que é a dose máxima indicada na literatura (NRC, Gado de Corte), houve uma tendência de queda na digestibilidade da dieta e conseqüente diminuição de consumo. Já a dose 250 ppm por dia, promoveu uma diminuição das concentrações de amônia no rúmen e melhoria na eficiência de fermentação ruminal, aumentando a concentração de ácido propiônico diminuindo a proporção acetato / propionato.
O aumento da concentração de zinco pode estar afetando diretamente a atividade da uréase, ou indiretamente através da inibição do crescimento de microorganismos que promovem a quebra da uréia no rúmen. Mais trabalhos de pesquisa precisam ser desenvolvidos para esclarecer o assunto.
O efeito da suplementação com 250 ppm de zinco na concentração de ácidos graxos voláteis (AGVs) e na relação acetato / propionato parece muito interessante. Os AGVs são resultantes da fermentação ruminal, e são utilizados como fonte de energia pelos ruminantes. O aumento da concentração de ácido propiônico e a diminuição da relação acetato/propionato indicam uma maior eficiência na fermentação ruminal. Portanto, o zinco interfere também na fermentação ruminal e não somente na atividade da urease ou na população microbiana.
O uso de suplementos formulados com altas proporções de uréia, durante o período de seca, tem sido bastante comum na pecuária nacional. Entretanto, algumas regras devem ser respeitadas para a obtenção de bons resultados. A sincronização na liberação ruminal de amônia/energia deve ser sempre buscada para a maximização da eficiência de utilização desses nutrientes pelos microorganismos ruminais.
Mais pesquisas serão necessárias para, através da formulação das dietas acertarmos a disponibilidade de nutrientes para os microorganismos ruminais conseguindo assim uma eficiente fermentação ruminal.
Bibliografia consultada
ARELOVICH, H.M.; OWENS, F.N.; HORN, G.W.; VIZCARRA, J.A. Effects of supplemental zinc and manganese on ruminal fermentation, forage intake, and digestion by cattle fed praire hay and urea. J. Anim. Sci., v. 78, p. 2972-2979, 2000.
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Muito bom esse artigo, já se tem dados em relação a ação do zinco em dietas de confinamento?