Os argentinos não reconheceram que houve efetivamente casos clínicos de aftosa no país, alegando que havia apenas reações sorológicas em “alguns animais”. Mas a verdade é que foram sacrificados mais de 5 mil animais no país vizinho e ninguém de bom senso pode acreditar que se trataram apenas das propaladas reações sorológicas.
Na ocasião, houve quem reclamasse da Organização Internacional das Epizootias, que manteve o status de área livre da Argentina, mas suspendeu no Circuito Pecuário Sul (RS e SC). Mas, sejamos corretos: os argentinos foram mais espertos que nós perante o mundo, em que pese não terem sido levados a sério pelas autoridades sanitárias dos demais países do Mercosul. 2000 realmente não é um ano para ser lembrado no Mercosul como exemplo de saúde animal.
Todos os quatro países (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) foram, de uma maneira ou de outra, atingidos pela febre aftosa. Mas a diferença fundamental entre as nações foi a forma como o assunto foi conduzido. Imediatamente após a confirmação dos focos no Brasil, o Uruguai fechou suas fronteiras com o nosso país e apenas agora está renegociando a compra de carne suína.
Os pecuaristas do Paraguai vêm há vários meses adquirindo vacina de revendedores brasileiros, certamente para aplacar problemas. A Argentina, como já dissemos, agiu rápido. Mas estes dois países têm em comum o fato de não terem reconhecido os focos de aftosa em seus territórios, apesar de veterinários terem visto claramente lesões típicas da doença, já cicatrizadas até, em dezenas de animais.
Apesar de tudo, Brasil e Uruguai tiveram a coragem de comunicar os casos ocorridos internamente à OIE e enfrentaram de peito aberto os prejuízos econômicos dessa decisão.
Que fique bem claro que o Brasil é um país sério e que não age furtivamente, escondendo seus problemas sob o tapete. Mas que o ocorrido sirva de lição para 2001, ano em que todo o Circuito Pecuário Leste (TO, RJ,ES, BA e SE) , além das zonas-tampão do Centro-Oeste e Mato Grosso do Sul deverão ser consideradas áreas livres da aftosa, com vacinação, pela OIE. Serão mais 55 milhões de bovinos livres da doença.
Por Nelson Antunes, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, para Paraná Online, 30/01/01