As características usualmente avaliadas nos sumários de touros

José Bento S. Ferraz

O uso das Diferenças Esperadas de Progênie (DEP´s) pelos pecuaristas como ferramenta auxiliar de seleção, ou seja, um critério de escolha e utilização de touros para reprodução, vem se tornando uma regra geral e uma instrumento da maior importância para o aumento de sua produtividade, competitividade e lucratividade. As DEP´s têm sido apresentadas em vários veículos de divulgação, como nos sumários de touros, nos catálogos de leilões, nos catálogos de centrais de inseminação artificial, etc.

Várias características têm sido avaliadas nos sumários de touros de corte, com a finalidade de estimar os valores genéticos dos touros para as características importantes para cada criador.

Esse artigo destina-se a esclarecer os pecuaristas sobre as principais características utilizadas na maioria das avaliações genéticas realizadas no Brasil. Essas avaliações têm considerado de importância as seguintes características:

1. Peso ao nascer
É o peso real ao nascimento, em kg. Este peso deve ser monitorado para evitar-se um aumento significativo no peso ao nascimento dos bezerros, o que poderá vir a causar problemas de parto, hoje praticamente inexistentes. Este peso é o melhor indicador da facilidade de parto. Touros com DEP´s baixas ou mesmo negativas são desejáveis para esta característica.

2. Peso à desmama

É o peso, em kg, medido por ocasião da desmama. A DEP para este peso reflete o potencial que o animal tem para desmamar, independente da produção de leite de sua mãe, ou seja, a ação direta dos genes do próprio animal. Este peso é muito importante para os produtores de bezerros. Touros com DEP positiva e elevada são os mais indicados.

3. Materno total
Esta característica é obtida somando-se metade da DEP de cada animal para peso à desmama (efeitos diretos) com a DEP para efeitos maternos sobre o mesmo peso. Ela expressa, em kg, o potencial total de desmama que um animal pode transmitir, incluindo os efeitos diretos dos genes sobre o crescimento e os efeitos dos genes que irão influenciar a produção leiteira das filhas do reprodutor.

4. Ganho de peso ao sobreano
Esta característica expressa, em kg, o ganho potencial devido à ação dos genes, que o animal apresenta no período compreendido entre a desmama (ao redor dos 7 meses) e o sobreano (ao redor dos 18 meses). Demonstra o potencial de velocidade de ganho de peso e tem sido considerado muito importante pelos engordadores e confinadores, pois demonstra o desempenho potencial a pasto ou em confinamento. Este ganho de peso, somado ao peso à desmama, define o peso ao sobreano, o melhor indicador do peso adulto dos animais e as DEP´s mais elevadas são as mais indicadas.
5. Conformação, Precocidade e Musculosidade (CPM)
As avaliações visuais destas três características estão relacionadas com a selecão de animais adequados à competitiva indústria da carne bovina. Estes escores, medidos ao sobreano, variam de 1 (o pior nível) a 9 (o melhor nível). Assim, DEP´s mais elevadas são as mais indicadas, sempre levando-se em conta um perfeito balanceamento do animal.
6. Perímetro Escrotal (PE)
Esta medida, expressa em cm, é tomada dos machos na época da pesagem ao sobreano e é altamente correlacionada com idade à puberdade, qualidade e quantidade de sêmen, fertilidade, desenvolvimento ponderal e precocidade sexual das filhas e irmãs dos tourinhos. O uso desta característica para compor os critérios de seleção em bovinos de corte tem sido prática comum na maioria dos bons programas de melhoramento em todo o mundo. As DEP´s mais elevadas são as melhores. Seleção para PE, no entanto, não é uma substituição para a seleção direta sobre o desempenho reprodutivo da fêmea.
7. Altura (ALT)
Esta medida em cm é tomada na garupa dos animais aos 18 meses de idade.
Os sumários mais modernos estão trazendo algumas características ligadas à eficiência reprodutiva das fêmeas, como:
8. Idade ao Primeiro Parto (IPP)
Idade das fêmeas por ocasião de seu primeiro parto. Trata-se de uma característica indicadora da precocidade sexual das fêmeas, embora essa idade seja muito influenciada por características de meio ambiente. A Agro-Pecuária CFM Ltda. tem dedicado intensos esforços no sentido de melhorar a precocidade sexual de suas fêmeas.
9. Duração da Gestação (DG)
Refere-se ao período entre a concepção e o parto. Embora não seja propriamente uma medida de fertilidade, é estreitamente relacionada com o período reprodutivo. Bezerros com gestação mais curta nascem mais leves e produzem mais kg/hectare/ano por terem em média um maior período de tempo antes de desmamarem. Pesquisas mostram também que fêmeas com período de gestação mais curto têm maior probabilidade de sucesso na estação de monta subseqüente. A raça Nelore apresenta período de gestação longo (293 dias) quando comparada aos taurinos (por exemplo, 281 dias na raça Angus da Austrália). Apenas os dados de vacas inseminadas artificialmente puderam ser utilizados.
10. Dias para o Parto (DPP)
Refere-se ao número de dias decorrentes do primeiro dia da estação de monta (primeira oportunidade dada ao grupo de vacas) até o parto. As vacas que não parem na estação de monta devem receber uma penalidade, de modo que seu DPP seja maior do que o da vaca de maior DPP em seu grupo contemporâneo. Alguns fatores que levam um animal a apresentar menor DPP são: a) precocidade sexual, com novilhas entrando mais cedo na puberdade; b) retorno ao cio mais cedo após o parto; c) concepção mais cedo no período de monta; d) menor período de gestação. Para análise desta característica, os dados dos animais de inseminação artificial são ignorados afim de manter a mesma condição para todas as fêmeas em reprodução através da monta natural.
Muitos sumários combinam as características analisadas em um único valor agregado, procurando ponderar as características por valores que expressem sua importância econômica. Esses valores genéticos agregados são normalmente chamados de índices ou mérito genético total.
11. Índices
Os índices atualmente existentes nos sumários de touros são índices empíricos, estabelecidos pelos geneticistas ou criadores, responsáveis pelos programas de melhoramento. Os índices normalmente são calculados a partir de valores padronizados (em unidades de desvio-padrão).
Normalmente, esses índices associam pesos econômicos às DEP´s, tentando refletir uma realidade de mercado. No entanto, cada criador pode estabelecer seus próprios índices, adequando as DEP´s à sua realidade.
Um exemplo de índice é o Índice CFM, utilizado no sumário de touros da Agro-Pecuária CFM Ltda:

Para se comparar dois animais pelo Índice, o de maior índice tem maior valor genético agregado (ponderado) que um de valor mais baixo.