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Índices de produtividade da pecuária de corte no Brasil. Parte 3/3

Adriano Vecchiatti Lupinacci1 e Cauê Varesqui Zeferino2

Resta discutir dois importantes índices da pecuária de corte do Brasil, quais sejam, a taxa de lotação das pastagens e a produção de carne por área. Visto que existe um alto grau de associação entre ambos, esses serão analisados conjuntamente.

Taxa de lotação de pastagem e produção de carne por hectare:

Inicialmente, cabe ressaltar que a produção de carne por área (kg carne ou carcaça/ha/ano) é o resultado do produto entre a produção individual do animal (kg carne ou carcaça/animal/ano) e a taxa de lotação da pastagem (número de animais/ha/ano).

A análise da taxa de lotação das pastagens brasileiras permite dizer que os valores encontrados não são condizentes com o potencial que as gramíneas forrageiras atualmente cultivadas oferecem, desde que adequadamente exploradas.

Dessa forma, lotações variando entre 0,3 e 1,5 cabeças/ha são bastante comuns no cenário atual, ao contrário do potencial que pode chegar a mais de 4 cabeças/ha/ano em sistemas de produção baseados no uso exclusivo de pastagens.

Essa taxa é talvez a que possa sofrer os maiores incrementos relativos entre todas até aqui comentadas, de tal modo que aumentos de 0,3 para 2 cabeças/ha/ano indicam um incremento da ordem de 500% em ocupação da área, representando um aumento efetivo em termos de produção de carne por área, fato que demonstra a íntima relação entre lotação e produção animal.

No tocante a taxa de lotação, é pertinente considerar que se atribui a baixa competitividade e lucratividade da pecuária nacional à baixa produtividade das pastagens, o que é justificado, considerando-se que as plantas forrageiras são a principal fonte de alimento do rebanho bovino nacional.

Desse modo, em situações onde se verificam reduzidas produções anuais de forragem é esperado que a produção animal resultante seja limitada.

Essa baixa produtividade das áreas de pastagens no Brasil, normalmente relacionada com o processo de degradação das pastagens (mais de 90% das áreas de pastagens na região dos Cerrados) pode ser facilmente entendida quando se compreende sob que contexto as pastagens são enfocadas no país, ou seja, a razão principal que justifica a produção reduzida das plantas forrageiras tropicais é a concepção extrativista e tradicionalista de que os pastos devem ser somente estabelecidos em áreas marginais, com sérias limitações à produção agrícola e que, nestas condições sejam capazes de produzir grandes quantidades de forragem de boa qualidade a baixo custo.

Dentro desse contexto, não é raro o estabelecimento de pastagens em solos de baixa fertilidade natural, normalmente não corrigidos e/ou adubados, onde rapidamente se iniciam os processos de esgotamento e degradação do solo, caracterizando-se então um ciclo vicioso de baixa produtividade e necessidade constante de renovação de pastagens.

Desse modo, é perfeitamente compreensível que sejam obtidas produções de carne da ordem de 34 kg de carne/ha/ano em pastagens, gerando uma renda bruta de R$68,00/ha/ano.

É imprescindível considerar que o potencial de produção das áreas de pastagens tropicais é muito elevado e valores como 300 kg de carne/ha/ano são perfeitamente concebíveis, sendo que a renda bruta gerada com a comercialização dessa produção é de cerca de R$ 600,00/ha/ano.

Os dados apresentados até o momento permitem que se conclua que, indubitavelmente, o pecuarista que continuar obtendo produção animal reduzida, certamente estará caminhando rumo ao fracasso da atividade e, quão menor for sua produção, maior a velocidade desse processo.

Planejamento e produção na pecuária:

Diversos pontos de ineficiência foram salientados com relação ao sistema de produção animal vigente na grande maioria dos estabelecimentos pecuários brasileiros.

Foi mostrado que a melhoria em qualquer um dos índices permite que melhorias parciais em termos de rentabilidade da atividade possam ser obtidas. No entanto, nada foi comentado a respeito da forma como se pode explorar racional e tecnicamente animais em pastagens.

Nesse contexto, fazem-se justificáveis algumas considerações fundamentais.

Primeiramente, a característica mais relevante dos estabelecimentos pecuários do país é a falta de um planejamento racional, no qual são estabelecidos os objetivos e o perfil da propriedade, baseando-se em um grande número de aspectos tais como perfil do proprietário, infra-estrutura disponível, disponibilidade de capital para investimentos, mercado consumidor, disponibilidade e qualificação da mão-de-obra, níveis de produção esperados, entre outros.

O planejamento tem importância inquestionável na seleção da(s) espécie(s) forrageira(s) a ser(em) utilizada(s); na determinação do tipo de animal que deve ser criado; na eleição de metas/índices de produção a serem obtidos; na classificação do tipo de mão-de-obra que deverá ser empregada; na definição da necessidade da compra de máquinas e/ou implementos e, em suma, o planejamento determina o perfil do sistema de produção.

Portanto, é imprescindível que a propriedade seja planejada como uma empresa rural e que as etapas de produção sejam rigorosamente controladas através da eleição e acompanhamento de índices!

A concepção distorcida, pouco técnica e extrativista da pecuária deve ser ressaltada como a atual filosofia vigente na atividade.

Os dados apresentados mostram que essa concepção tradicional caminha rumo ao colapso, indicando que uma nova filosofia de exploração racional dos recursos disponíveis terá que ser adotada para assegurar o sucesso econômico da atividade.

Nesses sistemas é destacável o papel fundamental que desempenham as pastagens, sendo que representam a forma mais barata de alimentação do rebanho.

Em contrapartida, o grande número de espécies de plantas forrageiras utilizadas atualmente contribui bastante para que o manejo de pastagens no Brasil continue sendo encarado como “arte” e não “ciência”, uma vez que não se dispõe de informações básicas e essenciais para o planejamento e desenvolvimento de sistemas eficientes e efetivos de exploração racional das pastagens presentes no país.

Além dos entraves técnicos mencionados, é indiscutível que a melhoria efetiva da produtividade do rebanho nacional deverá em algum momento contar com o apoio efetivo do Governo, visto que como anteriormente descrito, a baixa produtividade do rebanho é cíclica e, por si só os pecuaristas não serão capazes de atuar satisfatoriamente sobre o incremento da produção do rebanho.

Considerações finais:

A pecuária de corte é destacadamente uma das principais atividades econômicas desenvolvidas no país. No entanto, os índices atuais de produtividade caracterizam a atividade como uma modalidade ineficiente de exploração econômica da terra e, num sentido mais restrito, como uma atividade que caminha para o colapso caso não se modifique a atual filosofia de exploração animal, no sentido de se implementarem sistemas racionais e técnicos.

Não há dúvida de que medidas isoladas de manejo têm sua importância e eficácia relativas; no entanto, dentro de um contexto global de sistema de produção, seus efeitos passam a ser diluídos e, muitas vezes, não notados. Assim, é fundamental que todos parem para pensar sobre o que está se fazendo e onde se quer chegar, pois somente através do reconhecimento da necessidade de revisão e reformulação dos conceitos e princípios atuais de exploração de animais em pastagens é que será possível planejar e estabelecer sistemas de produção animal eficientes e produtivos, além de promover melhorias reais e duradouras em índices zootécnicos.

Certamente, se forem adotadas medidas de planejamento, definição de metas e objetivos para a propriedade, associados com ações sobre de manejo da pastagem e dos animais a curto, médio e longo prazo, sem desconsiderar um efetivo programa de incentivo governamental, a pecuária de corte no Brasil é uma atividade empresarial bastante atrativa, apesar de sua natural complexidade e dinâmica.

Tabela 1

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1engenheiro agrônomo e pós graduando em produção animal na esalq-usp
2aluno de graduação da esalq/usp

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