O governo brasileiro prepara uma contra-ofensiva para rebater os estragos nas exportações, causados pela suspensão da importação de produtos bovinos, segundo reportagem publicada hoje no jornal O Popular. A idéia é montar um programa de valorização da carne brasileira. Estão sendo planejados eventos internacionais com o objetivo de demonstrar que os bovinos brasileiros são saudáveis. “A prioridade é que a carne brasileira entre no mercado internacional, e o primeiro passo para isso é certificar a qualidade do produto”, disse ontem o ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer.
A estratégia para evitar o “efeito cascata” no mercado internacional, com outros países suspendendo a compra do produto brasileiro, foi tema de uma série de reuniões ocorridas ontem e anteontem. O temor do governo é de que a atitude do Canadá e dos EUA acabe interrompendo a trajetória de crescimento do Brasil como fornecedor do produto no mercado internacional. Atualmente, o País é responsável por 15% do abate mundial de bovinos. A cada ano, são abatidas 30 milhões de cabeças, de um rebanho de 170 milhões.
Mas, existem outras medidas de retaliação mais severas sendo estudadas por ministros brasileiros. Ontem, Lafer divulgou nota afirmando que, se o Canadá não mudasse a sua decisão de proibir a importação de carne brasileira por razões sanitárias, o Brasil tomaria as medidas que considerasse convenientes. Segundo apurou a reportagem, as medidas convenientes podem ser desde retaliações comerciais ao rompimento diplomático, hipótese considerada improvável. O caminho mais fácil para incomodar os canadenses é dificultar sua participação em licitações do governo.
Tápias admite erro do governo brasileiro
O ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias admitiu ontem que o governo brasileiro pode ter errado no prazo do envio dos documentos sobre a saúde do rebanho nacional. “Pelo que o meu pessoal me informou, talvez tenhamos cometido algum atraso”. O ministro, no entanto, ressaltou que mesmo com o atraso a medida do Canadá não se justifica. O ministro negou que o Brasil vá, no momento, proibir a importação de trigo canadense como forma de retaliação. “Esse seria o pior caminho. Talvez seja a última solução para fazer valer aquilo que é um direito do Brasil”, disse.
Ontem, pela primeira vez, o ministro Celso Lafer admitiu também que a suspensão das importações de carne brasileira pelo Canadá pode ter relação com a disputa entre as fabricantes de jatos Embraer e a Bombardier. “Estamos avaliando em que medida essa decisão tem vinculação com o contencioso comercial”, disse. Ele voltou a insinuar que o clima entre Brasil e Canadá está ruim.
O ministro fez essas afirmações ao lado do chanceler do México, Jorge Castañeda, que explicou que o México não acompanhou a decisão do Canadá e dos Estados Unidos, embora integre o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), porque não importa carne do Brasil. Apesar disso, Castañeda disse que o governo mexicano está esperando as informações, que estão sendo rastreadas pelo Ministério da Agricultura, sobre a saúde do rebanho brasileiro. Segundo ele, o governo mexicano está disposto a colaborar.
Como forma de demonstrar isso, o ministro Castañeda anunciou que a Secretaria de Defesa Nacional do México encomendou três jatos modelos EMB-145, com radares, para o controle do narcotráfico, o mesmo modelo que a Embraer construiu para o sistema Sivam, de vigilância da Amazônia. A operação deve custar entre US$ 230 milhões e US$ 250 milhões, de acordo com o chanceler mexicano.
Senado quer explicações
A crise comercial entre o Brasil e o Canadá chegou ao Congresso. Ontem, o deputado Paulo Delgado (PT-MG) encaminhou ao presidente do Congresso um pedido de suspensão da análise de todas as matérias de interesse do Canadá no Legislativo. Delgado quer uma retaliação ao Canadá pelo bloqueio da compra da carne brasileira.
Já o plenário do Senado aprovou ontem a convocação dos ministros das Relações Exteriores, Celso Lafer, e da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, para explicar as providências adotadas pelo governo como reação à suspensão da importação de carne brasileira pelo Canadá
País poderá recorrer na OMC
O Brasil poderá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). A possibilidade foi levantada ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias. “Não temos nenhum caso de vaca louca no Brasil. Todos os estudos pedidos pelas autoridades daquele país foram entregues e, se eles quiserem, podem vir conferir in loco que não há casos da doença”, ressaltou o ministro, destacando que em momento algum o Brasil cogitou abrir mão de seus direitos em relação ao Canadá.
Segundo ele, o Ministério do Desenvolvimento possui o registro de todas as compras e vendas entre Brasil e Canadá, com o grau de detalhamento necessário. “Não sou partidário de atitudes truculentas. Para solucionar esse tipo de problema existe a OMC”, ressalvou.
O Ministério da Agricultura está propondo uma posição mais dura, de retaliação contra produtos canadenses. A pasta da Agricultura também está defendendo que não sejam concedidos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às empresas canadenses que venham a se interessar pela privatização de concessões de telefonia. Mas essa medida é descartada pelo Ministério do Desenvolvimento, responsável pelo banco. Ontem, o secretário-executivo do Ministério da Agricultura e ministro interino, Márcio Fortes de Almeida afirmou que a ação do governo brasileiro contra esses produtos começará a ser decidida hoje, quando o ministro Pratini de Morais (Agricultura) chega dos EUA.
fonte: O Popular/GO