Depois de sete altas seguidas, a soja fechou em leve queda na bolsa de Chicago nesta quinta-feira. O contrato para março, o mais negociado atualmente, caiu 0,06% (1 centavo de dólar), para US$ 15,4425 o bushel. A posição seguinte, para maio, cedeu 0,16% (2,50 centavos de dólar), a US$ 15,470 o bushel.
Embora a quebra de safra causada pela seca na América do Sul ainda ofereça sustentação aos preços, a falta de novidades fez com que os investidores optassem por realizar lucros. Por outro lado, a previsão de chuva para Argentina e Paraguai neste fim de semana limitou a queda, assim como a avaliação de que a safra está com bom andamento no Centro-Norte do Brasil, o que deve compensar parte das perdas ocorridas no Sul.
Independentemente da correção no pregão de hoje, os fundamentos devem continuar a pesar sobre os preços. A persistente seca que atinge o Sul do país, a Argentina e o Paraguai, causada pelo fenômeno climático La Niña, causará quebra de safra nos três países, que são exportadores importantes — o Brasil é o maior exportador de soja do mundo.
De acordo com o Az Group, a temperatura da superfície do Pacífico Central continua abaixo da média, parâmetro fundamental para determinar a continuidade do La Niña. Dessa forma, a distribuição de umidade continuará errática na América do Sul e aumentará na Austrália.
Enquanto isso, começa-se a vislumbrar condições de chuva acima dos parâmetros normais nos Estados Unidos, e, na Europa, cresce a tendência de chuvas abaixo dos parâmetros médios no sul do continente.
Na América do Sul, fevereiro começa com tendências muito distintas para cada região. No centro e Sul do Brasil, a perspectiva é de chuvas acima da média, situação bastante diferente do que aparecia nas previsões anteriores, que indicavam um mês com pluviosidade normal.
Na Argentina, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires reduziu em 2 milhões de toneladas, para 44 milhões de toneladas, sua estimativa de produção de soja em 2021/22. O corte deveu-se à seca prolongada, que vai diminuir a produtividade média das lavouras e reduzir a área prevista de plantio.
Como consequência dessas quebras, os importadores de soja, principalmente a China, terão que intensificar as compras dos EUA. Isso, com certeza, reduzirá os estoques. “Se não houver um aumento de área nos EUA para a temporada de abril, ou se algo der errado durante o ciclo [2022/23], teremos um problema mundial”, disse Etore Barone, da StoneX, ao Valor.
Ainda nos EUA, o Departamento de Agricultura (USDA) informou que exportadores do país acertaram a venda de 1,09 milhão de toneladas de soja na semana até o dia 27 de janeiro, alta de 7% em relação à semana anterior. A maior parte (540,2 mil toneladas) foi destinada à China. Outras 881,8 mil toneladas foram negociadas para entrega em 2022/23. Os embarques de soja no período somaram 1,3 milhão de toneladas, uma queda de 17% no comparativo semanal.
O grão já acumula alta de 15% desde o começo do ano. Apesar de existirem fundamentos para sustentar mais avanços, a tendência é que os investidores do mercado de grãos operem na “defensiva” nas próximas sessões, à espera do relatório mensal de oferta e demanda do USDA. As previsões que o órgão apresentou em janeiro foram consideradas conservadoras, especialmente para a soja na América do Sul. Assim, a expectativa é de cortes mais expressivos neste mês.
O milho fechou o dia em baixa em Chicago, após os Estados Unidos divulgarem o cancelamento de uma compra expressiva da China, o que abalou a percepção da demanda pelo cereal no mercado. Com isso, o contrato para março, o mais ativo, caiu 0,92% (5,75 centavos de dólar), a US$ 6,1675 o bushel. A posição seguinte, que vence em maio, recuou 0,80% (5 centavos de dólar), a US$ 6,1725 o bushel.
Durante o pregão, o USDA anunciou o cancelamento da venda de 380 mil toneladas de milho para a China. Como o mercado costuma utilizar esses números de vendas ou cancelamentos como indicativos de demanda, essa informação pressionou as cotações, disse a AgResource.
Ainda de acordo com o USDA, na semana encerrada em 27 de janeiro, exportadores americanos fecharam contratos para a venda líquida de 1,2 milhão de toneladas de milho da safra 2021/22, uma queda de 16% na comparação semanal, mas um aumento de 47% em relação à média móvel de quatro semanas. Os embarques de milho no período somaram 1,2 milhão de toneladas, um recuo de 19%.
Por fim, o trigo caiu pela segunda sessão seguida na bolsa de Chicago. O vencimento para março, o mais negociado atualmente, recuou 0,43% (3,25 centavos de dólar), a US$ 7,5175 o bushel, e a posição seguinte, para maio, cedeu 0,36% (2,75 centavos de dólar), a US$ 7,5826 o bushel.
O cereal não encontrou fatos novos que pudessem sustentar seus preços, mas as especulações em torno de um possível conflito entre Rússia e Ucrânia continuam no radar do mercado. A Rússia é maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia, o terceiro, além de estar se tornando também importante fornecedor de milho, ocupando hoje a quarta posição global.
Em entrevista à Dow Jones Newswires, o analista russo Andrey Sizov, da SovEcon, explicou que o Mar de Azov é muito importante para as exportações russas de grãos que vão pelo Estreito de Kerch até o Mar Negro. A Rússia tem muitos terminais na região. A Ucrânia também tem alguns terminais lá, mas eles não são os mais importantes. Portanto, não seria um grande problema, do ponto de vista do mercado do trigo, se o conflito ficar concentrado.
Para o analista, o preço do trigo pode subir cerca de 20%, repetindo o que ocorreu em 2014, quando a Rússia invadiu a Crimeia. “Devo acrescentar que, na realidade, em 2014, não vimos nenhuma interrupção real dos fluxos de grãos para fora da região, apesar de haver tropas russas em território ucraniano na Crimeia”, concluiu.
Fonte: Valor Econômico.