Entendendo o florescimento dos capins
18 de maio de 2000
Perspectivas para o mercado mundial da carne no segundo semestre de 2000
2 de junho de 2000

Considerações sobre pecuária de corte no Brasil

Até poucos anos atrás, mais especificamente até a entrada do plano real, a atividade em pecuária de corte se caracterizava por forte aspecto especulativo. Tanto o investimento em terras como em animais (especulação), era a principal arma dos produtores e investidores em se defenderem das altas taxas de inflação.

Na semana do lançamento do BeefPoint queremos dar ênfase a alguns aspectos da pecuária de corte no Brasil.

Até poucos anos atrás, mais especificamente até a entrada do plano real, a atividade em pecuária de corte se caracterizava por forte aspecto especulativo. Tanto o investimento em terras como em animais (especulação), era a principal arma dos produtores e investidores em se defenderem das altas taxas de inflação. Com a drástica redução da inflação pós plano real, dois acontecimentos marcaram drásticamente a pecuária de corte no Brasil: o valor das terras caiu para níveis muito baixos; os preços dos animais, após uma alta inicial (reflexo de outros planos mal sucedidos), ficaram bastante estáveis. Nessas condições, o investimento (especulação) em terras e animais, deixou de ser rentável. A única maneira que restou para tentar ganhar dinheiro em pecuária de corte foi através da produção eficiente.

Para produzir eficientemente há necessidade de se investir em tecnologias adequadas, em sistemas bem definidos de produção, e de ser capaz de gerenciar e administrar a atividade como um todo, incluindo logicamente a comercialização.

Como consequência dos acontecimentos descritos, um grande número de pecuaristas ficou descapitalizado em função da queda do preço das terras e da diminuição da liquidez das mesmas. Ainda, como na maioria dos casos, os sistemas de produção eram empíricos, extrativistas e muito poco eficientes em gerenciamento e administração, havia necessidade de investimentos para reverter a situação tanto em termos de uso de tecnologia para produção e gerenciamento, como de escala de produção. Com a diminuição das margens de lucro, devido ao aumento de custos e pequena ou nenhuma elevação no valor dos produtos, a competitividade na eficiência de produção de gado de corte veio para ficar. Como era de se esperar, muitos saíram e muitos outros, os menos eficientes, poderão sair do negócio, pois o aumento de produção devido ao incremento em produtividade, tem sido maior que o aumento da demanda (consumo interno e exportação).

Tecnologia de produção não é um problema crucial, pois existe ainda um estoque razoável para ser economicamente incorporada aos sistemas de produção. Tecnologia para gerenciamento e administração tem evoluído rapidamente em termos de formação de pessoal e de uso de recursos de informática. Informações de mercado, graças às iniciativas de alguns pioneiros, também estão disponíveis para apoiar tomadas de decisões rápidas. Um dos principais objetivos do BeefPoint é trazer informações atualizadas para um ambiente muito ágil que é a internet para dar suporte ao maior número possível de agentes da cadeia produtiva da carne bovina para o planejamento e gerenciamento de suas atividades produtivas.

Embora competitivo, o mercado externo de carne bovina é pouquíssimo explorado, seguindo o ditado popular, nós não vendemos carne bovina no mercado externo, o mercado externo é que compra nossa carne quando precisa. Temos sido, no decorrer dos anos, exportadores eventuais e de pouco crédito tanto em termos de cumprimento de contratos (muitas vezes por decisões equivocadas de governos), como em termos de manutenção de qualidade. Mas não temos dúvidas que os principais problemas podem ser atribuídos aos próprios produtores. Todos os envolvidos sabem que tem existido muito pouca ética no relacionamento entre os agentes da cadeia produtiva de carne bovina, com o estabelecimento de concorrência desleal e altamente prejudicial aos interesses da mesma e consequentemente aos interesses de todos os seus componentes. As responsabilidades do governo só podem ser cobradas se houver união dos produtores, tanto em termos de associações representativas como de lideranças “políticas”, de fato interessados em resolver os problemas tendo em vista os interesses maiores da nação do que de grupos ou de indivíduos que se interessam apenas em tirar proveito de curto prazo. Problemas de fiscalização sanitária, uso de produtos proibidos (mesmo os não prejudiciais de acordo com Instituições Internacionais, quando usados ilegalmente por uma pequena parcela, estabelece uma competição desleal entre produtores), nível de tributação e de sua fiscalização, são potenciais estimuladores de corrupção dentro da cadeia produtiva da carne bovina. Além disso, quem não sabe quais são os principais responsáveis pelo problema da aftosa até hoje? Logicamente, não devemos esquecer o enorme esforço feito por uma, felizmente, grande maioria de participantes da cadeia, alguns verdadeiros abnegados.

Não temos dúvidas de que as soluções para os problemas da cadeia produtiva da carne bovina estão nas mãos de seus componentes. Temos certeza que eles e seus representantes sabem como resolvê-los, e sabem ou deviam saber que as soluções devem vir rapidamente por uma questão de competitividade do setor nacional com os produtores externos. Seria uma vergonha nacional, com todo o potencial de recursos naturais e humanos de que dispõe, o Brasil, não digo ser um país importador, mas deixar de ser um dos principais exportadores de carne bovina de qualidade. A cadeia produtiva da carne bovina é o maior setor de agronegócio brasileiro e portanto merece ter lideranças à altura dos interesses nacionais. Sem nenhuma dúvida de nossa parte, o Brasil tem todas as condições necessárias para se tornar um eficiente produtor de carne bovina de qualidade, e em quantidade para abastecer o mercado interno e se tornar um dos maiores abastecedores do mercado externo.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress