A turbulência sanitária animal que a Europa enfrenta, primeiro com a vaca louca, e agora com a febre aftosa, principalmente na Inglaterra, Escócia e Irlanda, pode favorecer as exportações agrícolas brasileiras. A expectativa é de Luiz Fernando Furlan, presidente do Fórum de Líderes Empresariais Gazeta Mercantil e da Sadia S.A., que acaba de chegar da Espanha, onde se encontrou com o ministro espanhol das Relações Exteriores, Josep Piqué. É o que informa reportagem de Alberto Sena, publicada hoje na Gazeta Mercantil.
Furlan disse que a crise, além de desmascarar a debilidade dos controles sanitários, comprova que os subsídios dados aos agricultores podem ser a causa principal da incidência das doenças no rebanho animal. É que a partir dos subsídios os criadores puderam intensificar a produção em quantidade, e com isso as autoridades perderam o controle sanitário. “A Europa vive hoje em estado de comoção por causa tanto da doença da vaca louca como da febre aftosa”, disse. A “comoção” a que se referiu pode ser acompanhada pelos noticiários da TV brasileira. As autoridades sanitárias inglesas interditam fazendas e vêm sacrificando dezenas de milhares de animais na tentativa de conter o avanço das doenças. O que parecia ocorrer só no terceiro mundo acontece também nos países desenvolvidos.
Por temer a disseminação das doenças por toda a Europa, autoridades sanitárias portuguesas montaram aparato a fim de resguardar os rebanhos. Toda pessoa que entra no país proveniente da Inglaterra e países próximos deve desinfectar os sapatos ao desembarcar no aeroporto. Na Inglaterra, até carros passam por desinfecção à base de soda cáustica. O presidente do Fórum pôde perceber o sentimento que se alastra pela União Européia (UE): necessidade de reforma da política agrícola. A tendência é de redução da produção e dos subsídios concedidos aos agricultores. Os médios e grandes produtores podem perder os subsídios, mantidos só para os pequenos criadores, não para o produto em si, mas para a propriedade. É o que os europeus chamam “decouplimg”.
Em outras palavras: sempre que há excesso de produção de algum item, as autoridades do setor agrícola pagam aos agricultores para não o produzirem até que haja equilíbrio de oferta no mercado. Só que, no caso dessa crise, os subsídios deverão ser concedidos às propriedades dos pequenos agricultores para que promovam melhorias nas estruturas das fazendas. Isso evita o excesso de oferta de produtos e por outro lado poderá beneficiar o Brasil e o Mercosul. Enfim, significa o coroamento dos esforços brasileiros contra os famigerados subsídios que prejudicam exportações dos países da América do Sul e geram concorrência desleal.
Na Europa, segundo Furlan, há 7 milhões de agricultores em meio a uma população de 300 milhões de pessoas. Essa massa produtora representa só 3% da população e um PIB de 3%. Refazendo as contas, percebe-se que 50% da população da União Européia, ou a maioria, acaba pagando para uma minoria produzir.
Furlan considerou a viagem à Espanha bastante produtiva. O ministro espanhol teceu comentários sobre a boa relação comercial que a Espanha mantém com o Brasil e enfatizou a necessidade de incrementar a zona de livre comércio entre União Européia e Mercosul. O ministro também falou que a Espanha tem interesse em investir mais na América do Sul e principalmente no Mercosul, que reúne Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Em contato com este jornal, por telefone, Furlan fez referência à pesquisa em curso no site do Fórum de Líderes na internet sobre a expectativa em relação à inflação deste ano no Brasil. Disse que não há a razão para que a inflação supere os 4%, apesar de certa insegurança gerada pelo dólar, que ultrapassou a casa dos R$ 2 nas últimas semanas.
(Por Alberto Sena, especial para a Gazeta Mercantil, 05/03/01)