O Valor Online traz hoje, uma reportagem assinada por Alda do Amaral Rocha, que informa que a taxação do couro tipo wet blue (semi-processado) está sendo questionada por curtumes, calçadistas e alguns frigoríficos. Ao taxar em 9% as exportações, a intenção do governo era inibir as vendas desse tipo de couro e estimular as vendas externas de produtos de maior valor agregado. Porém, os curtumes que trabalham com couro acabado estão questionando a eficácia da medida.
Os calçadistas também não vêem efeitos imediatos. A Câmara de Comércio Exterior (Camex), previu que as exportações de couros e calçados poderiam dobrar em dois anos, chegando aos US$ 3 bilhões, com a medida.
Além de dúvidas, a taxação gerou o descontentamento dos frigoríficos que comercializam couro cru e também têm curtume, onde produzem o wet blue. Segundo o presidente do Sindicato do Frio de São Paulo (Sindrifrio), Edivar Vilela, a taxação está pressionando o valor do couro cru que caiu cerca de 15% para R$ 1,71 por quilo desde que o imposto entrou em vigor, em dezembro passado.
Nem no Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) o imposto é unanimidade, diz o vice-presidente Arnaldo Frizzo Filho. A taxação foi “um mal menor”, defende ele. Mas o que o setor gostaria mesmo é que as exportações de produtos acabados fosse desoneradas. Hoje os calçados pagam 12% de imposto, e os couros semi-acabado e acabado, 6,5% para entrar na Europa.
O presidente do CICB, José Roberto Scarabel, que defende o imposto sobre o wet blue, acredita que os efeitos positivos começarão a surgir já no primeiro trimestre deste ano. Para ele serão beneficiadas inicialmente as exportações de couro semi-acabado (sem pintura e fixação). O couro acabado, que é vendido para as indústrias de calçados, bolsas e roupas, é mais sensível a questões relacionadas à moda. Dessa forma, muitas vezes, os produtores não têm tempo hábil para atender às exigências dessa indústria. Mas ele acredita que em dois a três anos, o país conseguirá aumentar sua participação em couro acabado, atendendo principalmente as indústrias de estofamento. O couro acabado é cotado a US$ 100 na exportação e o semi-acabado, a US$ 70.
Scarabel acredita que as exportações de semi-acabado, que somaram 2,130 milhões de peças até novembro de 2000, dobrarão. As de wet blue devem recuar em até 4 milhões de peças.
Segundo o diretor do Curtume Touro, Nilson Vitale, de Presidente Prudente, que trabalha com wet blue e também faz acabamento de couros e exporta cerca de 270 mil peças por ano, não é tão otimista, não há hoje demanda extra para o wet blue no mercado interno. Assim, os curtumes continuarão tendo de exportar o produto. Ele afirma ainda que será difícil exportar mais couro acabado, por conta da falta de competitividade do produto nacional.
Para os calçadistas gaúchos, a taxação não deve provocar uma redução significativa dos preços do wet blue no mercado interno. Mas eles contam com o aumento dos custos da matéria-prima para fabricantes de outros países concorrentes do Brasil, depois, da taxação, como um facilitador de suas vendas. É preciso, no entanto, reduzir outros custos para ser mais competitivo, dizem.
O vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Ricardo Würth, diz que o imposto ajuda, mas é apenas uma parte de um “conjunto” de condições que impulsionam as exportações brasileiras do setor. Segundo Würth, como “o ciclo comercial do sapato é longo”, os reflexos da taxação só devem aparecer “mais adiante”.
Por Alda do Amaral Rocha, com a colaboração de Sérgio Bueno, para Valor Online, 08/01/01