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Custos da rastreabilidade na cadeia da carne bovina

Prof. Guilherme Leite da Silva Dias

A divisão de custos da rastreabilidade na cadeia produtiva da carne bovina foi o tema central da entrevista com o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, Guilherme Leite da Silva Dias, concedida ao site BeefPoint no último dia 19. “Para garantir a rentabilidade é preciso engatar a cadeia inteira”, afirmou o professor. Para Guilherme Dias, a carne com qualidade assegurada não é garantida pela ação de uma só empresa; ela depende de um esforço conjunto e organizado ao longo da cadeia produtiva.

Guilherme Leite da Silva Dias é economista, formado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo – FEA/USP, com mestrado em Economia pela Universidade de Chicago-EUA e doutorado em Economia pela FEA/USP. Ocupou diversos cargos públicos e executivos, entre eles o de secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (1995-1997), e o de diretor presidente da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – Fipe (1993-1995). É professor titular pela FEA/USP desde 1989, e consultor externo da MB Associados.

BEEFPOINT: Qual é o impacto da rastreabilidade ao longo da cadeia de carne bovina?

GUILHERME DIAS: Não existe nenhum estudo específico sobre o impacto da rastreabilidade para a nossa cadeia. O que se analisa, por enquanto, são estudos desenvolvidos na Europa para a cadeia de carne suína. A partir daí, é possível fazer algumas analogias, mas estes estudos estão sendo desenvolvidos na Europa; no Brasil não há ainda nenhum estudo sobre os impactos.

BP: Que custos a cadeia terá que pagar?

GD: O custo na fase da comercialização, que garanta uma rentabilidade com a preservação de identidade, é muito grande. Isso é o mais preocupante. A rastreabilidade nas fazendas cria um custo, mas que não chega a ser tão grande. Agora, no momento em que o produto chega ao frigorífico, e o frigorífico desmembra a carne em vários tipos, o custo da preservação da identidade fica alto em relação à margem dos frigoríficos. Numa relação com os outros estudos, é possível dizer que se tem, nesta fase, um acréscimo de aproximadamente 10% nos custos.

BP: Este seria um fator limitante para a implantação da rastreabilidade?

GD: O custo não inviabiliza o processo, o problema é como passar isso adiante. Uma vez garantida a rastreabilidade entre o produtor agrícola que engordou o boi, e a carne desossada e comercializada, o acréscimo maior vai acontecer nesta última fase. O problema do custo da rastreabilidade está na comercialização, quando a carne é dividida em diferentes partes. Se o custo for muito grande e só o comprador final agüenta pagar por ele, então fica claro quem é que vai ter o comando sobre o processo. Coordenando e garantindo o custo do sistema, os supermercados vão exigir os padrões do grupo de certificação, estabelecendo as condições para que o produto seja aceito. Para o consumidor, a diferença no preço deve ser menor, cerca de 3 ou 4% do custo da carne. Pode-se ver que não é tão complexo que este custo seja absorvido no sistema de distribuição da carne para os consumidores. Se for bem esclarecido e souber das garantias do produto, é provável que o consumidor queira pagar essa diferença. Eu acho que isso vai ser bem recebido no Brasil.

BP: Em quanto tempo poderá ser observada uma demanda significativa por esses produtos?

GD: O “day after” da febre aftosa e da vaca louca e as brigas dos Estados Unidos com a Europa vão estabelecer os limites do processo. Isso terá ainda de ser ratificado nos organismos internacionais, para evitar acusações como a de prática comercial discriminatória. Porém, dada a relevância e a importância das dúvidas que surgiram recentemente, pode ser que isso tenha uma evolução muito rápida em dois anos.

BP: O que é necessário para que a rastreabilidade seja viável a toda a cadeia, desde o produtor até o consumidor final?

GD: A divisão de custos é um ponto fundamental para que a rastreabilidade possa ser aceita em toda a cadeia, desde o produtor até o consumidor final. O custo pode ser tal, que não serão os produtores nem os frigoríficos que irão cobri-lo. Se o supermercado é o ponto do processo que agüenta arcar com esse valor, então vai mandar na estrutura produtiva mais do que já manda hoje, fazendo todas as exigências para receber a carne. Conforme se negociam as prerrogativas – como é a certificação, como é a garantia de uma identidade genética e os outros elementos de qualidade e sanidade que existem dentro de uma regra de certificação -, pode-se diminuir os custos e mudar a forma de certificar (que tipo de exame tem que existir, que peças de amostragem devem ser guardadas, que mecanismos físicos serão usados para a identificação do animal, que tipo de arquivos os produtores têm que manter etc.). O produtor precisará saber de antemão para qual supermercado ele vai querer vender, para ter certeza de que preparou bem o animal e irá conseguir vendê-lo.

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