Francisco Barufi
Os touros consistem na categoria que apresenta maior impacto na evolução genética do rebanho, uma vez que cada animal pode produzir de vinte a cinquenta bezerros por ano, em regime de monta natural. Sistemas de monta controlada, em menor grau, mas, principalmente, a inseminação artificial pode levar a uma maior intensificação do uso dos animais que apresentem elevado potencial genético, tanto através de centrais de inseminação como a partir da colheita do sêmen na própria fazenda.
Portanto, grande cuidado deve ser tomado quando da aquisição dos reprodutores. É conveniente utilizar touros provenientes de rebanhos que se dediquem a atividades de melhoramento, a fim de conseguir, a curto prazo, a produção de bezerros de qualidade e, a longo prazo, levar a um incremento do potencial genético das fêmeas do rebanho. Touros “ponta de boiada”, originários da própria fazenda, acabam se mostrando prejudiciais, uma vez que, por um lado, não se promove a introdução de carga genética externa, provocando consangüinidade no rebanho, e por outro, não se verifica nos bezerros todo o potencial paterno (muitas das características produtivas se manifestam em heterozigose, levando a progênie a adquirir muito mais características de seus avós). É sempre bom lembrar que as mães desses touros são geralmente vacas comuns da fazenda, e que suas características acabam sendo transmitidas aos netos.
A raça dos animais que serão utilizados na propriedade é um tema bastante controverso, a respeito do qual há uma série de opiniões divergentes. Considerando, todavia, um rebanho comercial cuja base seja formada por fêmeas Nelore, podemos aventar as seguintes possibilidades:
1. Utilização de touros Nelore – É bastante adequado para promover a reposição das matrizes. Estes animais apresentam um elevado grau de adaptação ao manejo extensivo, com boa resistência à seca, à subnutrição, ao estresse térmico e aos parasitas, e tendem a apresentar uma vida útil bastante prolongada.
2. Utilização de touros zebuínos de outras raças ou raças taurinas adaptadas – Por provocar uma certa heterose, seu uso pode ser bastante conveniente. São também bastante adaptados às condições extensivas, em virtude da sua rusticidade. Entretanto, podem levar à despadronização racial do rebanho.
3. Utilização de touros de raças européias – possibilita a obtenção de bezerros mestiços Bos taurus x Bos indicus , com exploração máxima da heterose. Contudo, por sua baixa resistência, principalmente às condições climáticas e aos parasitas, acabam apresentando uma vida reprodutiva relativamente curta, e isto deve ser levado em conta no cálculo de seu custo, principalmente quando se fazem comparações em relação ao uso da inseminação artificial.
4. Utilização de touros de raças sintéticas – seu uso vem se popularizando, principalmente por provocarem um bom grau de heterose e apresentarem maior resistência do que os animais Bos taurus .
No Brasil, há várias empresas trabalhando na seleção de rebanhos para produção de touros tanto de raças zebuínas como taurinas e sintéticas, de modo que é possível adquirirem-se animais de boa procedência com avaliação genética confiável o que trará benefícios de produtividade a curto, médio e longo prazos.
Na seleção dos touros a serem adquiridos, deve-se atentar também para uma série de detalhes fenotípicos que podem espelhar parte do que será obtido em sua produção. Características como masculinidade, comprimento, profundidade, qualidade de carcaça, inclinação da garupa, espaçamento inter-costal e aparelho locomotor podem servir de guia para a seleção dos melhores animais. Além disso, é imprescindível que se faça uma boa avaliação dos genitais, levando-se em conta características como tamanho do prepúcio, circunferência escrotal e capacidade fecundante, avaliada através de um exame andrológico.
Prepúcios muito longos estão sujeitos a ferimentos, principalmente em pastagens que contenham muitas plantas invasoras, resultando em balanopostites, prejudicando ou mesmo inviabilizando o desempenho reprodutivo do animal. Com respeito à circunferência escrotal, é um aspecto fundamental, pois representa uma medição indireta do potencial de produção de espermatozóides, estando altamente correlacionado com a fertilidade, e apresenta correlações positivas com várias características produtivas e reprodutivas da progênie, principalmente fertilidade e precocidade.
A avaliação andrológica já foi abordada neste espaço. Como foi mencionado, esse exame é fundamental, devendo ser realizado de forma completa por um profissional competente. É a garantia de que o touro realmente venha a apresentar um custo/benefício satisfatório, levando à fertilização de um bom número de fêmeas.
Também devem ser analisados aspectos como o desenvolvimento em relação à idade e a ascendência. Com base nas linhagens paternas, deve-se buscar o máximo de diversificação em relação às linhagens dos animais da própria fazenda, de modo a promover uma boa renovação do plantel.
Com o correr dos anos, é muito importante realizar o acompanhamento do desempenho dos animais do rebanho, descartando-se aqueles que venham a se mostrar inaptos ou subaptos. Mais uma vez, o exame andrológico se constitui de uma ferramenta poderosíssima. Testes de libido também podem ser realizados (assunto de um próximo artigo). Além disso, o acompanhamento constante por parte dos peões da fazenda em relação ao desempenho que o animal venha a apresentar no serviço de cobertura deve ser realizado.
Uma estação de monta bem implantada, que possibilite uma boa recuperação nos períodos sem coberturas, também é fundamental para a máxima exploração do potencial dos animais. Também não pode deixar de ser lembrado que os touros devem ser mantidos em boas condições nutricionais para ter o seu desempenho maximizado.
É inegável que a inseminação artificial seja o caminho mais curto e de melhor custo/benefício para o melhoramento genético. Porém ela nem sempre pode ser implementada devido a algumas limitações. Temos obtido resultados muito satisfatórios com programas de reprodução que possibilitam a inseminação após a sincronização do estro e o repasse com touros. Como o número de touros necessários nestes programas é menor, torna-se possível um aumento da pressão de seleção. Nos próximos artigos serão abordados alguns destes programas.
Implicações
Na maioria das fazendas ainda se observa a utilização de touros em grande quantidade, sem estação de monta definida. Entretanto, isso não se reflete em bons níveis reprodutivos; pelo contrário, verificam-se taxas de natalidade entre 50 e 60%. Estratégias simples, como a implantação de uma estação de monta bem definida, a realização periódica de exames andrológicos e o acompanhamento constante da performance, com descarte dos animais improdutivos ou subférteis, podem levar a ganhos de produtividade, até mesmo com a possibilidade de se aumentar o número de fêmeas por reprodutor. A economia proporcionada pel odescarte dos animais menos aptos pode ser direcionada para a aquisição de touros de melhor qualidade.