O Brasil ganhou um espaço importante no mercado internacional de carne bovina in natura em 2000, segundo informa reportagem de Alda do Amaral Rocha, publicada hoje no Valor Online. As exportações de cortes cresceram cerca de 25% em volume sobre 1999 e 13% em receita. Já as de carne industrializada caíram 10,5% em volume e tiveram receita quase 21% menor. Os dados se baseiam no fechamento das exportações de carne bovina em 2000 da Secex, compilados pela FNP Consultoria.
Considerando a soma das exportações de carne in natura e industrializada, o volume vendido em 2000 cresceu 2,5% sobre 1999, para 553 mil toneladas (equivalente-carcaça). A receita cambial recuou menos de 1%, para US$ 755,137 milhões.
A maior oferta de produto no mercado internacional pressionou as cotações e afetou a receita total, segundo exportadores e analistas. Além disso, a desvalorização do euro diante do dólar diminuiu a competitividade da carne brasileira na Europa.
O diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Ênio Marques, destaca o aumento das vendas de cortes in natura, produto que tem maior valor. O resultado das vendas no segmento só não foi melhor devido aos preços, que chegaram a ter queda de 30% em alguns casos, diz Marques.
O avanço do Brasil em mercados antes ocupados pela Argentina, como o Chile, foi possível devido à melhoria no status sanitário do país, diz José Vicente Ferraz, da FNP. “O Brasil sempre se caracterizou como exportador de carne industrializada em razão da aftosa. Mas, em 2000, ganhou espaço na carne in natura”.
E em tempos de vaca louca, os exportadores brasileiros terão de se esforçar para manter o espaço conquistado no mercado externo. Não é consenso entre analistas que o Brasil irá se beneficiar do pânico causado pela doença na Europa. Um especialista no setor afirma que nunca viu a atual crise como um fator positivo. E ele pode ter razão. Segundo fonte de um frigorífico, as vendas para Alemanha e Inglaterra estão paradas e o faturamento da empresa já foi afetado.
José Vicente Ferraz, da FNP, acredita que “por alguns meses” as exportações serão prejudicadas, já que 65% do que o país vende de carne bovina vai para a Europa, onde o consumo caiu. Mas ele acha que o Brasil pode ser beneficiado se conseguir transmitir ao consumidor europeu que a carne nacional é segura, já que aqui o farelo de carne e osso na ração animal não é utilizado.
Apesar da estagnação nas vendas e dos recentes casos de “scrapie” (doença com sintomas similares aos da BSE) em ovelhas no Brasil, a Abiec aposta em crescimento em 2001. Segundo Ênio Marques, o país poderia exportar para mercados antes atendidos pela UE, como o Leste Europeu.
Por Alda do Amaral Rocha, para Valor Online, 24/01/01