Dante Pazzaneze Lanna1
O confinamento de bovinos no Brasil é geralmente conduzido entre maio e dezembro. Como os alimentos chegam a compor 85% dos custos de produção em um confinamento, a definição dos ingredientes e da estratégia de sua aquisição talvez seja a mais importante decisão do responsável.
Hoje existem metodologias eficientes e simples para planejar a compra dos ingredientes. Estamos falando de pequenos e práticos programas de computador que permitem ao produtor identificar quais ingredientes devem ser comprados. Estas ferramentas permitem calcular, quais os preços máximos que podem ser pagos por estes alimentos para que o confinamento tenha retorno econômico.
Os ingredientes que devem ser comprados não são nem os alimentos de maior valor nutricional, nem os alimentos de menor custo, mas sim aqueles alimentos que, uma vez misturados, vão propiciar a melhor relação custo benefício. A relação que importa é a quantidade de nutriente/unidade de custo.
Até há pouco tempo só existiam programas de custo mínimo de fácil uso para a escolha de alimentos. Recentemente foi desenvolvido na ESALQ no Laboratório de Nutrição e Crescimento Animal do Departamento de Produção Animal, uma ferramenta de trabalho, chamada de Ração de Lucro Máximo 2.0 que permite ao produtor/nutricionista/consultor identificar quais os alimentos que devem compor a sua dieta de confinamento. Na próxima semana iremos discutir como o RLM 2.0 funciona e explicar porque este programa é inovador em relação aos outros programas disponíveis.
Porém, antes de usar qualquer programa de cálculo de rações existem algumas decisões básicas de estratégia e gerenciamento que devem ser tomadas.
1. Com relação aos concentrados: a primeira grande decisão do pecuarista é se ele deve comprar todos os ingredientes no período de março/junho, durante a safra, aproveitando os preços mais baixos dos concentrados neste período. A compra antecipada envolve dois problemas: a) custo financeiro do estoque e b) estrutura física para armazenar os alimentos de forma adequada. Com o advento dos mercados de preços futuros e com alguns cálculos básicos esta decisão pode ser tomada a partir de cálculos relativamente simples.
2. Com relação ao volumoso: o planejamento de um confinamento costuma se iniciar pela decisão do tipo de volumoso a ser produzido ou, em alguns casos, comprado. Confinamentos próximos de usinas de cana e outros centros que disponibilizam volumosos podem adquirir estes alimentos, embora isto seja pouco comum e nem sempre economicamente interessante.
Geralmente é a disponibilidade de volumosos que define o número de animais que o produtor poderá trabalhar. Entretanto, o uso de dietas de alta proporção de concentrados permite que o produtor use muito menos volumoso. Estas dietas podem ser interessantes sempre que o produtor contar com grande disponibilidade de concentrados a baixo custo.
Dietas de alta proporção de concentrado e baixa proporção de volumosos podem ser utilizadas quando o produtor tem pouco volumoso e necessidade de confinar grande número de animais para aliviar a carga das suas pastagens.
3. Alimentos alternativos: Finalmente o produtor pode utilizar diversos subprodutos e resíduos da agroindústria. O uso destes alimentos é muitas vezes extremamente interessante e até mesmo necessário para viabilizar um confinamento.
Entretanto o uso destes alimentos deve ser feito com grande cautela e sempre com acompanhamento de um nutricionista animal. O uso destes alimentos não convencionais, sem adequado conhecimento das limitações, continua causando grandes prejuízos a produtores. Pode-se dizer que muitas vezes até mesmo os vendedores destes alimentos não conhecem adequadamente o seu valor nutritivo e as precauções que devem ser tomadas para seu uso.
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1. Prof. Dr. Dep. Produção Animal, ESALQ/USP