Técnicos do Ministério da Agricultura estão analisando os arquivos de importação de animais e de ração para saber se o Brasil importou ou não um lote de bovinos reprodutores da Grã-Bretanha, segundo reportagem publicada hoje no jornal O Popular/GO. O Wall Street Journal, dos Estados Unidos, informou ontem que entre 1988 e 1996 a Grã-bretanha exportou 3,2 milhões de cabeças de gado para 36 países, entre eles o Brasil. O jornal também informou que o Brasil importou 146 quilos de farinha de osso e carne em 1997, mas os documentos não indicam se o produto é derivado de aves ou bovinos.
Os temores são que os bovinos e a farinha possam ter introduzido no rebanho brasileiro a encefalopia espongiforme bovina (BSE, sigla em inglês), conhecida como doença da vaca louca. Fonte do ministério afirmou, em relação à ração animal, que o produto deve ter entrado no País como contrabando, pois nenhuma empresa faria importação de volume tão pequeno (menos de 3 sacos).
Em nota técnica divulgada pelo ministério em dezembro de 2000, o governo informou que as importações de bovinos do Rio Unido foram proibidas pelo Brasil em 1990 e que o uso de farinhas de carne e ossos de animais está proibida desde julho de 1996. Na nota, para provar a inexistência de vaca louca no Brasil, o ministério informou que o Brasil importou 179 bovinos do Reino Unido entre 1989 e 1990. Segundo o governo, técnicos do ministério estiveram na Inglaterra e constataram que em nenhum dos rebanhos dos quais foram exportados animais para o Brasil havia casos de vaca louca.
Grã-Bretanha nega venda de farelo animal
Londres – O Ministério da Agricultura da Grã-Bretanha esclareceu ontem que o país não exportou para o Brasil nenhuma quantidade de farelo animal entre 1988 e 1996. Reportagem publicada pelo Wall Street Journal revelou que o governo britânico permitiu que as indústrias de processamento de ração continuassem a exportar toneladas de farelo animal, potencialmente contaminado pela doença da vaca louca, para diversas partes do mundo.
Em 1996 o governo britânico revelou que a doença tinha ultrapassado a barreira das espécies e contaminado seres humanos. Nesse ano o país proibiu as exportações de farelo animal. Uma porta-voz do ministério da agricultura disse à reportagem que entre 1997 e 2000 o país exportou 146 quilos de ração sem risco de estar contaminada para o Brasil. Entre 1988 e 1996, foi exportado gado de elite, usado para reprodução.
Segundo ela, o número de animais enviados ao Brasil naquele período foi muito pequeno. “Por se tratar de uma pequena quantidade não temos condições neste momento de saber quantos animais foram enviados ao Brasil.” Nas estatísticas do governo britânico, as exportações para o Brasil estão agregadas com outros países, por ser em pequena quantidade. (Agência Estado)
Especialistas praticamente descartam possibilidade
A possibilidade de o Brasil ter recebido gado e ração animal da Inglaterra contaminados com o vírus da vaca louca é mínima, contrariando as suposições levantadas por matéria do Wall Street Journal de ontem. “A matéria é bastante alarmista, considerando as reais probabilidades de o Brasil ter recebido animais ou ração contaminada”, afirma José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria.
Segundo ele, a importação de gado dá-se exclusivamente para reprodução, o chamado gado de elite. “A vaca louca não é transmitida pelo sêmen do animal, mas pela ração produzida com restos animais que é utilizada como alimentação de engorda”, disse. Ferraz lembra, contudo, que esta forma de alimentação animal não é utilizada na pecuária brasileira por ser economicamente inviável. “O boi brasileiro é criado no pasto e, nos confinamentos, são utilizados alimentos como farelo de milho, soja, polpa cítrica e outros produtos abundantes no mercado interno”, disse.
Para José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria, existe um desejo grande do mercado internacional em colocar o Brasil na rota da vaca louca. “Estão querendo associar a doença da vaca louca com o Brasil mas, na prática, isso será difícil de ocorrer”, disse. Segundo ele, todas as importações de gado da Inglaterra podem ser rastreadas pela Secretaria de Comércio Exterior e os importadores podem ser identificados.
“Foram importados poucos animais. A probabilidade de estarem doentes é pequena, assim como é menor ainda a probabilidade de estes animais serem abatidos e utilizados para a produção de ração animal para alimentar outros bois”, disse.
Importação barrada
O analista Sérgio Penteado, da Hencorp Commcor, lembra, contudo, que muitos bois de elite são descartados quando envelhecem. “Como a carne está velha, geralmente são descartados para pequenos açougues, o que pode dificultar o rastreamento”, disse. Para ele, apesar de remota, existe a hipótese de que carne de bois vindos da Inglaterra tenha sido consumida dentro do País.
A importação de boi de elite da Inglaterra foi suspensa em 1990, segundo o diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec), Ênio Marques. Segundo ele, o Brasil foi um dos primeiros países a barrar a importação de animais em pé, sêmen e embriões vindos da Inglaterra.
“Toda a questão de compra de animais da Inglaterra está totalmente sob controle e bastante rastreada. O problema, agora, é fazer a mesma coisa para os bois importados da Alemanha e outros países da União Européia que também registraram casos de vaca louca”, disse. Para o assessor técnico da CNA, Paulo Sérgio Mustefaga, se o Brasil importou bovinos e ração animal da Grã-bretanha, mesmo que em quantidades pequenas, há risco de haver vaca louca no Brasil.
fonte: O Popular/GO