A intensificação da produção na pecuária de corte proporciona abate de animais mais jovens e coloca o produtor num dilema. Castrar ou não castrar?
As formas e métodos de castração têm sido estudados e discutidos. As principais razões são as perdas produtivas e o bem estar animal, que cada dia mais passa a estar envolvido nos processos produtivos. Como exemplo, pode ser citada a decisão tomada por uma das maiores redes de “fast food” do mundo, que credenciou e obrigou seus fornecedores de aves a cumprirem determinadas regras para a melhora do bem estar animal. Essas mudanças, apesar de ainda pouco expressivas, já chegaram à cadeia da carne bovina e dentro de alguns anos, os produtores deverão estruturar suas propriedades em relação a essas questões para terem seu produto aceito no mercado.
Dentre os métodos de castração hoje praticados, predominam a castração cirúrgica (à faca) e o burdizzo (esmagamento do funículo espermático). Ambos os métodos são cruentos e praticados sem a utilização de anestésico, devido à quantidade de animais manipulados e ao custo dos medicamentos.
Uma técnica promissora para substituição dos métodos atuais de castração é a imunoneutralização do GnRH, promovendo uma inibição do desenvolvimento testicular e da espermatogênese. A imunoneutralização do GnRH diminui a concentração de testosterona sérica, inibindo o desenvolvimento das características de masculinidade do animal, mas mantendo bom ganho de peso. O processo de imunoneutralização é mais eficiente quando feita antes da puberdade, sendo que machos bovinos começam a aumentar a secreção de GnRH ao redor dos 4 meses de idade. Segundo Adams et al. (1996), efeitos satisfatórios no desenvolvimento de carcaça e testicular podem ser obtidos com uma única imunização entre 4 e 12 meses de idade. Vale lembrar que entre zebuínos e taurinos há diferença da idade a puberdade, sendo os taurinos mais precoces que os zebuínos.
Cook et al. (2000) desenvolveram um experimento onde foram avaliadas caracterísiticas de carcaça e desenvolvimento testicular entre animais imunoneutralizados e animais inteiros. Os animais foram mantidos em confinamento dividido em duas fases: inicial e terminação. As imunizações foram feitas nos dias 0, 56, e 112 dias de confinamento.
As concentrações de GnRH sérico foram bem controladas através da imunização em relação aos animais controle (inteiros) (tabela 2). Em relação ao desenvolvimento escrotal, também houve uma inibição considerável (tabela 1), promovendo a diminuição da concentração de testosterona sérica, que foi diminuída em 75 % dos animais.
TABELA 1. Circunferência escrotal (cm)
TABELA 2. Concentração de testosterona sérica e titulação anti-GnRH
Os animais imunizados apresentaram testículo e epidídimo com peso inferior e menor produção de espermatozóides.
Os pesos de carcaça foram maiores para os animais controle em relação aos animais imunizados, sendo 352 e 328 Kg respectivamente (tabela 3). Essa diferença só foi observada na fase de terminação do confinamento, não havendo diferença na fase inicial. A queda de ganho de peso no período de terminação, aconteceu parcialmente devido à menor ingestão de matéria seca dos animais tratados. Já o rendimento de cortes foi praticamente idêntico, sendo 62,3% para o controle e 62,9% para o grupo imunizado. A titulação de Anti-GnRH tendeu a apresentar uma regressão linear negativa em relação a área de olho de lombo. Isso mostra que os animais tratados tenderam a um desenvolvimento de carcaça semelhante a de animais castrados. Os valores de força de cisalhamento não foram diferentes entre os tratamentos, porém houve uma regressão linear positiva entre os valores de força de cisalhamento e níveis de testosterona indicando uma tendência de carne mais macia para os animais imunizados.
Bovinos jovens imunizados contra GnRH deprimem a produção de testosterona, o desenvolvimento testicular e a espermatogênese. O desenvolvimento e as características de carcaça são semelhantes ao esperado para animais castrados, com uma tendência de melhora na maciez devido à queda da concentração sanguínea de testosterona
TABELA 3. Efeito da imunização anti-GnRH no desenvolvimento e características de carcaça
Referências bibliográficas:
ADAMS, T.E.; DALEY, C.A.; ADAMS, B.M.; SAKURAI, H. Tests function and feedlot performance of bulls actively immunized against gonadotropin-release hormone: Effect of age at immunization, J. Anim. Sci., v. 74, p. 950-954, 1996.
COOK, R.B.; POPP, J.D.; KASTEKIC, J.P.; ROBBINS, S.; HARLAND, R. The effects of active immunization against GnRH on testicular development, feedlot performance, and carcass characteristics of beef bulls, J. Anim. Sci., v. 78, p. 2778-2783, 2000.