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Índices de produtividade da pecuária de corte no Brasil. Parte 3/3
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Índices de produtividade da pecuária de corte no Brasil. Parte 2/3

Adriano Vecchiatti Lupinacci1 e Cauê Varesqui Zeferino2

Na primeira parte desse artigo foram apresentadas considerações gerais sobre a produtividade da pecuária de corte. Neste artigo vão ser considerados individualmente os diferentes parâmetros que afetam a produtividade de gado de corte.

1. Taxa de mortalidade

As taxas de mortalidade de animais, tanto em pré como em pós-desmama são bastante elevadas se comparadas com os valores aceitáveis de 4 e 2%, respectivamente, observados em sistemas eficientes de produção animal em pasto.

Da mesma maneira que se preconiza uma alta taxa de natalidade, no caso da taxa de mortalidade, busca-se minimizá-la ao máximo, de tal modo que as perdas de animais sejam mínimas, para que o retorno dos investimentos efetuados em prol desses animais (alimentação e sanidade) seja maximizado.

Considerando-se apenas os índices discutidos até esse ponto, conclui-se que para cada 100 vacas do rebanho nacional há uma produção de 55 bezerros desmamados anualmente. Logo, os investimentos (capital e mão-de-obra) associados com formação e manutenção da pastagem, mineralização e sanidade do rebanho, entre outros, são apenas parcialmente recuperados, indicando um ponto de ineficiência técnica e econômica do sistema de produção, que nesse caso apresenta uma economicidade questionável.

Ao contrário, se a pecuária apresentasse os índices zootécnicos do rebanho semelhantes àqueles mostrados na Tabela 1, relativos ao sistema de produção animal tecnificado (em pastagens), se obteria anualmente para cada 100 vacas do rebanho cerca de 76 bezerros desmamados, ou em outras palavras, um retorno bruto de aproximadamente R$ 17.800,00 com a venda desses animais ao redor dos sete meses de idade.

Figura 1

Já a idade média à primeira cria ao redor de 48 meses mostra que, na maioria dos casos, o pecuarista necessita de um maior rebanho total de fêmeas no plantel para uma mesma taxa de reposição anual de matrizes, o que em última análise resulta num maior custo anual da propriedade.

Numericamente, para uma taxa de reposição de fêmeas de 25%, num rebanho de 1.000 matrizes, seriam necessárias 250 novilhas a menos, caso a idade à primeira cria caísse de 48 para 36 meses e 500 novilhas no caso de parição aos 24 meses. Considerando um custo de manutenção de novilhas de 250 kg em pastagens, da ordem de R$100,00/novilha/ano, os gastos anuais para a manutenção de 250 novilhas no plantel excedem R$25.000,00, totalizando no mínimo R$ 100.000,00 ao final dos quatro anos até o primeiro parto (48 meses), os quais poderiam ser alocados para outros fins, como por exemplo, adubação das áreas de pastagens.

2. Intervalo entre partos

Outro ponto importante a ser relatado é o intervalo entre partos, que na média encontra-se próximo de 20 meses.

Dessa maneira, uma vaca que tem a primeira cria aos 48 meses de idade e um intervalo entre partos de 21 meses, terá gerado ao final de 135 meses apenas 5 bezerros, ao passo que se o primeiro parto ocorresse aos 36 meses e o intervalo entre partos fosse de 14 meses, ao final desses mesmos meses essa matriz teria produzido 8 bezerros.

Num rebanho de 100 vacas, isso representa um diferencial de 308 bezerros (considerando a taxa de natalidade até a desmama) ou um retorno bruto com a venda desses já desmamados de aproximadamente R$72.500,00 ao final dos 135 meses.

3. Idade de abate

Um dos mais criticados índices da pecuária de corte nacional é, sem dúvida alguma, a idade de abate dos animais, que beira os 48 meses.

Considerando que o peso de abate dos animais machos varia ao redor de 450 kg de peso vivo ou 15@, conclui-se que o ganho de peso médio diário do rebanho nacional é menor do que 290 g/dia ao longo do ano, valor esse muito abaixo do potencial genético dos animais.

Nesse sentido, se o ganho de peso médio diário fosse aumentado para 400 ou 600 g/dia, a idade de abate dos animais seria respectivamente de 3 e 2 anos.

Nessas condições, a taxa de abate do rebanho subiria significativamente, pois um maior número de animais seria abatido anualmente. Neste contexto, não há dúvidas de que o pecuarista brasileiro produzindo um maior número de bovinos e mais precoces para o abate, comercializará mais animais durante determinado período de tempo se comparado com o sistema tradicional, tendo um maior giro de capital, o que possibilita freqüentes investimentos em benefício da área de produção.

Em termos comparativos, se a taxa de abate do rebanho brasileiro se igualasse àquela observada para o rebanho norte-americano, isto é, 36% (idade média de abate menor que 3 anos), certamente o país seria o maior produtor de carne bovina do mundo.

4. Rendimento de carcaça

Entre os outros índices que são mostrados na Tabela 1, o rendimento da carcaça atual é satisfatório, sendo que incrementos pouco expressivos podem ser obtidos através do uso de raças especializadas na produção de carne.

Valores entre 55 e 59% são satisfatórios, até porque aqueles acima de 60% são difíceis de serem concebidos na prática, notadamente em grandes rebanhos comerciais.

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1engenheiro agrônomo e pós graduando em produção animal na esalq-usp
2aluno de graduação da esalq/usp

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