O ministro Celso Lafer buscará apoio da Argentina e do Uruguai na disputa comercial que o Brasil mantém com o Canadá, segundo reportagem de José Alan Dias, publicada hoje na Folha de São Paulo.
O Brasil sustenta que a decisão canadense de proibir as importações de carne bovina brasileira, devido à doença da vaca louca, não foi baseada em critérios técnicos. Para o governo brasileiro, o embargo à carne teria sido motivado como forma de represália canadense, no meio da guerra que envolve as duas companhias fabricantes de jatos.
Diante disso, Lafer declarou “Entendo que a Argentina e o Uruguai, que também são exportadores de carne, tenham interesse de que decisões como essa não sejam resultado de uma postura arbitrária, mas baseadas em rigor técnico”. O ministro argumentou que defenderá, junto aos parceiros de bloco comercial, que o Mercosul solicite nos debates sobre a Alca a inclusão de normas de fiscalização sanitária, que deveriam reger em toda a futura zona de livre comércio das Américas.
Depois do anúncio dos canadenses, seus parceiros de Nafta (EUA e México) decidiram também fechar as fronteiras. Lafer afirmou que, no atual contexto mundial, a acusação de que um país tem a doença da vaca louca é extremamente grave. O ministro afirmou também que a missão canadense que deverá chegar ao Brasil essa semana permitirá o esclarecimento completo do assunto.
Em meio ao imbróglio brasileiro com o Canadá, nem a Argentina nem o Uruguai saíram em defesa do parceiro. As declarações mais contundentes partiram da Câmara dos Exportadores de Carne da Argentina. “Com o Brasil fora do mercado, ainda que provisoriamente, haverá um jogador a menos”, disse Miguel Schiariti, presidente da entidade. Para, em seguida, emendar: “A Argentina precisa privilegiar o Mercosul. A disputa pelo mercado de carne não pode ser um elemento que vá nos separar. A única forma de conseguirmos uma boa negociação com a Alca é fortalecendo o bloco, não isolados. Podemos ter alguma vantagem no curto prazo e perder muito depois”.
Os EUA dominam as vendas no mercado mundial, com 15,7% do total, contra 7,9% do Brasil e 5% da Argentina.
Por José Alan Dias, para Folha de São Paulo, 12/02/01