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Ministro quer reverter boicote à carne bovina

O ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, vai tentar pessoalmente reverter a decisão do governo americano de suspender a importação de produtos de origem bovina procedentes do Brasil , em razão de medida semelhante adotada pelo Canadá na sexta-feira. Pratini, que já estava em Nova York, adiou a volta ao Brasil e se dirigiu ontem para Washington, onde terá hoje um encontro com a secretária de agricultura Ann Veneman para apresentar todos os dossiês sobre a situação do rebanho bovino no País.

Desde a sexta-feira, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Oliveira, está preparando com sua equipe documentos para subsidiar a argumentação brasileira nos Estados Unidos. O embaixador Rubens Barbosa já recebeu, por exemplo, documentos e notas técnicas que contam o histórico da importação de gado da Alemanha e da França, o monitoramento desses animais, as medidas sanitárias tomadas pelo País para conter a doença da vaca louca e a avaliação da qualidade do rebanho brasileiro. “Vamos brigar em Washington para mostrar que a decisão do Canadá não tem caráter nem sustentação científica”, disse Oliveira.

A decisão do governo do Canadá de proibir as importações de produtos de origem bovina procedentes do Brasil, sob a alegação de que o Brasil não prestou as informações solicitadas sobre o controle da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), mais conhecida como vaca louca no Brasil, surpreendeu o governo brasileiro. Segundo Oliveira, os técnicos de Defesa Agropecuária, além de já terem informado à Agência de Inspeção Alimentícia do Canadá, de que não há risco de propagação da doença no Brasil, vinham mantendo conversações diárias sobre o assunto com os técnicos canadenses.

O governo brasileiro enviou na noite da quinta-feira o questionário com as respostas solicitadas – dados sobre os animais importados do Reino Unido, Alemanha e França – à Agência de Inspeção Alimentícia canadense. O secretário de Defesa Agropecuária garantiu que não havia sido fixado um prazo para que as informações sobre a EEB fossem enviadas.

O secretário de Defesa disse na sexta-feira que foi informado pelos técnicos canadenses de que “a decisão de suspender as importações brasileiras estava acima da própria Agência de Inspeção Alimentícia”. Oliveira disse que a decisão é incorreta e intempestiva.”Não há vaca louca no Brasil, nós temos um protocolo declarando o País livre da EEB. Esta questão não tem nada a ver com sanidade animal”, observou.

Oliveira também informou que os técnicos da Agência de Inspeção Animal e Vegetal dos Estados Unidos (APHIS) afirmaram discordar do comportamento das autoridades canadenses. Conforme ele, esses mesmos técnicos prometeram apoiar o Brasil nas discussões que se seguirem para avaliar a sanidade da carne brasileira.

Para o Ministério da Agricultura, o fechamento desses dois mercados aos produtos brasileiro trará prejuízos incalculáveis ao País, segundo admitiu o ministro interino da Agricultura, Márcio Fortes de Almeida, na sexta-feira. Ele disse que no ano passado as exportações brasileiras de carne bovina para os Estados Unidos foram de US$ 82 milhões, com produto industrializado, e de US$ 300 mil em carne in natura. Para o Canadá, as exportações de carne industrializada foram de US$ 5,5 milhões no ano passado e de cerca de US$ 149 mil de produto in natura. Para o México, as exportações de produtos bovinos tem pouca expressão, informou.

Camex define medida de golpe baixo

O secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Roberto Giannetti, classificou de golpe baixo a atitude do governo canadense de suspender a importação de carne de boi brasileira.

O Brasil e o Canadá travam uma disputa na Organização Mundial do Comércio sobre os subsídios governamentais que são dados ao setor de aviação. Giannetti disse que vai convocar uma reunião extraordinária da Camex para avaliar o que pode ser feito para reparar possíveis danos à imagem do Brasil no exterior.

“Eles disseram que em 98 nós não enviamos informações suficientes sobre a qualidade do gado brasileiro. Mas, antes de qualquer questionamento, eles tomaram essa atitude agressiva e hostil”, afirmou.

O secretário não quis adiantar o que poderá ser feito pelo governo brasileiro, mas disse que vai pedir um histórico sobre o caso para o Ministério da Agricultura. Na sexta-feira, quando a medida canadense foi anunciada, o subsecretário de Comércio Exterior do Itamaraty, José Alfredo Graça Lima, preferiu desvinculá-la da disputa comercial no setor de aviação.

Chantagem

O deputado federal e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu, enviou nota à imprensa pedindo ao governo brasileiro providências contra retaliações comerciais adotadas pelos EUA e Canadá contra o Brasil. Dirceu classifica de chantagem a atitude dos dois países de suspenderem a importação de carne bovina e em conserva do Brasil como medida preventiva por causa da doença da vaca louca.

Segundo o deputado, as medidas são inaceitáveis e precisam ser repelidas pelo governo brasileiro como defesa à “soberania nacional”. O deputado pede aos cidadãos brasileiros que também se manifestem contra as medidas. “Podem começar, por exemplo, pelo boicote da cadeia Mc Donald’s”, afirma. Segundo ele, o Brasil não deve aceitar passivamente o protecionismo das economias mais ricas.

fonte: O Popular/GO

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