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Moral da história “vaca louca”

Evaldo Antonio Lencioni Titto

Em 05/02/01 havíamos escrito e enviado a um amigo pecuarista o texto que segue:

(Material enviado à reunião com o ministro interino da Agricultura, Marcio Fortes e lideranças pecuárias, em 05/02/01) (… antes da vinda dos técnicos da América do Norte)

“Nossos comentários:

É importante lembrar e sublinhar que cerca de 85 % dos bovinos abatidos no Brasil são terminados a PASTO e os 15 % restantes são confinados com rações à base de MILHO-GRÃO, SOJA (não transgênicos), SILAGEM DE MILHO, FENO DE GRAMÍNEAS, CANA-DE AÇÚCAR.

Somos o único país com condições de produzir carne bovina ecologicamente correta, tanto que empresários europeus já estão fazendo visitas e contatos para investir na produção de BOI ORGÂNICO.

Deveríamos formalizar um convite (AMPLAMENTE DIVULGADO EM TODA A MÍDIA INTERNACIONAL) às autoridades sanitárias, não só do bloco do NAFTA, mas de todo o mundo, para uma diligência às fazendas brasileiras de criação. A exemplo do que temos observado em nossas viagens para aqueles países em questão, certamente esses amigos poderão comprovar que nosso sistema de produção é muito mais limpo e racional que de vários países “desenvolvidos”. Isso já ocorreu algumas vezes em nossos frigoríficos, quando comparados aos europeus.

Finalmente, se alguém está na frente da fila para apresentar a Síndrome da Vaca Louca, inclui-se o Canadá, que já teve diagnóstico positivo de BSE em 1993 (OMS), e os EUA, que utilizaram farinhas animais na alimentação de ruminantes.

Acreditamos que mais uma vez o Brasil paga caro pela falta divulgação de suas vantagens e qualidades. Da mesma forma como afirmamos em conferência no X Congresso Europeu de Zootecnia, em Portugal, em novembro de 2000, para toda a Europa ouvir, que nossa FEBRE AFTOSA pode ser curada em poucos dias, e que não mata nem deixa seqüelas, não justificando toda essa represália mercadológica durante tantos anos.

Prof. Dr. Evaldo A. Lencioni Titto (FZEA-USP)
Dr. Roberto Vilhena Vieira (Progênie Consultoria)”

Voltando ao presente:

… pois bem. Agora vimos o quanto tínhamos a nosso favor, pois ainda tiraremos proveitos importantes dessa lição.

Vale ressaltar:

1. Temos um Ministério da Agricultura com setores enferrujados e um Ministro de Peso (Marcus Vinicius Pratini de Moraes mostrou ser um verdadeiro estadista, tomando a frente do impasse e defendendo à altura a pecuária de corte brasileira). Deu exemplo a diversos brasileiros de como negociar com nossos “parceiros de globalização”.

2. Precisamos aprender muito sobre comércio exterior e estamos na direção
certa.

3. Os diversos segmentos da cadeia produtiva da carne bovina evoluíram bastante nesses últimos anos, mas ainda é necessário subir muitos degraus importantes e difíceis.

4. Estamos começando a entender os interesses e as verdadeiras intenções de certos países, desde aqueles que parecem totalmente confiáveis e de repente podem
mudar de postura, àqueles que deveriam estar solidários ao Brasil e sem nenhum motivo aparente “roem a corda”.

5. Não tínhamos noção da capacidade de mobilização desse nosso povo tão heterogêneo, pacífico, alegre e bonzinho.

6. Experimentamos a real vivência de ter, além de cérebros brilhantes, um grande potencial produtivo e um futuro promissor, mas também a certeza de que temos problemas e estamos sujeitos às surpresas da natureza e às obscuridades de interesses internacionais nem sempre declaráveis.

7. Sabemos agora que precisamos aumentar nossos esforços em busca de maior e melhor produtividade, aliada à valorização de nossas mercadorias no mercado mundial, aprendendo a tramitar nos meandros dessa roda, e contando com políticos de “garra”.
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Evaldo Antonio Lencioni Titto é Professor Doutor do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo – Campus de Pirassununga
Laboratório de Biometeorologia e Etologia
E-mails:
titto@usp.br
etitto@hotmail.com
http://www.usp.br/fzea/FZEA/fzea.htm

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