Na semana passada, abordamos o assunto “voltar ou não voltar a vacinar” o rebanho bovino brasileiro do Circuito Sul. O novo e grave acontecimento do surgimento de foco de febre aftosa no Uruguai próximo à divisa com a Argentina é um alerta para o perigo que estamos correndo. Pelas informações preliminares, trata-se do mesmo vírus identificado como o responsável pelos focos que estão ocorrendo na Argentina. Portanto, é quase certeza que a contaminação teve origem na Argentina, apesar de todos os cuidados das autoridades uruguaias, da barreira física ser um rio e da pequena extensão da fronteira que separa os dois países.
No dia 16/03/01, logo após o reconhecimento de focos de febre aftosa pelas autoridades argentinas, foi colocada a seguinte pergunta aos usuários do BeefPoint: você acha que o Brasil deveria reconsiderar a possibilidade de voltar a vacinar seu rebanho contra a febre aftosa devido à ocorrência dos surtos na Argentina? A grande maioria, 75 %, respondeu positivamente. À pergunta da pesquisa da última semana sobre quem venceria o duelo, os favoráveis ou os contrários à volta da vacinação, quase 90 % responderam que seriam os favoráveis. Não dá para avaliar o impacto da notícia de 2 dias atrás, de surgimento de foco de aftosa no Uruguai, sobre o resultado dessa última pesquisa. Entretanto, não é arriscado concluir que os resultados das duas pesquisas representam a opinião da grande maioria daqueles que atuam na cadeia da carne bovina, que é voltar a vacinar. No nosso entender, a posição dos que atuam e dependem da cadeia da carne bovina é bastante lógica, pois as perdas caso venham a ocorrer focos de aftosa no circuito sul serão muito maiores do que possíveis vantagens de curto prazo de possíveis mercados importadores que só compram de regiões livres sem vacinação.
Deveria partir da própria Organização Internacional de Epizootias a recomendação ou mesmo exigência de vacinação em áreas limítrofes a áreas com o número de focos em expansão. O que vem acontecendo nos países da América do Sul, em termos de focos de aftosa, é suficiente para se pensar num programa de vacinação de todo rebanho do continente sul americano por alguns anos antes de qualquer declaração de países ou áreas livres de febre aftosa sem vacinação.
Dentro das circunstâncias atuais, cada dia que passa aumenta a probabilidade de vermos o leite derramar. Não devemos perder de vista o que ocorreu no Uruguai essa semana. É claro que torcemos para que isso não ocorra no Brasil, mas torcer é apenas uma atitude bem intencionada que não vai influenciar a probabilidade de ocorrência de focos de aftosa no sul do Brasil. Os responsáveis pela cadeia da carne bovina têm que pressionar as autoridades competentes para agirem rapidamente.