Roberto Rensi1
O início do mês de abril trouxe uma ótima notícia para a cadeia produtiva da carne bovina.
O Comitê Cientifico da União Européia enquadrou o Brasil como nível 1 em relação à doença da vaca louca. Isso significa que o risco é altamente improvável ou desprezível da doença surgir por aqui. Com este novo “status” (éramos considerados nível 2 anteriormente), nossa carne passa a ser vista com melhores olhos pelos países importadores, e nos juntamos ao mesmo grupo da Austrália, Nova Zelândia e Argentina, exportadores de relevância, que já eram enquadrados nesta categoria.
Importantes países exportadores como os Estados Unidos e Canadá são classificados como nível 2, isto é, possuem maiores chances de que a encefalopatia espongiforme venha a surgir em seus territórios.
Foram divulgados pela Secex os dados a respeito do desempenho das exportações de carne brasileira no primeiro trimestre do ano, comparativos ao mesmo período do ano passado. Nestes três primeiros meses o Brasil exportou 147.274 toneladas em equivalente carcaça (inclui carne industrializada e “in natura”), representando um aumento de 21% em volume em relação ao mesmo período do ano 2000. Em receita tivemos uma arrecadação de US$ 180,557 milhões, 11,5% a mais que no primeiro trimestre do ano passado.
Esta discrepância entre o volume exportado e as receitas obtidas sugerem que ganhamos novos mercados anteriormente abastecidos pela União Européia, como por exemplo o Leste Europeu, Oriente Médio, Extremo Oriente e mercados que também eram abastecidos pela Argentina, antes do surgimentos dos focos de aftosa neste País. Mas deixamos de exportar bastante para o nosso principal cliente, a União Européia, bloco que diminuiu drasticamente o consumo de carne bovina em função do pânico gerado pelo recrudescimento do “mal da vaca louca”, que importava carne oriunda de cortes traseiros, de maior valor.
Nossos novos clientes compram “preço” e cortes de dianteiro, de menor valor. Isso explica porque o desempenho em volume (crescimento de 21%) não foi acompanhado pela receita obtida (crescimento de 11,5%).
As exportações argentinas declinaram neste trimestre 31% em volume e 28% em receitas em relação ao mesmo período de 2000. Essa queda é atribuída à perda de importantes mercados, como os EUA, Canadá, Alemanha e Chile, em função dos focos de aftosa e da diminuição do consumo pela União Européia.
No mercado interno, o mês de abril caracterizou-se por firmeza nos preços, escalas curtas (oscilado entre 3 a 4 dias) e altas na arroba do boi na maioria das praças pecuárias, principalmente nas três primeiras semanas do mês, quando iniciou-se então uma pressão generalizada de baixa por parte dos frigoríficos, motivada pelo fraco desempenho do mercado atacadista e pelo aumento da oferta de animais em regiões onde a seca, prematuramente, fez com que a qualidade das pastagens piorasse (principalmente no Triângulo Mineiro e região Sul de Goiás).
No Estado de São Paulo, o valor da arroba, cotada em R$41,00 no início de abril, passou a valer R$42,00 no dia 5, subindo para R$42,50 no dia 12 e chegando ao seu máximo patamar de R$43,00 no dia 17. A partir do dia 24 de abril iniciou-se a pressão baixista, e a cotação da arroba recuo para R$42,50 no dia 27, estabilizando-se neste patamar. A valorização média da arroba do boi nas regiões pesquisadas no mês de abril foi de 4,5% em Reais, e de 3,6% em Dólar, em função das oscilações do câmbio.
Na última semana do mês, os abatedouros paulistas beneficiaram-se da seca de outras regiões, importando grande quantidade de animais, preenchendo assim suas escalas de abate sem ter que melhorar suas ofertas de compra dentro do Estado. Isto iria disseminar aumento das cotações em outras regiões, porque como é sabido, o valor da arroba no Brasil é balizado pelos preços de São Paulo.
No mercado atacadista, a demanda por exportação, fez com que o valor do traseiro avulso comercializado a R$3,05/kg no início do mês de abril, valoriza-se gradativamente, chegando ao pico de R$3,25/kg, com negócios esporádicos a R$3,30/kg. A partir de então, o feriado de 21 de abril atrapalhou as vendas, e começou a haver sobra de carne. Além disso, os importadores perceberam a ânsia dos frigoríficos em exportar com o câmbio extremamente favorável (o Dólar bateu o recorde na era do Real, sendo comercializado a R$2,30), e pressionaram as cotações dos cortes oriundos do traseiro para baixo. Resultado: o traseiro avulso acabou sendo cotado no final do mês a R$3,10/kg.
O final do mês nos revelou uma surpresa desagradável. Do dia 25 de abril, o Uruguai confirmou o surgimento de focos de aftosa na região de Soriano, distante em 200 km da fronteira brasileira. Esta notícia foi a gota d´água, para a discussão que vinha ocorrendo a alguns meses entre o governo do Rio Grande do Sul (favorável ao retorno das vacinações) e o Ministério da Agricultura (contra a vacinação). Como resultado; estuda-se uma estratégia para que a vacinação que irá ocorrer nas regiões fronteiriças com Argentina e o Uruguai (criação de zonas tampão), não prejudiquem os produtores com propriedades nestas áreas, nem o “status” de zona livre sem vacinação almejado pelo Estado, que poderá ser ratificado em maio pela Organização Internacional de Epizootias em Paris.
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1Graduando em zootecnista pela UNESP- BOTUCATU
Membro da equipe de colaboradores da Scot Consultoria