Chile elimina animais da Dinamarca por medo da vaca louca
8 de março de 2001
Exportações de soja triplicam em Goiás
12 de março de 2001

Oriente Médio supera UE em carne

Os números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) para janeiro confirmaram a tendência de aumento significativo nos volumes de carne bovina “in natura” embarcados para o Oriente Médio, que ultrapassou a União Européia (UE) como principal destino do produto brasileiro, segundo reportagem de José Alberto Gonçalves e Marcelo Flach, publicada hoje na Gazeta Mercantil.

O Oriente Médio comprou 6.614 toneladas de carne “in natura” em janeiro, 37% de todo o volume exportado pelo Brasil (17.581 toneladas), enquanto a UE respondeu por 34% das vendas brasileiras. Em igual mês de 2000, a relação foi inversa, com o bloco europeu importando 49% e os árabes, 18% das 9.782 toneladas embarcadas.

Foram tão intensos os negócios com países muçulmanos nos últimos dois meses de 2000 que o Irã tornou-se o maior importador de carne “in natura” do Brasil, ao comprar em janeiro US$ 7 milhões, mais de três vezes sobre mesmo mês de 2000.

O Frigorífico Bertin, maior exportador brasileiro, com sede em Lins (SP) e embarques de US$ 190 milhões em 2000, reservou em novembro sua mais nova unidade de abates, em Mozarlândia (GO), apenas para atender ao mercado do Irã.

O abatedouro foi adaptada para operar conforme as regras do ritual islâmico, que exigem uma série de cuidados na forma de degola do animal, diz o gerente de exportação do Bertin, Marco Bichieri.

Ao contrário dos contratos fechados com a UE, os negócios com os árabes são mais volumosos, mas concentrados em poucas empresas importadoras. Além disso, o Oriente Médio prefere cortes do dianteiro, mais baratos, como acém e paleta, ou carnes menos nobres do traseiro (patinho, coxão mole e lagarto).

Cortes do dianteiro são cotados a menos de US$ 2.000, baixando a US$ 1.500 a tonelada, dependendo da carne. Já o mercado europeu paga perto de US$ 6.200 pelo filé mignon, corte mais nobre do traseiro. O preço atual desse corte é quase 25% inferior à cotação praticada antes do início da onda de pânico em torno da vaca louca, iniciada em outubro.

Nas exportações do Frigorífico Mercosul, de Bagé (RS), a fatia da UE caiu de 70%, na média de outubro a dezembro (450 toneladas mensais), para 14% no início de 2001 (115 toneladas ao mês). Ao mesmo tempo, o Oriente Médio respondeu por 18% dos embarques em janeiro de 2001, mais que os 11% de dezembro. O Chile foi o principal substituto das compras européias.

O supervisor de comércio exterior do Mercosul, Gerson Henrique Dutra, diz que a tendência para os próximos meses é de a Europa retomar as compras, mas em volumes menores que os do final de 2000. Inaugurado há dois anos, o frigorífico faturou R$ 240 milhões em 2000, com 25% nas exportações.

Segundo Rodrigo Sato, gerente de exportação do frigorífico Araputanga, do Mato Grosso, nas últimas duas semanas os negócios com os árabes diminuíram. “Eles devem estar abarrotados com a carne importada em janeiro e fevereiro”, diz.

O frigorífico Araputanga, que exportou US$ 28 milhões no ano passado, vendeu ao Oriente Médio 150 a 200 toneladas mensais de carne bovina “in natura” em janeiro e fevereiro passados. No ano passado, as vendas à região asiática somaram no máximo 75 a 90 toneladas nos meses com maiores vendas.

O aumento nos volumes embarcados para o mercado árabe deverá acirrar a disputa dos frigoríficos por matéria-prima junto aos pecuaristas, diz Vicente Ferraz, diretor da FNP Consultoria & Comércio.

Contudo, o diretor da FNP diz que a ociosidade de 30% a 40% no sistema de abates de bovinos no Brasil dá folga para os frigoríficos elevarem em pouco tempo de 200 mil a 300 mil toneladas as exportações de carne, atualmente em 600 mil toneladas anuais.

(Por José Alberto Gonçalves e Marcelo Flach, para Gazeta Mercantil, 09/03/01)

Os comentários estão encerrados.